04/02/2015 - 16:03
Um dos principais argumentos de quem defende o atual modelo de gestão da Petrobras é que a violenta perda de valor de mercado da empresa só é criticada pelos “especuladores”. Afinal, isso interessaria apenas aos “banqueiros” e às “elites”. O problema, porém, é que a desvalorização da empresa, de R$ 201 bilhões, sob a gestão de Graça Foster afeta também trabalhadores que investiram suas economias em ações da empresa, seduzidos pelo discurso de lucro líquido e certo da petroleira.
Um dos exemplos mais simples desse impacto são as perdas acumuladas pelos fundos que investem o Fundo de Garantir por Tempo de Serviço (FGTS) em ações ordinárias (PETR3) e preferenciais (PETR4) da companhia. Entre julho e agosto de 2000, uma campanha convidou as pessoas a aplicarem até 50% de seu FGTS em fundos de ações da empresa – os Fundos Mútuos de Privatização (FMP). Lembrando que o fundo de garantia não é algo da “elite”, e sim de trabalhadores com carteira assinada. Na ponta do lápis, era um bom negócio, já que, tradicionalmente, a remuneração do FGTS é baixa e chega a perder da inflação.
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Atualmente, os FMPs detêm 144,7 milhões de ações ordinárias, segundo a própria Petrobras. Com a forte queda das ações, o rendimento desses fundos está no vermelho. Um exemplo são os administrados pela Caixa Econômica Federal. O Caixa FMP FGTS Petrobras IV acumulava uma baixa de 6,096% entre janeiro e outubro do ano passado (dados mais atualizados). Já o Petrobras II recuava 6,559% no mesmo período.
Minoritários
O site de relações com investidores da Petrobras afirma que há 798.596 acionistas na empresa. A grande maioria é composta por pessoas físicas. Outro momento que atraiu o interesse de muitos indivíduos foi a emissão de ações promovida em 2010 para levantar recursos para explorar o pré-sal. O valor da operação foi o maior já obtido por uma companhia brasileira na história: R$ 120 bilhões, por meio da emissão de 2,7 bilhões de ações ordinárias e 1,9 bilhão de preferenciais.
Segundo o comunicado de encerramento da oferta, 104 mil pessoas físicas compraram papéis naquele momento, esperando que o pré-sal lhes trouxesse algum ganho. Desde então, porém, a empresa envolve-se em uma série de problemas. O maior deles é o esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal, que envolve ex-diretores, construtoras, lobistas, doleiros e políticos. Outra é o represamento do preço dos combustíveis, determinado pelo governo para não pressionar a inflação. A medida causou perdas no caixa da companhia.
Restringir o caixa no momento em que a Petrobras toca o maior plano de investimentos do País, de US$ 220 bilhões até 2018, levou a companhia a se endividar para cumpri-lo. Em decorrência, as agências de classificação de risco passaram a alertar para a deterioração das condições de pagamento e rebaixaram sua nota, corroendo ainda mais o valor das ações. O resultado do imbróglio foi o tombo do valor de mercado da empresa, na gestão de Graça: de R$ 329,9 bilhões, em fevereiro de 2012, quando assumiu, para R$ 128,9 bilhões nesta terça-feira.
Com 798.596 acionistas, isso não é apenas um assunto de “especuladores”. Ao empobrecer, a Petrobras compromete a poupança de milhares de brasileiros. Mesmo que se diga que 50,26% das ações ordinárias pertencem ao governo e é ele quem deve decidir seus rumos, fica a pergunta: e, afinal, o governo não é do povo, e para o povo?