As ações da Petrobras sempre foram um bom indicador da temperatura do mercado de capitais. Nos últimos meses, no entanto, os papéis também passaram a ser termômetro do cenário político brasileiro. Os ganhos da estatal na BM&FBovespa vêm aumentando à medida que as pesquisas eleitorais apontam uma possibilidade de um segundo turno disputado entre a presidenta Dilma Rousseff, do PT, e o senador Aécio Neves, do PSDB. Também contribuiu para essa alta uma melhora dos níveis da produção de óleo.

No primeiro semestre, o crescimento foi de 1,5%, para 2,008 milhões de barris por dia. O caminho até a média esperada pela companhia, de 7,5%, ainda é longo, assim como a caminhada da oposição até o Palácio do Planalto, mas não é impossível. Tanto é que o avanço de Aécio na pesquisa do Datafolha, em 2 de julho, logo se refletiu em uma alta de 2,2% nas ações da Petrobras, no pregão do dia seguinte. Já a pesquisa ISTOÉ/Sensus veiculada no dia 18, que mostrou um empate técnico entre os candidatos em uma eventual ida às urnas em segundo turno, em novembro, fez com que a alta chegasse a 1,85%.

Com uma valorização acumulada de 22% em julho, em comparação com um avanço de 1,52% do Ibovespa, a empresa comandada por Graça Foster chegou a ser novamente a mais valiosa da bolsa, em valor de mercado, ultrapassando a Ambev. Na terça-feira 22, a petroleira valia R$ 262,9 bilhões e a fabricante de bebidas, R$ 261,5 bilhões. A escalada de preços dos papéis – que subiram 72% desde que as ações atingiram o seu patamar mais baixo, em 17 de março –, aliada aos dados de produção, levou investidores locais e estrangeiros a uma corrida para incluir a blue chip de volta nas carteiras.

Até essa data, a situação era inversa. Os papéis recuavam 25% e haviam sido retirados dos portfólios devido à decepção em relação aos números de produção, à alavancagem financeira e à ingerência do governo sobre questões cruciais, como o preço dos combustíveis. “Os fundamentos da empresa não mudaram, o que existe agora é uma expectativa de que haja mudanças na condução da política econômica do País, com possíveis reflexos na companhia”, afirma Claudio Duhau, analista da Ativa Corretora. Prova disso foi a divulgação da pesquisa Ibope, na terça-feira 22.

Diferentemente do que vinha apresentando o Datafolha, as intenções de voto apontaram um distanciamento maior entre os candidatos da situação e da oposição. Consequentemente, as ações da estatal caíram 3,75% no pregão do dia seguinte. “Devemos ver novos movimentos de realização e de alta dos papéis, já que o sobe e desce não está relacionado apenas aos números da companhia. O grande divisor vão continuar sendo as pesquisas eleitorais”, afirma Karina Freitas, analista da Concórdia. A especulação corre solta na bolsa e é preciso cuidado na hora de investir.

“O investidor tem que ter cautela. Deve analisar se é hora de colocar o ganho no bolso ou se prefere ficar posicionado monitorando a oscilação”, diz Karina. O cenário ficará mais claro assim que a campanha política começar a ser veiculada na televisão e no rádio, no dia 19 de agosto. “É quando vamos ver a força de Aécio, Campos e outros, até porque a Dilma tem 50% do tempo na televisão”, acrescenta Karina. A recomendação de Valder Nogueira, analista do Santander, é manter o papel em carteira. É a mesma indicação de Duhau, da Ativa. Já Bruno Piagentini, da Coinvalores, indica compra e vê as ações a R$ 22.

Além das eleições, é preciso olhar com atenção os fundamentos da Petrobras. Segundo Rudimar Lorenzatto, gerente-executivo da petroleira, para atingir a meta de crescimento da produção em 7,5%, a Petrobras conta com dez novas plantas, sendo que sete já estão em operação, uma está em estágio final (P-61) e outras duas estão quase prontas. “A produção do pré-sal está crescendo de forma sustentável e mostra alta produtividade nos seus campos”, afirmou o executivo, em evento do Credit Suisse, em junho. Tanto é que Thomas Adolff, analista do banco, chamou o pré-sal de “Harvard das águas profundas”.

“Em oito anos de exploração, a produção atingiu 500 mil barris por dia. Já no Golfo do México e no Mar do Norte, demorou, respectivamente, 10 e 20 anos para atingir o mesmo volume”, afirmou o especialista, em relatório. “No entanto, parece que o mercado esperava ainda mais.” A Petrobras tem hoje o maior programa de investimentos do setor no mundo: US$ 220,6 bilhões até 2018. Para financiá-lo, a empresa busca recursos dos investidores. No primeiro semestre, emitiu R$ 800 milhões em debêntures, R$ 4 bilhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários e US$ 13,6 bilhões em operações no Exterior.

A expectativa é que sua dívida líquida alcance US$ 103,1 bilhões neste ano e US$ 120,5 bilhões em 2015, segundo o Santander. O BTG Pactual estima que o endividamento, em 2014, será de US$ 94,6 bilhões e, no ano que vem, chegará a US$ 113,7 bilhões, em uma proporção dívida sobre geração de caixa (medido pelo Ebitda) de três vezes. “A companhia ultrapassou o limite de endividamento, mas consegue encontrar alternativas porque é uma gigante do setor no mundo. As operações estão em linha com que esperávamos”, afirma Bruno Piagentini, analista da Coinvalores.