03/06/2023 - 9:00
Maio fechou com índices de preços abaixo do esperado em projeções, além de sinalizar crescimento econômico do país, com o PIB (Produto Interno Bruto) tendo alta de 1,9% no primeiro trimestre do ano. Embora o país mostre sinais de aquecimento da economia e controle da inflação, o Banco Central ainda não fez grandes movimentos, mantendo a taxa básica de juros a 13,75%. Seria esse o momento de Roberto Campos Neto, presidente da instituição, afrouxar a política monetária e iniciar o ciclo de queda de juros?
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O número alegra, mas Gilberto Braga, professor do IBMEC RJ, explica que há possibilidade de inflação para cima no fim do ano. “O cenário sinaliza nesse momento um processo de queda, entretanto a inflação volta a subir no 2º semestre, tendo em vista que o IPCA deste período do ano passado, no acumulado em 12 meses, foi negativo”, alerta.
Além do PIB, os resultados dos Índices de Preços ao Consumidor – que observam o aumento geral de preços – de abril e os quinzenais e semanais de maio mostram os seguintes percentuais: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi de 0,51%, 0,06 ponto percentual abaixo da taxa de abril (0,57%); já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril teve alta de 0,61%, mas desacelerou em relação a março – 0,71%.
Finalmente, no resultado do IPC Semanal, houve também desaceleração em todas as sete capitais pesquisadas: o indicador encerrou o mês a 0,08%, ante 0,45% na terceira quadrissemana.
Renan Pieri, economista da FGV EAESP, avalia a lógica de aumento de juros para controle da inflação, defendida por Campos Neto e sem aval positivo de Lula (PT).
“Se observa uma desaceleração da inflação, até alguns indicadores trazendo deflação esse mês, o que indica que a política monetária tem surtido efeito, e que podemos ter queda da expectativa de inflação para os próximos meses. Isso pode sim permitir que o Banco Central baixe a taxa de juros no final do ano, o que já era a promessa”, explica.
Juros X inflação
“O que chama atenção é que, apesar do crescimento acima do esperado, tem um constrangimento grande por parte da política monetária que está com a taxa de juros muito elevada. Pensando na alternativa, o quanto o Brasil poderia ter crescido se tivéssemos taxas de juros mais moderadas?”, questiona André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O arcabouço fiscal, medida trabalhada pelo governo para equilibrar as contas públicas, pode reforçar essa queda de juros, segundo defende Braga; para ele, a queda da taxa é certa. “A grande discussão é se essa queda se inicia agora ou se um pouco depois, ainda nesse terceiro trimestre”, reforça, sinalizando a diminuição de 0,25%, sugerida por Simone Tebet, do Planejamento.
“A economia vem crescendo impulsionada pelo fiscal e constrangida pelo monetário. As políticas estão em sentido contrário; o esforço do governo de tentar encontrar marco fiscal que atendesse a diferentes interesses, vai no sentido de tentar desobstruir o canal da política monetária por meio da redução da Selic”, reforça Roncaglia.
Marianna Costa, economista-chefe do TC, prevê uma redução maior que as projeções, com 0,5% a menos em cada reunião do Copom, levando a Selic ao patamar de 11,75% no fim de 2023. “O BC persegue a meta inflacionária. O que ele observa agora é que há uma dinâmica ainda de inflação alta, que neste momento está perto de 4%, mas chega perto de 6% no fim do ano seguida de trajetória de queda. (…) Com o PIB um pouco mais forte do que o esperado, faz com que a essa percepção sobre uma melhora na inflação não seja tão verdadeira ou que esteja numa magnitude menor do que era esperado”, avalia.
Braga acredita também em maior crescimento do PIB para o fim do ano. “A inflação pode ser considerada hoje sob controle quando combinada com o índice de desemprego mais favoráveis, que mostram também uma estabilidade. A possibilidade de que tenhamos um PIB maior do que o projetado, muito próximo entre 2,3% e 2,5% no ano de 2023 e aprovação de medidas controle de gastos que estão no arcabouço, em apreciação no Congresso”, explica.
Nos próximos dias 20 e 21 de junho, o Comitê de Política Monetária se reúne mais uma vez para definir a taxa de juros. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, a projeção é que a Selic termine 2023 em 12,50%.
“Se não houver harmonização [entre a política monetária e fiscal], essa surpresa de crescimento vai se sustentar, principalmente para 2024. A bola está no campo do Banco Central – já existem indicadores suficientes para justificar ou sinalizar redução da Selic na reunião de agosto, com espaço para reduzir em junho”, conclui Roncaglia.