16/06/2021 - 16:22
O plano de infraestrutura global proposto pelo G7 oferecerá aos países em desenvolvimento uma alternativa à “Nova rota da seda” da China, caso consiga superar uma montanha de obstáculos.
Ansioso por envolver seus aliados na rivalidade estratégica que opõe Estados Unidos e China, Joe Biden convenceu o G7 a lançar a iniciativa B3W, sigla em inglês de “Reconstruir um mundo melhor”, que permitirá investimentos nos países em desenvolvimento, uma área em que os chineses ganharam influência graças a bilhões de dólares de investimentos.
Mas o projeto de Pequim “não cumpriu muitas de suas promessas e gerou desconfiança em muitos países, abrindo uma janela para a iniciativa B3W”, resumiu Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell e especialista em China.
Pequim lançou sua iniciativa em 2013 para desenvolver infraestrutura terrestre e marítima para ligar a China à Ásia, Europa e África.
Mas oito anos se passaram e as perguntas são inúmeras: ofertas “não transparentes”, suspeitas de corrupção para obter mercados e até desrespeito aos direitos humanos, sociais ou ao meio ambiente.
Como exemplo, a construção de uma usina hidrelétrica na ilha indonésia de Sumatra foi amplamente criticada por danos à floresta tropical que abriga o primata mais raro do mundo, o orangotango Tapanuli.
O Ocidente também reprova que Pequim incentive os países emergentes apegarem muito dinheiro emprestado para projetos que nem sempre têm utilidade econômica.
– Pontes e grandes casas –
Na África, a China conseguiu fechar contratos ao propor projetos muito mais baratos do que os de seus concorrentes.
“Aos poucos, os chineses eliminaram a concorrência das empresas locais”, resume um especialista em desenvolvimento daquele continente, sob condição de anonimato.
“No Mali, havia apenas uma ponte sobre o rio Níger em Bamako. Agora são três, e em breve serão quatro”, acrescentou, observando que os projetos foram acompanhados de presentes aos líderes políticos locais, como a construção de grandes casas.
O projeto do G7 é apresentado pela Casa Branca como “uma parceria para infraestrutura de alta qualidade (…) e transporte liderada pelas grandes democracias para ajudar a reduzir as necessidades em infraestrutura de mais de 40 bilhões de dólares no mundo em crescimento”.
– Prestígio –
Os dirigentes do Grupo dos Sete (G7), que reúne as potências industrializadas, esperam desempenhar o papel de catalisadores para atrair financiamento privado.
Mas para o especialista em desenvolvimento, as dificuldades técnicas e a insegurança endêmica desempenham um papel importante em algumas regiões.
Como convencer as empresas a implantarem projetos diante de uma ameaça terrorista? Uma vez feitos os projetos, como escolas, como garantir que um professor queira se acomodar apesar de tudo? Como garantir a segurança da infraestrutura que poderia ser alvo de milícias locais?
“O (projeto) B3W deve ter eco entre os líderes dos países em desenvolvimento”, consideram em nota Matthew Goodman e Jonathan Hillman, especialistas do Center For Strategic International Studies. Para eles, “muitos estarão impacientes para expandir suas opções” e ganhar “o prestígio” da marca B3W.
Em contrapartida, eles terão que aceitar mais controle, custos mais altos e tempos de conclusão mais longos.
Uma questão importante será saber qual será o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), instituições financeiras centrais para projetos de desenvolvimento.