RIO DE JANEIRO (Reuters) – O número de mortos pelas fortes chuvas que causaram alagamentos, desmoronamentos e deslizamentos de terra em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, chegou nesta segunda-feira a 181, de acordo com a Defesa Civil, e o total deve aumentar, já que as equipes de resgate ainda buscam 110 desaparecidos.

O prejuízo causado ao setor industrial da cidade pela chuva da semana passada foi estimado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) em 665 milhões de reais, algo equivalente a 2% do PIB municipal.

A situação de moradores que ainda aguardavam informações sobre parentes e amigos desaparecidos era descrita como um pesadelo. Diversas pessoas perderam vários membros da família após a devastação provocada pela chuva, com casas destruídas e entulho espalhado pelas ruas.

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“Moro aqui há 16 anos. Perdi minha mãe de 83 anos, uma sobrinha de 13 anos, uma de 11 e um sobrinho de 6 anos. Essa sobrinha de 13 ainda está soterrada. Estou vivendo um pesadelo”, disse Iva Machado, de 62 anos, moradora do Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra, um dos mais castigados pelo temporal.

Nessa comunidade, a estimativa é que mais de 50 casas foram destruídas, e ainda há várias pessoas desaparecidas.

“Não tenho condição de morar aqui de novo. Meu emocional e meu psicológico não aguentam. Não tenho para onde ir. Minha casa não foi atingida, mas têm pedras que podem rolar e estamos em pânico. Depois disso tudo, me tornei uma morta-viva”, acrescentou.

As sirenes de alerta em locais mais vulneráveis da cidade voltaram a soar nesta segunda-feira diante da perspectiva de chuva forte nas próximas horas. “Quem está em local de risco, por favor, não fique em casa”, disse o secretário estadual da Defesa Civil, coronel Leandro Monteiro.

Diante da magnitude da tragédia, o governo do Estado do Rio recebeu ajuda de outros locais para auxiliar nos trabalhos de resgate das vítimas. Membros dos Corpos de Bombeiros de Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Santa Catarina e São Paulo atuam na cidade em conjunto com os bombeiros fluminenses, usando cães farejadores para auxiliar nas buscas.

Nos próximos dias, bombeiros do Paraná, Tocantins, Sergipe, Paraíba, Distrito Federal, Mato Grosso, Alagoas e Rio Grande do Sul também devem chegar à cidade para reforçar os trabalhos.

Desde a tragédia, um exército de voluntários invadiu a cidade para ajudar nas operações de busca e salvamento. Em alguns locais, eles chegaram antes dos militares da defesa civil. Mas a grande quantidade de pessoas de fora causou um nó no trânsito e dificultou os deslocamentos. Um grupo de voluntários usou as redes sociais para anunciar que estava deixando a cidade a pedido das autoridades.

PREJUÍZOS

Quase uma semana após a tragédia, os rastros de destruição seguem evidentes em ruas, avenidas e encostas. Ainda há uma grande quantidade de lama, árvores e postes caídos e ruas interditadas.

A Rua Teresa, um pólo de malharias e confecções, continua devastada. Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Fierj) apontou que o temporal deve representar uma perda de 665 milhões de reais, o equivalente a 2% do produto interno bruto local.

“Estamos vivendo uma tragédia humana e também econômica. Se perdeu quase 700 milhões de reais. Imaginando que Petrópolis foi atingida no seu coração, o impacto é gigantesco diante da dificuldade que já existia por conta da pandemia. Precisamos irrigar com recursos novos, capital de giro, empréstimo e postergação de passivos”, disse à Reuters o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira. A Firjan montou um centro de atendimento ao pequeno empresário na cidade.

O governo federal e o governo estadual já anunciaram medidas emergenciais para socorrer o município, e os Estados Unidos vão doar mais de 500 mil reais para aquisição de kits de higiene e limpeza para as vítimas da tragédia.