15/12/2004 - 8:00
No início da década de 80, o canadense Guy Laliberté, 45 anos, se viu diante de um dilema: concluir os estudos e depois tentar vencer na selva empresarial ? como fez o pai, um alto executivo da Alcan ? ou dar vazão à sua veia artística. Laliberté escolheu a segunda opção e se deu muito bem. Seu Cirque du Soleil é uma das mais bem-sucedidas experiências do show business mundial. Com receitas de US$ 600 milhões, a trupe que ganhou projeção mundial ao misturar acrobacia, teatro e efeitos especiais, funciona como uma verdadeira corporação. O dia-a-dia da empresa é tocado por executivos com experiência em finanças, marketing e administração. A Laliberté cabe avaliar e aprovar cada espetáculo encenado pela companhia. O mais vistoso deles chama-se KÀ (fogo em japonês) e estreou no final de novembro no MGM Grand Hotel & Casino ? luxuoso complexo de entretenimento situado em Las Vegas (EUA). A produção custou US$ 165 milhões, número maior que o total gasto em todos os shows que debutaram na Broadway (em Nova York), em 2003. A maior parcela dessa conta foi bancada pelo grupo MGM. Por um bom motivo. O Cirque atrai dois milhões de pessoas por ano para a rede. ?É uma audiência de gosto sofisticado e de elevado poder aquisitivo?, diz Robert Baldwin, presidente da divisão MGM Mirage Resort.
KÀ sintetiza os 20 anos de estrada do Cirque du Soleil e tem ainda alguns elementos adicionais. O épico teatral, que levou quatro anos para ser concebido, reúne números acrobáticos, efeitos multimídia, simulações de batalhas e de artes marciais. Tudo feito na medida certa para deixar a platéia extasiada e correr atrás de souvenirs (CDs, DVDs, canecas, posters entre outros) que garantem 20% dos ganhos do Cirque. Ao abolir diálogos, Laliberté garantiu que qualquer um no planeta pudesse entender o que se passa no palco. No quesito custo, ele também inovou. Tirou de cena leões, zebras, macacos e angariou a simpatia de defensores de animais. Por tabela, reduziu as despesas de logística e manutenção. ?Prefiro alimentar três acrobatas que um elefante?, disse em recente entrevista.
Como todo bom empresário, Laliberté sabe que um mega-sucesso não é o bastante para se manter no topo. Apesar de contar com poucos concorrentes (o Big Apple Circus é um deles) ele não descuida. Mantém cinco equipes viajando pelo mundo e outras cinco baseadas em Las Vegas e Disneylândia. Nem bem estreou KÀ e ele já tem na manga outro blockbuster. Em 2006, sua trupe encena no Mirage Casino um espetáculo em homenagem aos Beatles, orçado em US$ 140 milhões. O homem que começou a carreira engolindo fogo e andando na corda-bamba hoje é o orgulho do papai.