O escândalo de corrupção que envolve a Petrobras, que derrubou seu valor de mercado e seus lucros, não pesará no bolso de diretores e conselheiros. Entre abril do ano passado e março de 2015, a cúpula da companhia receberá R$ 18,523 milhões, entre salários, bônus e benefícios. O valor foi aprovado pelos acionistas, na assembléia geral extraordinária realizada em 02 de abril do ano passado. O montante também não inclui pacotes de desligamento da empresa, já que maioria dos diretores está demissionária.

O montante representa um reajuste de 25% sobre os R$ 14,846 milhões recebidos pelos gestores, entre abril de 2013 e março de 2014. Para se ter uma idéia, o percentual é quase o triplo dos 8,8% de aumento do salário mínimo, na virada de 2014 para 2015, quando passou de R$ 724 para R$ 788.

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A Petrobras não detalhou a forma como vem pagando os R$ 18,5 milhões. Essas informações costumam ser publicadas anualmente, em um documento detalhado apresentado à Comissão de Valores Mobiliários – o chamado Formulário de Referência. O último entregue pela empresa refere-se a 2013. Naquele ano, 76,6% dos vencimentos da diretoria executiva vieram de salários, férias e pró-labore; 5,2%, de benefícios diretos e indiretos; 5,6%, de participação de resultados; 5,9%, por bônus de desempenho; e 6,7%, de benefícios pós-emprego.

Já para o conselho de administração, presidido pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega, 97% dos ganhos vieram de salário, pró-labore e férias; e 3%, de benefícios diretos e indiretos.

Renúncia

Nesta quarta-feira 4, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e cinco dos sete diretores pediram demissão. O gesto surpreendeu a presidente Dilma Rousseff, que havia acertado com Graça a saída da cúpula da companhia no fim de fevereiro. Sua última missão seria apresentar um balanço auditado de 2014 (isto é, com a chancela de um auditor independente). O documento também deveria informar quanto foi desviado pelo esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato.

Graça e os cinco diretores, no entanto, decidiram precipitar sua saída, com a apresentação de suas cartas de renúncia. Agora, Dilma precisa correr para indicar uma nova diretoria até esta sexta-feira 6, quando será realizada uma reunião do conselho de administração da estatal.

Graça e sua equipe perderam sustentação política com as crescentes denúncias de corrupção na Petrobras. Embora o Ministério Público Federal e a Polícia Federal não afirmem que a atual diretoria esteja envolvida, a crise não a poupou. A situação foi agravada pela divulgação de um balanço não auditado com dois meses de atraso, referente ao terceiro trimestre. Nele, a Petrobras estima que o superfaturamento de projetos possa ter alcançado R$ 88 bilhões.

Além do esquema de corrupção, outros problemas lotaram os gabinetes dos diretores e conselheiros, nos últimos tempos: aumento das dívidas, queda dos lucros, aperto de caixa, atrasos na exploração do pré-sal, rebaixamento da nota de risco pelas agências internacionais, derretimento do valor de mercado, entre outros. Mas, com o aumento de 25% nos ganhos da direção, não foram só as dores de cabeça que cresceram no último ano.