28/01/2025 - 8:46
Ao abrir um debate sobre medidas que possam ajudar a reduzir os preços de alimentos, que estão disparando por fatores sobre os quais o governo não tem controle, a equipe do presidente Lula muda o foco da discussão sobre ajuste fiscal e arrisca chegar em 2026 com a economia em recessão e inflação e juros em alta diante de um cenário internacional conturbado. Além disso, a estratégia escolhida impôs novo desgaste ao ministro Fernando Haddad (Fazenda), até então queridinho do mercado financeiro.
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Em conversa com Sheila D´Amorim e Guilherme Amado, do PlatôBR, os economistas Roberto Padovani (Banco Votorantim) e Sérgio Vale (MB Associados) explicaram por que acreditam nesse cenário e compararam a conjuntura atual a outros momentos das gestões Lula 1 e Lula 2, em que os preços dos alimentos dispararam, mas isso não se traduziu em queda da popularidade do presidente, como agora.
Uma pesquisa realizada pela Quaest e divulgada nesta segunda, 27, mostrou que avaliação negativa do governo Lula, pela primeira vez, é maior do que a positiva e a percepção da população de que o preço dos alimentos subiu no último mês atingiu o pico de 83% dos entrevistados.
Para Sérgio Vale, “o que preocupa muito” é que faltando dois anos para terminar o governo, a questão da inflação, que deveria ser enfrentada pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central, está sendo protagonizada pelo ministro Rui Costa (Casa Civil). “Isso coloca uma guerra aberta de posições políticas dentro do governo”, diz. Não é só. Gera “incerteza” e vai “seguir gerado mal-estar”, prossegue o economista.
Para Roberto Padovani, se o governo quisesse, ainda haveria tempo de atacar o problema fiscal para reduzir a pressão cambial, abrindo espaço para justos mais baixos e, com isso, gerenciar melhor as expectativas. No entanto, como o “ambiente já é eleitoral e todo mundo está de olho em 2026”, dificilmente haverá qualquer esforço para ajuste fiscal adicional.
Para os economistas, bateu o desespero no governo por causa das eleições do ano que vem e, com isso, será entregue um crescimento fraco, que pode ser até uma recessão, acreditam. Isso, em meio a um cenário externo difícil com desaceleração na China e na Europa, que não irá ajudar em nada o governo brasileiro.
Para completar, a avaliação é que o ministro mais forte e interlocutor do governo com o mercado financeiro, Fernando Haddad, está desacreditado depois das negociações internas no governo em torno do pacote fiscal.
“Ficou claro que o ministro da Fazenda é um homem de governo, um operador político, é um homem de partido”, diz Padovani. “Sempre existiu conflito entre áreas técnica e política, mas ali ficou claro que a estratégia da Fazenda é absolutamente alinhada com a política”, completou.