Para a corporação, ação do deputado nos EUA, com apoio do ex-presidente, teve como objetivo pressionar o STF a desistir da ação penal do golpe. Eduardo nega interferência.A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (21/08) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelo crime de coação a autoridades, na tentativa de embaraçar a ação penal que julga a trama golpista.

A PF também acusa ambos de praticar o crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, uma vez que a articulação mirava instituições democráticas brasileiras, neste caso, o Supremo Tribunal Federal (STF).

A decisão foi tomada após a PF concluir as investigações sobre a atuação de Eduardo junto ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para retaliar o governo brasileiro e pressionar ministros do STF a desistirem da ação.

O lobby bolsonarista levou a uma série de ações da Casa Branca contra o Brasil, incluindo o tarifaço de 50% contra produtos do país e sanções financeiras contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Trump afirma abertamente que Bolsonaro é alvo de uma “caça às bruxas” e que as medidas visam impedir seu julgamento.

A corporação entende que Jair Bolsonaro e seu filho tentaram obstruir a Justiça ao instar o governo americano a interferir no processo penal brasileiro.

O pastor Silas Malafaia também foi citado no relatório. Ele foi alvo de ação de busca e apreensão nesta quarta-feira ao desembarcar no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, vindo de Lisboa.

O pastor foi proibido de deixar o país e de entrar em contato com Eduardo e Jair Bolsonaro, acusado de ter contribuído com estratégias para atrapalhar o processo penal do qual o ex-presidente é réu. Malafaia, porém, não foi indiciado.

Ação nos EUA levou a medidas cautelares

A investigação corre sob inquérito instaurado em maio, quando a PF passou a apurar a ação de Eduardo nos EUA e do ex-presidente, investigado por mandar recursos para custear as articulações de seu filho no exterior.

Segundo os agentes, Bolsonaro repassou R$ 2 milhões a Eduardo por meio da conta de sua esposa com o intuito de dar suporte a “atividades de natureza ilícita”.

Foi com base nessa acusação que, em julho, Moraes impôs medidas cautelares contra Bolsonaro com o objetivo de impedir sua fuga do país, como o uso de tornozeleira eletrônica e a apreensão de aparelho celular. O magistrado entendeu que o ex-presidente já protagonizava iniciativas para obstruir a Justiça.

No começo de agosto, o ministro determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro, ao entender que o ex-presidente violou uma de suas medidas cautelares ao participar de atos bolsonaristas por meio de videoconferência e ter tido sua fala divulgada nas redes sociais.

PF encontrou rascunho de pedido de asilo na Argentina

Em mensagens obtidas no celular de Bolsonaro, a corporação entendeu que a real intenção dos investigados ao pedir uma anistia aos condenados pelos atos do 8 de janeiro seria “obter uma condição de impunidade de Jair Bolsonaro”.

Os agentes também encontraram no celular do ex-presidente um arquivo editável sem assinatura em que constava um pedido de asilo político na Argentina para Bolsonaro. Para a PF, o documento endossa a tese de que o ex-presidente planejava fugir do país.

Em nota publicada nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro negou que sua atuação nos EUA teve objetivo de interferir em “qualquer processo em curso no Brasil”.

“Causa espanto que a Polícia Federal (PF) aponte supostos partícipes de um crime absolutamente delirante, mas não identifique os autores. Se a tese da PF é de que haveria intenção de influenciar políticas de governo, o poder de decisão não estava em minhas mãos, mas sim em autoridades americanas”, disse.

O deputado também defendeu ser “lamentoso e vergonhoso” que a PF tenha “vazado” conversas privadas entre ele e seu pai, inclusas no relatório. Algumas mensagens reveladas pela imprensa mostra brigas entre ambos após o ex-presidente ter dito em entrevista que o filho não é “maduro”. “O objetivo é evidente: não se trata de justiça, mas de provocar desgaste político”, disse Eduardo.

Julgamento de trama golpista marcado para setembro

Bolsonaro também é réu na ação penal da trama golpista no Supremo, cujo julgamento está marcado para 2 de setembro. Serão julgados neste dia os denunciados como integrantes do núcleo 1 na ação penal, apontados como líderes do conluio que, segundo a PF e a PGR, buscava reverter o resultado das eleições de 2022 e culminou nos atentados contra as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Nessa ação, eles respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, e deterioração de patrimônio tombado.

gq (OTS, Agência Brasil)