08/12/2004 - 8:00
As portas envidraçadas com barras douradas giram lentamente. A um passo, o frio fica para trás. Um secular candelabro de cristal ilumina o hall de entrada com suas 54 lâmpadas em forma de velas. A atmosfera é adocicada e acolhedora, mas isso não é de exclusiva responsabilidade dos invisíveis aparelhos de aquecimento que exalam um odor de jasmim. O agradável ambiente, obra dos discretos acenos de boas vindas dos jovens da recepção, e a dimensão humana de suas instalações são o que verdadeiramente compõe o clima. Monsieur Patrick Henry, chefe da equipe de concierges, com 36 anos de serviços prestados, será o guia rumo à suíte. ?Queremos que aqui seja a sua casa em Paris?, diz. À direita, por detrás do grande arco que delimita o saguão da ala exclusiva do hotel, lá estão eles e elas ladeando o longo corredor. São mulheres vestidas de Ungaro e Dior, homens que trajam Armani e Ferragamo, idosos, jovens e gente de beleza que parece infinita, recostados em poltronas aveludadas dividindo xávenas de porcelana e taças de cristal. A classe de pessoas que, tendo o mundo na palma das mãos, só se completa na cidade mais elegante do mundo dentro daquele ambiente único ? o palácio dos sonhos chamado Plaza Athénée, a catedral incomparável do luxo.
Aqui, o absolutamente normal se confunde com o deliciosamente sofisticado. Assim é que todas as madrugadas 30 dúzias de ovos frescos deixam uma granja a 45 quilômetros da cidade para abastecer a cozinha comandada pelo chef Alain Ducasse. Servidos aos pares no desjejum, cozidos dentro da casca, eles ganham gotas negras de Beluga, o caviar mais festejado do mundo. Estimulante e original, essa combinação custa 39 euros ? e agora que falamos nele, deixe-se o dinheiro de lado. Afinal, quem pode pagar 5 mil euros pela suíte duplex e nela ficar por semanas a fio podendo dedilhar um legítimo Steinway, acionar sua própria lareira ou simplesmente debruçar-se sobre a janela para, à direita, ver a Torre Eiffel, já ganhou o bastante lá fora para não ligar para esse pequeno detalhe aqui dentro. Gente como o casal mais famoso do Brasil, os noivos Daniela Cicarelli e Ronaldo Nazário. Eles se registraram na segunda-feira 29, bebericaram drinques azuis-turquesa no Bar Plaza, no térreo, e no dia seguinte, lépidos, avançaram pela cidade nos preparativos do casamento marcado para fevereiro.
Escolheram, sem dúvida, um lugar marcado por grandes histórias de amor. Elizabeth Taylor e Richard Burton, um dos casais mais famosos da história, ali viveram seis meses durante os anos 60 sem que uma única briga fosse percebida. Dona de notório bom gosto, Paloma Picasso, dez anos depois, marcou com um beijo o livro de ouro do estrelado Le Relais, depois de degustar ?o sempre maravilhoso gnocchi?. Antes deles, já em 1925, Rodolfo Valentino parava ali com suas namoradas durante as viagens à Europa. E ainda antes, em 1916, a misteriosa Margareth Geertruide Zelle contribuiu para a aura do hotel ao ser presa pela polícia francesa enquanto estava hospedada. Era, na verdade, a grande espiã alemã na I Guerra Mundial Mata Hari.
Nesta casa inaugurada em 1913 pela fusão dos hotéis Plaza e Athénée, o risco de se sentir dentro de um museu se dissipa logo à entrada. É certo que os candelabros de cristal estão dependurados ali desde o século passado, mas muitos receberam o toque moderno de serem envolvidos por telas translúcidas. E o máximo da conjunção entre clássico e moderno. A reforma geral feita cinco anos atrás modernizou todas as instalações. Dentro das suítes, ao pé da cama, televisores de tela plana convivem com as grandes fechaduras douradas das altas portas de madeira espessa. Nos armários, cinco tipos de cabides, entre retos, curvos e almofadados, se enfileiram em benefício da elegância. Doze tipos diferentes de travesseiros, a um chamado, estão à disposição para que ninguém enfrente um problema menor como, digamos, uma torsão de coluna. Gravuras como a de Ludovico XV, que decora a suíte presidencial de 160 metros, quebram, sem excessos, a cor de caramelo das paredes. Se ela pareceu pequena, a partir de fevereiro estará nova em folha a suíte Royal, cujos janelões terão vista tanto para a Avenida Montaigne, como para o jardim de inverno em que as heras encobrem as colunas. Os passarinhos adoram, o que faz o silêncio proporcionado pelas grossas paredes do Plaza só ser quebrado por seu canto romântico. Aqui não há piscina ? quem dela precisa? ? , mas há sauna e sessões de massagem. E, na lista de lembranças que podem ser compradas como troféus de um momento de prazer, despontam mimos como rolhas com tampo de prata e ursinhos no típico vermelho vivo do hotel. E há, é claro, todo o incomparável charme francês permeando cada surpresa. Experimente!