Operadores experientes de mercado costumam dizer que há uma diferença fundamental entre quem acha e quem acha mesmo: os primeiros recuam; os últimos apostam dinheiro. O tombo das ações da Petrobras, após a divulgação do balanço não auditado do terceiro trimestre, nesta quarta-feira 28, levou muita gente a se perguntar onde é o fundo do poço. Uma resposta é checar os valores dos contratos futuros de compra e venda dos papéis – as chamadas opções. As próximas vencem em 9 de fevereiro e dão uma boa idéia dos limites da variação da Petrobras, pelo menos, no curto prazo.

Por trás de todo o jargão empolado do mercado, a lógica dos contratos de opções é simples. Pense em um imóvel. Se você é rápido o suficiente para perceber uma oportunidade barata em um bairro que vai se valorizar, corre para comprar o imóvel antes e lucrar com a futura alta. Se, em vez disso, você mora em um lugar que tem tudo para desandar – falta água, por exemplo -, se apressa a vendê-lo, antes que se desvalorize mais, e tenta salvar um pouco de dinheiro.

É o mesmo princípio do mercado de futuros. Na negociação de opções, quem acredita na alta futura de uma ação fecha contratos de compra. Os pessimistas com o papel fecham contratos de venda. É a chamada briga entre “comprados” e “vendidos” do mercado. Investidores profissionais, que operam papéis toda a hora, animam a disputa. As opções têm vencimento mensal e são negociadas na BM&F Bovespa.

Tem opção

No caso das ações da Petrobras, é o valor das ações negociadas no mercado à vista que costuma ser divulgado pelos jornais e compõe o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira. Após a petroleira optar por não informar qual é o rombo causado pelo esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal (um saldo líquido de mais de R$ 60 bilhões, segundo informou preliminarmente), a cotação à vista desabou 11,21% para as ações preferenciais (PETR4), as mais negociadas, fechando a R$ 9,03 na quarta. Já as ordinárias (PETR3, com direito a voto) despencaram 10,48%, para R$ 8,63.

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As opções de compra (chamadas tecnicamente de calls) e as de venda (as puts) fornecem duas dicas: a) qual é a faixa de preço estipulada pelo mercado e b) em quais valores se está apostando mais. Para quem acredita na alta dos papéis até 9 de fevereiro, a faixa de preços vai de R$ 6,41 a R$ 11,66. Traduzindo: para quem quer lucrar com a alta dos papéis, eles “precisam” chegar ao mês que vem valendo mais que R$ 6,41 e menos que R$ 11,66. Por que? Imagine que a Petrobras continuará caindo na bolsa. Se, apesar de tudo, ela chegar a fevereiro cotada a R$ 6,42 no mercado à vista (o pregão tradicional), o investidor que tem opções de compra a R$ 6,41 fará três coisas. Primeiro, exercerá sua opção de comprar os papéis a R$ 6,41. Depois, os colocará à venda no mercado à vista por R$ 6,42, o preço em que estará sendo negociado naquele momento. Terceiro, lucrará um centavo por ação – mas já é um lucro.

Agora, imagine o contrário: as ações subiram muito entre esta quinta-feira, 29, e os primeiros dias de fevereiro, atingindo R$ 11,60 – uma alta de quase 30% sobre o último fechamento. Mesmo nesse caso, quem tem opção de comprar ações a R$ 11,66 perderia dinheiro. Isto porque ocorreriam três coisas. Se o investidor exercesse seu direito de comprar ações a R$ 11,66, teria que vendê-las no mercado à vista por R$ 11,60 – e teria um prejuízo de 6 centavos por ação. Não seria um bom negócio.

Na baixa

Esta é a faixa de preços que está sendo negociada – algo amplo, que vai desde queda até alta, em relação ao valor atual. Mas em que valores o mercado concentra suas apostas? Há 6.618 contratos que adotam, como preço de referência, R$ 8,61. Ou seja, são investidores que não acreditam que a cotação da Petrobras desça além desse valor.

E quem está pessimista, aposta na baixa dos papéis e tem opções de venda, as puts? A faixa de preço também vai de R$ 6,41 até R$ 11,66. Só que, neste caso, o raciocínio é diferente. Esses investidores “precisam” que a ação da Petrobras esteja valendo menos que R$ 6,41 e não ultrapasse R$ 11,66. Isto porque há três passos para que haja lucro. O primeiro é que esse investidor compre, no mercado à vista, ações com o valor de até R$ 6,40. O segundo é obrigar a pessoa com quem fechou o contrato de put a comprá-las por R$ 6,41 (sim, ele pode fazer isso, por contrato). O terceiro é ter um lucro de um centavo por papel. Se o papel estiver cotado, por exemplo, a R$ 6,42 no pregão à vista, o investidor tomaria um prejuízo de um centavo, pois estaria comprando algo mais caro e revendendo por um valor menor. O mesmo raciocínio vale para o teto de R$ 11,66 da faixa.

E onde se concentram as apostas de quem está pessimista? A maior quantidade, 1.007 contratos, usa o preço de referência de R$ 8,61. Ou seja, são investidores que acreditam que os papéis vão cair abaixo dessa cifra. Assim, poderão comprá-los por um valor menor, revendê-los por esse preço e embolsar algum lucro. Como também se diz no mercado, investidor bom é aquele que sempre tem opção para ganhar dinheiro.