02/06/2017 - 19:56
A Polícia Federal encontrou “grande quantidade de dinheiro suspeito” em um cofre na residência do ex-presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), Nilson Martorelli. Ao todo, R$ 268.147,54 em dinheiro estavam em poder de Martorelli, alvo da Operação Panatenaico, deflagrada no dia 23 de maio.
Panatenaico mira um ex-assessor do presidente Michel Temer, Tadeu Filippeli, e os ex-governadores do DF José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PCdoB) por suposto desvio de quase R$ 1 bilhão nas obras de reforma do Estádio Mané Garrincha para a Copa 2014 – empreendimento inicialmente orçado em R$ 600 milhões custou ao Tesouro R$ 1,57 bilhão. As buscas – e o decreto de prisão do ex-assessor de Temer e dos ex-governadores – foram autorizadas pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília.
Na quinta-feira, 1, o magistrado mandou executar buscas complementares na sede da Novacap, especificamente nas salas que foram ocupadas por Martorelli e pela engenheira da empresa, Maruska Lima de Souza Holanda, ex-diretora da Obras da Novacap.
Nessa última decisão, Vallisney reproduz informação da Polícia Federal relativa à apreensão do dinheiro no cofre do ex-presidente da Novacap. “Não condiz com a sua condição de ex-servidor público, desempregado há mais de dois anos, conforme salientado pela autoridade policial”, destacou Vallisney.
O juiz assinalou, ainda, que foram encontradas planilhas na residência de Martorelli “fazendo referência a valores que totalizam quinhentos mil reais, o que coincide com a possível propina cobrada pelo mesmo para a realização de um dos aditivos da obra do Estádio Mané Garrincha”.
Panatenaico tem origem nas delações premiadas de dois executivos da empreiteira Andrade Gutierrez. Um deles, Rodrigo Leite Vieira, declarou ter pago propina de R$ 500 mil ao ex-executivo da Novacap.
“Agora, após o cumprimento das primeiras buscas e apreensões, surgiu a necessidade de realização de novas buscas e apreensões, objetivando fortalecer os elementos probatórios da participação de Maruska Lima de Souza Holanda e Nilson Martorelli”, observou o juiz, amparado na informação da PF sobre apreensão de pen drives na residência da engenheira “contendo possível planilha de pagamento de propina, com valores vinculados à pessoa de nome Pedro”.
Vallisney destaca que Maruska “não soube explicar à autoridade policial porque a mídia contendo tais informações foi encontrada em sua residência”.
“Pedro” foi mencionado no depoimento de Rodrigo Leite – responsável pelo pagamento de propina nas obras do Mané – como sendo uma das pessoas através da qual “tal pagamento ilícito foi feito a Maruska”.
A PF encontrou, ainda, “documentos suspeitos” no veículo Mitsubishi ASX em nome da engenheira sobre a construção.
Maruska ocupou o cargo de presidente da Terracap, além de ter exercido outros cargos relevantes no governo do Distrito Federal e figurado como integrante da Comissão de Licitação que consagrou as empresas Via Engenharia e Andrade Gutierrez como vencedoras do certame das obras do Mané e única signatária da homologação e adjudicação da pré-qualificação do Consórcio.
Em sua delação, Rodrigo Leite foi taxativo ao dizer que Maruska, na condição de diretora da Novacap e depois presidente da Terracap, teria recebido valores ilícitos, tanto da Via Engenharia quanto da Gutierrez, “tudo a apontar que pode ter incorrido nos delitos de corrupção, fraude à licitação, associação ou organização criminosa e lavagem de dinheiro”.
“Verificou-se, ainda, que o investigado Nilson Martorelli, outro diretor, então presidente da Novacap e igualmente ocupante de outros cargos executivos no GDF, bastante ligado à obra, foi alvo das confissões de Rodrigo Leite Vieira de que teria, assim como ocorreu com Maruska, recebido propina durante os aditamentos contratuais da reforma do Estádio Mané Garrincha”, pontua o magistrado que deflagrou a Operação Panatenaico.
“Assim, considerando esses novos elementos probatórios encontrados nas residências de ambos os investigados, os quais exerceram relevantes cargos na Novacap no período da ocorrência dos supracitados delitos, é grande a probabilidade de que, na sede da referida empresa, existam outros elementos probatórios sobre a prática ilícita”, destacou Vallisney ao autorizar as buscas de quinta-feira, 1.
Defesa da Novacap
“A Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) confirma a presença de agentes da Polícia Federal em sua sede na manhã desta quinta-feira (1º) para recolhimento de dados necessários às investigações da Operação Panatenaico.”
“A Novacap informa que sempre colaborou e continuará colaborando com a Justiça no que for solicitada.”