O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Paulo Picchetti, afirmou nesta segunda-feira, 10, que “voltamos a ter recentemente aumento do juro neutro nos Estados Unidos e na Europa”.

Segundo o diretor do BC, antes da pandemia, a tendência era de declínio da taxa de juros neutra nos EUA, em parte, pela questão demográfica de envelhecimento da população. Picchetti frisou que as estimativas de juro neutro variam muito e que a incerteza em torno delas tende a crescer em momentos de choque, como o período pós-pandemia.

Entre os vetores atuais de pressão sobre o juro neutro, o diretor citou a fragmentação política, com o aumento de investimentos de nearshoring e friendshoring. A incerteza política e as mudanças climáticas também foram elencadas.

‘Retardamento dos cortes nos EUA se transferiu para precificação dos ativos’

O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central citou que o Banco Central Europeu, embora tenha começado a cortar juros, deixou claro que esse não será o início de um ciclo contínuo e linear. Já nos Estados Unidos, os movimentos de mercado apontam para o início do ciclo de cortes no último trimestre do ano, mas ainda não é uma certeza.

Diante desse cenário, Picchetti pontuou que a taxa americana de juros é uma taxa de referência básica, com movimento de transmissão do juro não só na economia dos Estados Unidos, mas para o resto do mundo. Por isso, esse retardamento do ciclo de cortes já se transfere em precificação dos ativos globais, principalmente os de dívida soberana.

A longo prazo, disse, esse movimento de reprecificação tende a ocorrer em ativos de diversos países e o Brasil não é exceção, acrescentou. Picchetti voltou a ponderar que não existe uma relação mecânica entre o que acontece nos juros externos e na decisão de política monetária no Brasil, mas ressaltou que o movimento de reprecificação se faz sentir na relação de médio e longo prazo.