05/05/2025 - 6:06
O povoado de Baruth/Mark fica a pouco mais de uma hora de trem de Berlim. Cerca de 4.500 pessoas vivem no local e nos 12 vilarejos do entorno que compõem o município. Florestas e alguns campos dominam a paisagem.
Há dois anos, a fabricante de bebidas energéticas Red Bull e sua parceira Rauch assumiram as operações de uma empresa de água mineral, adquirindo seus direitos sobre 2,37 milhões de metros cúbicos de água subterrânea por ano.
Até agora, os novos proprietários utilizaram menos da metade dessa quantidade. Mas o consumo parece destinado a mais que dobrar, de acordo com os planos de desenvolvimento recentemente aprovados.
Brandemburgo, estado que circunda a capital alemã, é uma das regiões mais secas do país. E está sendo duramente afetada pelas mudanças climáticas. Neste inverno, choveu menos na região do que em qualquer outro estado alemão. O aumento das temperaturas e a mudança nos padrões de chuva também estão causando uma maior perda de água devido à evaporação – e, como resultado, à redução dos níveis das águas subterrâneas.
O prefeito de Baruth, Peter Ilk, afirma que há água suficiente para todos: “Estamos usando no máximo 25% da água disponível. Não acredito que sejamos uma área que terá problemas num futuro próximo. Estamos falando de algo em torno de 30, 50 anos.”
Pela atual licença, cerca de 92% da água extraída pela estação de tratamento de água local de Baruth, a Wabau, vai para os fabricantes de bebidas, e 8% para os moradores do distrito. Segundo a lei alemã, os recursos hídricos são considerados propriedade comum, e o fornecimento de água potável tem prioridade sobre as necessidades comerciais.
Luta por mais transparência
Um cidadão, preocupado com a sustentabilidade e a transparência do projeto, lançou uma contestação judicial contra os planos, com a ajuda da plataforma de direito à informação Frag-den-Staat (Pergunte ao Estado). A advogada Ida Westphal afirmou que o objetivo é fazer a autoridade local divulgar o que a Red Bull recebe em subsídios e quanto está pagando pela água.
Ilk explica que os níveis de água são monitorados de perto pela agência ambiental de Brandemburgo e que o fornecimento aos fabricantes de bebidas pode ser restringido em caso de ameaça ao abastecimento.
A água subterrânea, no entanto, continua sendo uma caixa-preta científica, de acordo com ambientalistas, sendo impossível saber quanta existe no subsolo e com que rapidez ela é reposta. A extração excessiva também traz o risco de contaminação.
Björn Ellner, da associação ambiental alemã Nabu, vê a situação de forma crítica: “Na minha opinião, não podemos permitir que nenhuma indústria com uso intensivo de água se mude para Brandemburgo. Principalmente quando se trata de águas subterrâneas.”
Segundo Richard Jacob, da organização de conservação da natureza Bund, as operações da Red Bull e da Rauch só poderiam ser “toleradas” em termos de geração de empregos. “Realmente, é uma loucura o que estamos vendo. Estamos produzindo essas bebidas em grandes quantidades numa Brandemburgo que sofre escassez de água. E depois as transportamos de caminhão para a Escandinávia, onde há bastante água disponível. Ou para o Leste Europeu, onde há bastante água.”
Nenhuma indústria antes da reunificação
No início da década de 1990, não havia indústria digna de menção na antiga República Democrática Alemã (RD), a Alemanha Oriental. O prefeito Ilk se orgulha da zona industrial que ajudou a construir nos arredores da cidade, e das oportunidades de emprego que criou.
Com a chegada da Red Bull e da Rauch à cidade, cerca de 300 empregos foram salvos e que outros 150 a 200 seriam criados com os novos planos, afirma. O município receberá uma verba de 14 milhões de euros do estado de Brandemburgo para construir uma estação de tratamento de água para a Red Bull e a Rauch, de acordo com o prefeito.
“É sustentável, já pelo fato de termos empregos garantidos aqui”, afirma Ilk, frisando que os moradores não deveriam ser todos obrigados a viajar 70 quilômetros até Berlim ou qualquer outro lugar, mas sim poder encontrar empregos na localidade. Entretanto, o prefeito também admite que o maior desafio de Baruth é atrair famílias com crianças para a região, devido à falta de espaço residencial e de terrenos para construção. Grande parte da área rural ao redor é designada como reserva natural.
Moradores entrevistados pela DW disseram apoiar as oportunidades de emprego que a administração está criando e o fluxo de impostos para Baruth. No entanto, alguns criticam os trabalhadores “não europeus” que o empreendimento supostamente trouxe, ou consideram o desmatamento de 16 hectares de floresta para dar lugar a uma fábrica de conservas de alumínio incompatível com a agenda de sustentabilidade da cidade. Nenhum deles quis ter seus nomes publicados.
Sustentabilidade questionável
A Red Bull também obtém sua água da Áustria e da Suíça. Em 2023, foi indicada a um prêmio satírico por “absurdo de transporte” pela organização ambiental suíça Alpen Initiative por enviar água extraída dos Alpes na forma de bebidas energéticas para todo o mundo. Muitos fabricantes de bebidas exportam apenas os xaropes, que são então misturados à água localmente.
A preocupação com a expansão da fábrica de refrigerantes foi alimentada por relatos da localidade de Grünheide, também em Brandemburgo. A montadora americana Tesla instalou uma enorme fábrica na região há alguns anos, gerando protestos contra o alto consumo de água e a derrubada de floresta.
Empregados de 150 países trabalham na fábrica da Tesla em Grünheide. Muitos se deslocam de Berlim ou atravessam a fronteira com a Polônia. A presidente do conselho de funcionários da empresa, Michaela Schmitz, afirmou à rádio pública RBB que a maioria dos funcionários vem de Alemanha, Turquia, Polônia, Síria e Índia.
A Red Bull e a Rauch não reagiram aos pedidos de informação da reportagem.