Há marcas que, de tão fortes, parecem destinadas a nascer e se perpetuar como vieram ao mundo. A italiana Pirelli, sinônimo de pneus e cabos de aço, é uma delas. Recentemente, os responsáveis pelo marketing da empresa decidiram correr numa outra estrada ? a da moda. Não é logotipo estampado nas camisas dos times de futebol. Trata-se da linha de roupas e acessórios PZero. Carro chefe do projeto, os calçados, vendidos até agora na Europa e nos EUA, renderam 35 milhões de euros à empresa em três anos. Em novembro, eles desembarcam no Brasil. Seguem, a rigor, tendência inaugurada recentemente pela concorrente, a Goodyear, que fez uma associação com a Adidas no campo de material esportivo. A fonte de inspiração são os pneus, segmento da empresa que faturou R$ 2,5 bilhões no Brasil em 2004. ?Não é à toa que o nome da grife é o mesmo da nossa linha de alta performance, a PZero?, diz Marco Tronchetti Provera, diretor de marketing da Pirelli para a América Latina e sobrinho homônimo do CEO do grupo. ?A elaboração dos tênis também resulta do casamento do design com a tecnologia?.

Na Itália, onde concorre com Prada e Gucci, já há 60 modelos, todos com solados fiéis ao estilo dos pneus. Os tênis devem chegar ao Brasil a R$ 450. ?Queremos reforçar a imagem de empresa inovadora?, afirma Paula Limena, consultora de negócios da PZero para a América Latina. Há um outro objetivo, a conquista do público feminino, mais interessado nos sapatos que em pneus. Para especialistas, entretanto, a manobra é arriscada. ?A princípio, não há extensão dos atributos
da marca ? solidez e confiança ? aos do segmento de moda ? glamour e status?,
diz Eduardo Tomiya, consultor da Interbrand. ?Misturá-los pode gerar
inconsistência?? Mas Tomiya lembra de casos que deram certo, como a Caterpillar, fabricante de tratores, que criou uma linha de botas a relógios já badalados
por gente fina e elegante.

?35 milhões foi o faturamento da Pirelli nos últimos três anos
com a venda de calçados para os mercados europeu e americano