23/08/2025 - 8:58
Afretada pela Petrobras, a sonda de perfuração NS-42, que chegou ao bloco FZA-M-59, em águas profundas do Amapá, na noite de segunda-feira, 18, será utilizada durante a Avaliação Pré-Operacional (APO), que tem início previsto para este domingo, 24 de agosto.
A APO nada mais é que a última etapa do processo de licenciamento ambiental para perfuração de poço no bloco marítimo FZA-M-59, localizado a 175 quilômetros da costa do Amapá e distante mais de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas.
+ O impacto para o clima da exploração de petróleo na Foz do Amazonas
+ Ministro diz ter ‘certeza de que Ibama vai agilizar licenciamentos’ na Foz do Amazonas
Processo de licenciamento
Durante o exercício, será avaliado pelo Ibama o atendimento pela Petrobras das ações previstas nos Planos de Proteção e Atendimento à Fauna e no Plano de Emergência. Por meio da simulação de uma ação de resposta a um acidente, o órgão avaliará aspectos como a eficiência dos equipamentos, agilidade, cumprimento dos tempos de atendimento à fauna previstos e comunicação com autoridades e partes interessadas.
A medida vai envolver mais de 400 pessoas e contará com recursos logísticos como embarcações de grande porte, helicópteros e a própria sonda de perfuração NS-42, que será posicionada no local onde o poço será perfurado, segundo a Petrobras.
Por meio da APO, a Petrobras será capaz de demonstrar sua capacidade e tem como possibilidade estar habilitada para receber a licença para perfuração do poço. Esse procedimento é semelhante ao realizado, em 2023, no offshore do Rio Grande do Norte, antes da licença de perfuração dos poços Pitu Oeste e Anhangá.
“Atuaremos nesse simulado com os rigorosos protocolos de segurança e prontidão que praticamos em todas as atividades da Petrobras. Estamos levando para o Amapá a maior estrutura de resposta a ocorrências já mobilizada pela companhia. A confirmação da existência de petróleo na Margem Equatorial poderá abrir uma importante fronteira energética para o país, que se desenvolverá de forma integrada com outras fontes de energia e contribuirá para que o processo de transição energética ocorra de forma justa, segura e sustentável”, afirma a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, à imprensa.
Batalha é diária até furar o primeiro poço na Margem Equatorial
A diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos, definiu como uma “luta diária” a obtenção da autorização para explorar o primeiro poço no processo de licenciamento do bloco FZA-M-59, na Margem Equatorial.
“Nossa batalha é diária até conseguirmos furar o primeiro poço na Margem Equatorial. Quero deixar mensagem importante para a sociedade: temos um histórico de perfurações no Estado do Amapá sem nenhum acidente. Esse novo poço está a 500 quilômetros da Foz do Amazonas. As correntes marinhas são paralelas à costa. Há um conjunto de questões que evitam que os manguezais sejam afetados num eventual acidente”, enfatizou a diretora.
A estatal tem reiterado que entregou para o Ibama o maior plano de emergência individual da indústria do petróleo em águas profundas no mundo.

50 novos poços
A executiva ressaltou que o atual estágio da produção brasileira de petróleo “não permite que haja estaleiros vazios no País”.
“Temos um portfólio exploratório com mais 50 novos poços para o período de cinco anos do atual plano estratégico 2025-29. Já tivemos três descobertas esse ano. Isso mostra que temos vigor para novas plataformas e que há um mar potencial de oportunidades onde a parceria com a indústria naval é absolutamente necessária.”
O que move e o que barra a cruzada de Lula pelo ‘novo pré-sal’
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já enfatizou a importância para o governo de que a Petrobras obtenha a licença ambiental para realizar estudos de exploração de petróleo na Margem Equatorial, região com 16 poços em uma área que se estende pela costa de seis estados.
“Nós precisamos autorizar que a Petrobras faça pesquisa [na Margem Equatorial], é isso que queremos. Se depois vamos explorar é outra discussão, o que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, e parece que é um órgão contra o governo”, disse o petista em entrevista no início do ano.
O passado explica
O presidente comprou uma briga que já era travada pelos ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, e pela própria petroleira, que classifica o projeto como o “novo pré-sal”, em alusão à descoberta que alavancou a indústria brasileira de combustíveis às vésperas da reeleição deste mesmo Lula, em 2006.
A comparação ajuda a explicar o desejo do petista. Nos últimos anos, a economia registrou indicadores de pleno emprego e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), mas o governo vê sua popularidade em baixa.
O potencial assombra
Pressionado pelo que vislumbra, Lula vê na Margem Equatorial a perspectiva de exploração de 10 bilhões de barris de petróleo, uma cadeia de criação de até 350 mil empregos e uma oportunidade sólida de atrair investimentos estrangeiros, conforme projeções do Ministério de Minas e Energia.
Mapa da Petrobras mostra a região de bacias na foz do Amazonas (região superior)
Mais do que isso, o Planalto encara a possibilidade de evitar nova fadiga. A pasta projeta que, com o bolsão atual de reservas, o Brasil corre risco de voltar a ser um importador de petróleo entre 2036 e 2039, cenário que afasta investidores e restringe o poderio econômico do país no cenário internacional.
À IstoÉ, o diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, disse haver uma justificativa clara para a mobilização do governo pela exploração e considerou o Ministério de Minas e Energia correto ao tratar a região como o “novo pré-sal”. E Lula, como já se ouviu, não nega o desejo de entregar um governo que seja um “espelho melhorado” de seu primeiro.
A coisa não anda
Mas há um obstáculo. O Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) já indeferiu pedidos da Petrobras para prosseguir com os estudos de viabilidade em razão dos riscos embutidos à biodiversidade da Margem Equatorial.
Segundo o Observatório do Clima, a região abriga um ecossistema recifal formado por rodolitos, bancos de algas carbonáticas existentes em outras regiões do Atlântico Sul, que servem de habitat para peixes e outras criaturas marítimas. Publicações científicas apontaram que o recife está vivo e é essencial para a reprodução e alimentação de animais típicos — e comercializados — no Norte.
Carlos Bocuhy, presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), afirmou à IstoÉ que o avanço de estudos exploratórios “impacta não só pela extração, mas pela geração de gases efeito estufa que provocam o aquecimento global”. A avaliação para isso deve “obedecer aos critérios de segurança ambiental e se reportar à mesma alternativa locacional, uma região com sistema ecológico frágil“, concluiu.
Nesta linha se posiciona o Ibama, à revelia do Executivo. Para Adriano Pires, há uma “ideologia que demoniza o petróleo” e “um certo ambientalismo xiita” na resistência ao aval.
Ex-presidente da autarquia e coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo disse à IstoÉ que a negativa não tem razões políticas, visto que a equipe de licenciamento do órgão é “preparada tecnicamente e já concedeu mais de duas mil licenças de perfuração”.
“Cabe questionar as razões de a Petrobras demorar anos para cumprir as exigências que a empresa sabe que são necessárias em um processo desse tipo”, prosseguiu. A petroleira, por sua vez, argumentou que fez e entregou ao Ibama os resultados de estudos de identificação dos possíveis impactos ambientais e se propôs a promover medidas de mitigação, controle e monitoramento dos impactos da atividade.
Com informações de Estadão Conteúdo*