É consenso entre especialistas em reputação de empresas que um dos ativos mais importantes que uma companhia possui é sua marca. Sem um nome forte, reconhecido no mercado, ninguém consegue sobreviver. No Brasil, poucas marcas tiveram uma presença tão forte no segmento de eletroeletrônicos quanto a Philco.

Por isso mesmo, é curioso notar nas gôndolas de lojas e supermercados a variedade de produtos que hoje trazem estampados a palavra Philco. São micro-ondas, cafeteiras, aparelhos de karaokê e até computadores, para citar só alguns exemplos. Até pouco tempo atrás, equipamentos desse tipo não faziam parte do portfólio da grife. É mais interessante ainda o fato de esses artigos serem vendidos muitas vezes a preços mais baixos que os da concorrência, para tentar atrair consumidores das classes C e D.

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Trata-se de uma reviravolta na história da Philco, antes considerada uma marca para um público endinheirado. Uma questão está em jogo: a marca vai conseguir transferir o prestígio alcançado principalmente com televisores para outros eletrodomésticos? Ou os novos produtos, mais baratos e básicos, vão contaminar a sua imagem?

A resposta a essas perguntas vai definir o futuro da marca no Brasil. Não é de hoje que a Philco vive uma crise de identidade. A marca já esteve nas mãos da Itautec e da Gradiente, antes de ser transferida para a paranaense Britânia. Para alguns analistas, esta é sua cartada definitiva. “Não adianta pagar pelo uso de um nome forte sem fazer um trabalho de reposicionamento da marca”, diz Cláudio Tomanini, professor de marketing da Fundação Getulio Vargas.

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“Trata-se da união de uma marca antiga com produtos que ainda não têm qualidade reconhecida”, diz o professor. “Será um imenso desafio conquistar os consumidores”, afirma. Segundo Jaime Troiano, sócio da Troiano Consultoria, a Philco mantém um forte apelo junto aos brasileiros com mais de 40 anos, que cresceram assistindo a tevê em aparelhos Philco. Troiano aponta outro problema: o direito de uso da marca Philco foi comprado pela Britânia em 2007 e é justamente esta empresa que deu início à recente transformação.

Em alguns produtos, como computadores e equipamentos de som, a identificação com a antiga fabricante de tevês é mais imediata. Mas a paranaense Britânia, conhecida principalmente como fabricante de ventiladores, batedeiras e liquidificadores, tenta aproveitar a força da marca Philco para alavancar também a venda de pequenos eletrodomésticos, boa parte deles apenas montados no Brasil a partir de peças adquiridas na China. “Não é tarefa fácil”, diz Troiano.

“Essa é uma área distante da experiência da marca.” Procurada pela reportagem da DINHEIRO, a Britânia não quis se pronunciar e se recusou a fornecer informações sobre as vendas dos produtos. Uma consulta informal a duas grandes redes varejistas brasileiras constatou que os eletrodomésticos da linha Philco não estão entre os líderes de vendas.

Além da estratégia de marketing, a companhia realizou recentemente mudanças em sua estrutura de produção. Em fevereiro deste ano, a Britânia fechou sua fábrica em Camaçari, na Bahia, que funcionava desde 2003. A unidade era responsável pela produção de 1,2 milhão de eletrodomésticos por ano, principalmente ventiladores. Com o fechamento da linha, 370 trabalhadores foram demitidos.

“A Britânia transferiu parte da produção para Joinville, em Santa Catarina, e hoje responde por centenas de ações movidas por ex-funcionários”, diz Eduardo Albuquerque, diretor da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos da Bahia. Além da unidade instalada em Joinville, a empresa possui outra fábrica em São José dos Pinhais, também no Paraná. É lá que começa o esforço de recolocar a marca Philco no coração dos brasileiros.