31/05/2025 - 6:00
Com um crescimento de 1,4% no primeiro trimestre de 2025, o grande catalisador positivo para o Produto Interno Bruto (PIB) no período foi o agronegócio. O desempenho do segmento, mais uma vez, contribuiu de forma robusta para o indicador de atividade econômica – todavia, uma parte dos especialistas indica que pode ocorrer um ‘esgotamento’ desse fator nas leituras futuras.
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A visão é de que o agronegócio superou as projeções no PIB do primeiro trimestre, confirmando as boas expectativas para essa safra de grãos que venham desde 2024, na esteira de perspectivas positivas em termos de clima, plantio e produtividade.
Todavia, o agro deve ser um fator tão determinante assim somente nesse período, avalia Yihao Lin, gerente de análises econômicas da Genial Investimentos.
“O crescimento do agro, na nossa análise, ficará concentrado no primeiro trimestre. Para os próximos resultados de PIB, devemos observar um esgotamento da contribuição do setor agropecuário. A economia dependerá cada vez mais de um crescimento derivado de setores mais cíclicos, como indústria e serviços”, comenta.
Rafael Perez, economista da Suno Research, reforça que o agro foi impulsionado por condições climáticas favoráveis, ganhos de produtividade e uma safra recorde em curso.
O economista endossa a tese de um crescimento desacelerando ao longo de 2025, citando que o patamar restritivo de juros também deve ser um fator relevante.
“Apesar da forte leitura do 1T25, o quadro geral aponta para uma economia que deverá crescer menos nos próximos trimestres. O aperto monetário deve ser sentido com mais força ao longo do ano e as incertezas fiscais conjuntamente com as turbulências no cenário externo devem pesar negativamente sobre a atividade”, explica.
“Ainda assim, a combinação entre um mercado de trabalho sólido e os estímulos ao consumo e ao crédito por parte do governo devem amenizar os efeitos da política monetária, contribuindo para atenuar uma queda mais forte do PIB ao longo do ano”, completa.
Antonio Ricciardi, economista do Banco Daycoval, avalia que apesar de a leitura do primeiro trimestre ter vindo abaixo das expectativas – tanto da casa quanto do consenso -, há sinais de resiliência da economia brasileira.
“O crescimento foi puxado pelo agro, principalmente pelas culturas de soja e milho, que influenciaram tanto a produção quanto a exportadora nacional”, avalia o especialista.
O especialista observa que, para os próximos períodos, há fatores que podem impulsionar o consumo das famílias, especialmente por meio de transferências do governo.
“Entre eles, destacam-se a implementação do novo crédito consignado digital e o pagamento de precatórios previsto para julho. Esses dois movimentos tendem a estimular a demanda interna, o que pode gerar um crescimento do PIB até acima do inicialmente projetado. No cenário atual, a expectativa é de que o consumo das famílias avance 2,5% ao longo deste ano”, aponta.
Ricciardi ainda observa que o resultado do PIB no primeiro trimestre deixou um carregamento estatístico de 2,2% para o ano – que é a projeção da casa para o PIB de 2025.
“Isso não significa que esperamos crescimento zero nos próximos trimestres, mas sim que o ritmo deve ser mais moderado em relação ao início do ano. No segundo semestre, os efeitos da política monetária mais restritiva devem se intensificar, especialmente no último trimestre, que pode registrar uma variação negativa em relação ao terceiro.”
PIB é ‘copo meio cheio e meio vazio’ para o BC
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, considera que foi um ‘PIB forte’ apesar de ter vindo abaixo do esperado puxado por importações.
“É um PIB forte, mas controlado pelo otimismo com atividade pós últimos dados do mercado de trabalho torna-se agridoce a mercado”.
Sobre política monetária, a especialista avalia que a situação é mista para o Banco Central.
“Não deveria aumentar mais a probabilidade de continuidade de ciclo – quando comparado a visão pós dados do mercado de trabalho. Mas também não deveria diminuir muito: PIB é retrovisor, dá um cheiro do qualitativo”, avalia.
“E o qualitativo é de recuperação da demanda doméstica em relação ao Q4. E o prospectivo é um mercado de trabalho forte. No entanto, dado a comunicação recente do BCB continuamos vendo 14.75% até o final de 2025 como o mais provável”, completa, sobre o PIB.