08/04/2025 - 8:57
Símbolo do livre mercado, da desregulamentação e da redução da intervenção do Estado na economia para o mundo, os Estados Unidos estão com a imagem de “porto seguro” em xeque. A incerteza instalada no planeta pela política protecionista do presidente Donald Trump já se reflete até mesmo nos títulos da dívida americana, considerados referência para investidores que costumam buscar os treasuries, como são chamados, em momentos de volatilidade financeira internacional justamente por serem considerados, até agora, os mais seguros. Os papéis com vencimento em 10 anos desvalorizaram 5,5% nesta semana, ao mesmo tempo em que os títulos de curto prazo da dívida alemã se valorizaram em mais de 1%.
“Em momentos de volatilidade, investidor busca refúgio em papéis considerados menos arriscados e de curto prazo”, avalia a diretora Sandra Utsumi (Haitong Bank). Em um mês, os papéis do governo alemão com vencimento em 2027 subiram 13% de valor, e os de 2035, valorizaram 4,5%. “No mesmo período, não há posicionamento dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos que tiveram variação zero. Também houve valorização do iene e do euro”, completou Utsumi, referindo-se às moedas do Japão e da União Europeia, respectivamente.
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Há menos de um mês, depois de décadas como exemplo de austeridade fiscal, o governo alemão conseguiu aprovar um pacote de gastos histórico, de cerca de 700 bilhões de euros, para financiar investimentos em defesa e renovação do parque industrial. A legislação foi iniciativa do novo primeiro-ministro, o conservador Friedrich Merz, e passou com folga pelo parlamento, na esteira das intervenções de Trump na guerra da Rússia com a Ucrânia e de ameaças aos parceiros comerciais.
Além disso, as incertezas sobre o impacto que a decisão de aumentar as tarifas de importação para todos os parceiros comerciais terá na inflação e no crescimento da economia dos Estados Unidos transbordaram para o setor produtivo. O mercado financeiro passou a questionar se as empresas terão margens de lucro para acomodar mudanças na estrutura de produção, internalizando etapas que, até então, eram desenvolvidas em outros países afetados pelo tarifaço anunciado na semana passada.
O resultado: índices despencando no mercado de ações desde a semana passada. Somente nos Estados Unidos, o Dow Jones, um dos mais antigos e representativos de 30 grandes empresas de vários setores (que vão de indústrias, a serviços financeiros, farmacêuticas a bebidas), fechou esta segunda-feira, 07, com queda de quase 1%. O S&P 500, composto por 500 das maiores companhias de capital aberto do país, também caiu 0,23%, enquanto o Nasdaq, que concentra ações na área de tecnologia, ficou próximo a zero.
Estimativas de analistas apontam que as perdas nas bolsas americanas ultrapassaram US$ 6 trilhões desde a última quarta-feira, 2, o “Dia da Libertação”, na expressão de Donald Trump. Com a meta de reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos, o governo chacoalhou o mundo com tarifas sobre importações de todos os países com os quais mantêm relacionamento comercial, gerou pânico, espalhou incertezas regulatórias e alimentou o medo de conflitos geopolíticos. A volatilidade penaliza empresas em boa parte do mundo.
Até mesmo o Brasil, que ficou no grupo de países que foram sobretaxados com as menores tarifas (10%), sofre com o movimento dos investidores. O Ibovespa fechou esta segunda-feira com queda de 1,31%, puxado pela Petrobras. Isso, devido ao temor de que poderá haver queda na demanda por petróleo em função de uma recessão mundial.
“É muito cedo para garantir o rumo que o mundo irá tomar, mas os mercados financeiros reagem de forma mais rápida”, avalia um integrante da equipe econômica. Segundo ele, o Brasil deverá ser impactado pela tarifa imposta ao país e, também, de forma indireta, por outras aplicadas ao resto do mundo. Mas também há chances de novas oportunidades no comércio internacional. Por isso, o governo brasileiro aguarda os desdobramentos, que ainda não estão claros, para poder se movimentar com mais assertividade.
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