16/11/2020 - 13:57
A tecnologia do RNA mensageiro das vacinas desenvolvidas contra a covid-19 pelos laboratórios Pfizer/BioNTech e Moderna, cujos ensaios clínicos apresentaram grande eficácia, é recente e nunca havia sido testada antes. A pandemia foi uma oportunidade de ouro para colocá-la em prática.
Todas as vacinas têm o mesmo objetivo: treinar o sistema imunológico para que reconheça o coronavírus e aumente suas defesas de forma preventiva, para neutralizar o vírus real de produzir o contágio.
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As vacinas convencionais podem ser elaboradas a partir de vírus inativos (como poliomelite ou gripe), atenuados (sarampo, febre amarela) ou simplesmente proteínas chamadas antígenos (hepatite B).
Mas com a da Pfizer e seu sócio alemão BioNTech, assim como com a da americana Moderna, fitas de instruções genéticas denominadas RNA mensageiro, ou seja, a molécula que diz às nossas células o que fazer, são injetadas no corpo.
Cada célula é uma minifábrica de proteínas, de acordo com as instruções genéticas contidas no DNA de seu núcleo.
O RNA mensageiro da vacina é fabricado em laboratório. Através da vacina, ele é inserido no corpo e assume o controle deste maquinário para fabricar proteínas ou antígenos específicos do coronavírus: suas “espículas”, aquelas pontas tão características que ficam em sua superfície e permitem aderir-se às células humanas para penetrá-las.
Essas proteínas, inofensivas por si só, serão liberadas por nossas células após receberem as instruções da vacina, e o sistema imunológico produzirá anticorpos em resposta. Esses anticorpos permanecerão de guarda durante muito tempo – segundo se espera -, com o poder de reconhecer e neutralizar o coronavírus caso nos contagie.
Em nenhum momento o vírus SARS-CoV-2 é injetado, ou sequer inativado. O RNA não pode se integrar no genoma humano.
– Armazenamento ultrafrio –
A vantagem é que com este método não há a necessidade de cultivar um patógeno no laboratório, porque é o organismo quem executa a tarefa. É por este motivo que essas vacinas são desenvolvidas mais rapidamente. Não é preciso células ou ovos de galinha (como com as vacinas contra a gripe) para fabricá-las.
Com as vacinas de RNA, “tudo o que se precisa é a sequência” do antígeno, disse à AFP David Weissman, um imunologista que inventou uma técnica aperfeiçoada em meados da década de 2000 que moldou o caminho para esta tecnologia. Agora ele é consultor da BioNTech.
“As vacinas de RNA têm a interessante característica de poderem ser produzidas com muita facilidade e em quantidades muito grandes”, resume Daniel Floret, vice-presidente do Comitê Técnico de Vacinas da Alta Autoridade de Saúde da França.
A desvantagem é que esta vacina, envolvida em uma cápsula lipídica protetora, deve ser armazenada a uma temperatura muito baixa porque o RNA é frágil.
A da Pfizer exige -70 °C, uma temperatura muito mais baixa que a oferecida pelos freezers convencionais, o que obrigou o grupo a desenvolver recipientes específicos, cheios de gelo seco, para distribuir as doses.
A da Moderna é armazenada a -20 °C, o que exigirá a manutenção das temperaturas baixas desde a fábrica até as farmácias.
As vacinas de DNA, por outro lado, podem ser armazenadas a uma temperatura ambiente porque o DNA é muito resistente.
Até o momento, nenhuma vacina de DNA ou RNA foi aprovada para humanos. Existem vacinas de DNA para uso veterinário: cavalos, cachorros, salmões…
A covid-19 deu um grande impulso para essa tecnologia que, se aprovada, pode abrir o caminho para outros tratamentos.
Moderna, uma empresa de biotecnologia fundada em 2010 e que ainda não tem nenhum produto autorizado, recebeu US$ 2,5 bilhões do governo dos Estados Unidos para desenvolver a vacina e produzir 100 milhões de doses.
A BioNTech foi fundada em 2008 com a ambição, ainda vigente, de criar tratamentos contra o câncer sob medida. A Moderna desenvolve há anos vacinas contra o Zika, o vírus de Epstein-Barr (mononucleose) e o vírus respiratório sincicial (bronquiolite), o citomegalovírus (que pode apresentar um risco para eo feto), ou simplesmente contra a gripe.