Entrar em um mercado hiper-regulamentado, liderado por gigantes com faturamento bilionário, de difícil conquista de clientes e de complexa equação para gerar resultado não é muito convidativo. Mas esses fatores não assustaram Paulo Bittencourt, fundador e CEO do Plano Brasil Saúde, uma healthtech especializada em serviços de saúde complementar corporativa. Com experiência em gestão de hospitais e de institutos de saúde, o executivo criou a empresa em 2021, na Bahia, com uma proposta diferente da maioria dos outros players do setor. O modelo de negócio é atuar em uma medicina mais preventiva, de olho na saúde do usuário para evitar complicações e doenças que oneram a operadora.

Tem dado certo neste pouco tempo de atuação. O número de beneficiários saltou de 13 mil em 2022 para 16 mil em 2023. O faturamento teve crescimento de 104% na comparação anual, fechando o ano passado na casa dos R$ 24 milhões, com R$ 5,1 milhões de lucro.

A projeção para 2024 é alcançar 40 mil vidas e R$ 120 milhões em receita, com R$ 10 milhões no azul. “Fazemos um trabalho em que tudo é monitorado, pois 80% dos nossos custos são oriundos de 20% dos usuários. O segredo é monitorar esses 20%”, disse Bittencourt, ao apontar que os preços são, em média, 15% mais baratos do que os praticados no mercado em geral. “É bom para a pessoa que fica menos doente, bom para operadora que tem menos sinistros e custos e bom para empresa que contrata o plano porque diminuem as faltas dos funcionários e o absenteísmo”, afirmou o CEO.

O Plano Brasil Saúde tem fechado no azul, na contramão do setor. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2022 as cerca de 680 operadoras registraram prejuízo operacional R$ 12 bilhões. No acumulado de 12 meses até setembro do ano passado, era de R$ 6 bilhões negativos. Mesmo diante de 51 milhões de usuários.

“É consenso entre especialistas de que é preciso cuidar da saúde das pessoas, não das doenças. Mas ninguém coloca isso em prática”, disse Bitten, ao avaliar ainda que a visão dos hospitais conveniados é ter mais atendimento dos usuários, enquanto os planos tentam reduzir consultas, exames e procedimentos. “O sistema é complexo.”

Com 4,17 milhões de usuários, o plano Hapvida lidera o ranking no País, enquanto o Brasil Saúde chegou a 16 mil em 2023 e mira atingir 40 mil este ano (Crédito:Divulgação)

Segundo o CEO do Plano Saúde Brasil, o acompanhamento da saúde dos beneficiários e dos parceiros que compõem a rede credenciada de atendimento é fundamental para impedir custos desnecessários ou excessivos. Pelo lado dos usuários, assim que o plano é contratado é agendada uma consulta por telemedicina para avaliação inicial da pessoa. Depois disso, uma espécie de médico da família, líder de uma equipe multidisciplinar, faz um planejamento de cuidado personalizado. “Temos foco em prevenção e em atenção primária”, disse.

R$ 120 milhões
é a projeção de faturamento para este ano. O lucro deve chegar a R$ 10 milhões

R$ 12 bilhões
foi o prejuízo operacional registrado pelas 680 operadoras em 2022

 

AVANÇO

Já pelo lado das clínicas e hospitais parceiros, a companhia baiana negocia com parceiros confiáveis, mas nem sempre é possível evitar desarranjos. Recentemente, um caso de braço quebrado gerou custos de R$ 200 mil. Em outra ocasião, houve pedido do médico para liberação de órtese e prótese no valor de R$ 35 mil. O setor próprio de compra do Plano Brasil Saúde cotou em R$ 17 mil. “O grande segredo do negócio é o controle da sinistralidade, sem desperdícios, com atenção a fraudes e prestação de um serviço de qualidade ao usuário”, disse o CEO. “Se continuarmos a fazer com qualidade e preço reduzido, temos tudo para crescer mais.”

Com trabalho voltado a planos corporativos, já que os individuais “são muito mais regulados e judicializados”, de acordo com Bittencourt, o Plano Brasil Saúde faz o chamado ‘trabalho de formiguinha’ para conquistar mais contratos. Neste ano, a estratégia do grupo e chegar às empresas de uma forma mais abrangente. “Temos de fazer nossa mensagem chegar aos potenciais clientes”, disse.

A operadora baiana está presente atualmente em cinco estados:
• Bahia,
• Rio Grande do Norte,
• Goiás,
• Pernambuco
• e Sergipe.

Está na mira do executivo expansão para Alagoas, Paraíba, Minas Gerais e Distrito Federal.

Em território mineiro, a operadora está adiantada na formalização de uma rede credenciada para atendimento dos futuros beneficiários. Por lá, vai enfrentar a concorrência da líder local Unimed Belo Horizonte, que possui 1,56 milhão de vidas sob gestão, o que lhe rende a sétima posição entre os maiores planos de saúde brasileiros — o ranking é liderado pela Hapvida, com 4,17 milhões de usuários, seguida pelo Bradesco Saúde (3,39 milhões) e NotreDame Intermédica (3,34 milhões).

Para 2025, “não é exagero”, disse Bittencourt, a meta é alcançar 100 mil usuários e preparar o terreno para desembarcar no estado de São Paulo, o principal mercado do País, com 35% dos 51 milhões de beneficiários de saúde complementar. “Queremos chegar em São Paulo com hospital próprio e bem estruturado”, afirmou o executivo.

A ascensão está sendo rápida. O projeto é ousado. Mas em um setor tão complexo quanto competitivo, é preciso ter cautela com o futuro do Plano Brasil Saúde. Afinal, prevenir é melhor do que remediar.