14/03/2017 - 12:31
A filha do engenheiro Shinko Nakandakari, delator da Operação Lava Jato, pagou R$ 260 mil à empresa Yuny Projetos Imob, controlada pelos filhos do ex-assessor especial da Presidência da República e advogado José Yunes. O pagamento de Juliana Nakandakari para a empresa de Marcos e Marcelo Mariz de Oliveira Yunes consta de laudo de perícia criminal, da Polícia Federal. Shinko Nakandakari é apontado pelos investigadores como operador de propina da empreiteira Galvão Engenharia.
“As principais entradas foram oriundas da Galvão Engenharia da Contreras Comércio de Materiais, totalizando aproximadamente RS 1,98 milhão. As principais saídas identificadas deram-se para contas de Shinko Nakandakari (RS 924 mil), Yuny Projetos Imob (R$ 260 mil) e saques em espécie (RS 225 mil)”, apontou a Federal baseada em declarações de Juliana, sem informar em que ano se deu a transferência.
Amigo do presidente Michel Temer há 50 anos, José Yunes foi citado na delação premiada do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho. Segundo o executivo, o escritório de Yunes em São Paulo era um dos lugares usados para entrega de dinheiro destinado às campanhas do PMDB.
Yunes disse ter intermediado o recebimento e entrega de “um envelope” para o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em 2014. O ex-assessor relatou ter recebido o doleiro Lúcio Funaro, apontado por investigadores da Lava Jato como operador de propinas do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Funaro foi preso em junho de 2016 na Operação Sépsis, da Polícia Federal. Eduardo Cunha está preso desde o dia 19 de outubro do ano passado.
O documento da PF sobre as contas da família Nakandakari foi elaborado em 22 de dezembro de 2016 e anexado aos autos da Lava Jato em 27 de janeiro deste ano. Foram analisadas as contas bancárias de Juliana Nakandakari, seu irmão Luis Fernando Nakandakari, seu pai Shinko e de Lia Maura Tiemi Sendai Nakandakari.
Nas contas de Luis Fernando Nakandakari, a PF identificou que “a principal origem dos recursos do investigado foram resgates de aplicações financeiras existentes antes do início do período do afastamento do sigilo bancário (líquido de R$ 4,6 milhões)”. A principal saída foi destinada ao pai, RS 2,3 milhões.
Os objetivos doa laudo eram “relacionar as contas bancárias existentes para cada investigado”, “relacionar débitos e créditos das contas”, “relacionar os principais destinos origens do numerário que transitou pelas contas dos investigados”, “identificar eventuais depósitos feitos pelas empresas Galvão Engenharia, Consórcio Rnest, EIT- Empresa Industrial Técnica, Engevix Engenharia e Contreras Empreendimentos e Construções LTDA”.
A PF relacionou os débitos e créditos nas contas da família. Entre 2013 e 2015, Juliana Nakandakari teve R$ 9.983.210,72 em créditos e R$ 9.983.665,05 em débitos. No mesmo período, Luiz Fernando Nakandakari teve R$ 10.609.085,01 em créditos e R$ 10.599.221,38 em débitos. Entre 2003 e 2014, Shinko Nakandakari fez 2498 operações: R$ 9,881.654,35 em crédito e R$ 9.882.549,40 em débito.
Além de ter sido apontado como operador de propina em nome da empreiteira Galvão Engenharia – uma das 16 empreiteiras do cartel -, Nakandakari trabalhou por 16 anos na construtora Norberto Odebrecht. Shinko foi gerente na empresa entre 1976 e 1992.
Defesas
o advogado Rogério Taffarello, que defende a família Nakandakari, informou que o pagamento em questão se refere à compra de um apartamento. A assessoria de imprensa da Yuny Incorporadora não retornou o contato feito pela reportagem.