15/12/2000 - 8:00
O executivo Lucien Belmonte (acima), superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Vidro, é um daqueles homens de negócio que torcem para que o dia tenha mais de 24 horas. Talvez 30, quem sabe 35. É na frente de um computador que ele passa pelo menos metade do dia. Ali, organiza sua vida profissional e pessoal. Pelo micro, esse paulistano de 31 anos marca reuniões, faz pesquisas e elabora análises sobre o mercado. O seu trabalho exige um contato constante com empresários de outras cidades e do exterior. Um dos principais projetos que ele comanda é o de incentivo à reciclagem do vidro. Para isso, precisa saber de todos os estudos no assunto, desenvolvidos aqui, na Europa ou nos Estados Unidos. E como sua função é a defesa corporativa do setor, Belmonte precisa estar por dentro de tudo o que acontece nas indústrias. Da mesma forma organizada com que lida com o trabalho, Belmonte planeja os dias de folga. Antes do fim de semana, vê como estará o tempo e o mar no litoral de São Paulo. Depois, marca por e-mail com os amigos um encontro para praticar caça submarina, seu esporte preferido. Para completar, encomenda o vinho e tudo o mais que precisa para os dias de folga. Finalmente, antes da viagem, não deixa de consultar o e-mail no computador portátil que o acompanha sempre. ?Estou sempre plugado?, diz. ?Isso me permite ser profissional mesmo quando não estou no escritório e nunca deixar minha vida pessoal de lado, mesmo quando estou trabalhando.? Ele quase nem lembra como era antes. ?Sei que era cliente de uma agência de turismo e hoje não sou mais?, recorda. O planejamento das férias agora é feito pelo micro. Por outro lado, o executivo não tem dúvida que o acesso a essas tecnologias não diminuíram sua carga de trabalho. Ao contrário: ele passa menos tempo dentro da firma, mas em casa ou em viagem está localizável. Isso não assusta? Não. ?Meu maior medo é me tornar obsoleto?, afirma, lembrando que sua mãe não usa o videocassete. ?Tudo que eu não quero é ter a sensação que fui ultrapassado pela tecnologia.?
Belmonte não está sozinho na preocupação. Para Rainner Steinmaier, consultor de tecnologia de São Paulo, esta continuará sendo a grande aflição dos homens de negócio durante os próximos anos. ?O profissional sente a necessidade de estar comunicável e por dentro das novidades porque sabe que a transformação tecnológica pode alterar os rumos da sua empresa e também da sua carreira.? O administrador Romualdo Destro, gerente de expansão do Habib?s, ainda lembra da época em que um produto era lançado no Brasil dois ou três anos depois de ter saído na Europa ou Estados Unidos. ?A Internet tem sido fundamental para mudar isso?, comemora Destro. ?Por outro lado, aumenta nossa responsabilidade, porque não existe mais desculpa que justifique não estar atualizado.? O executivo passa pelo menos 12 horas plugado na rede, metade delas navegando. Ele precisa saber que cidades do Brasil têm mercado para uma nova lanchonete da marca. E também analisar como estão as que já existem ? são 150 em todo o Brasil. Antes ele precisava viajar até oito vezes por mês; hoje suas idas ao aeroporto não passam de duas por mês. ?Consigo fazer quase todas as pesquisas pela rede.?
Não há como calcular o impacto da Internet na vida das pessoas sem incluir aí a redução das distâncias. Que o diga o economista Einar Rivero, diretor da Economática, empresa de dados financeiros de São Paulo. Imagine como era para ele administrar o fornecimento de informações para 340 clientes no Brasil e manter contato com sete escritórios no mundo sem a Internet: ?Eu passava 15 dias por mês no exterior e, quando estava aqui, passava o dia inteiro no telefone.? Agora, ele fica até dois meses sem viajar, mas passa o dia inteiro no computador. A comunicação com os escritórios internacionais funciona pelo ICQ, 8 a 10 horas por dia. E com os clientes, pelo e-mail. Uma média de 300 por semana. Rivero, assim como a maioria dos executivos, lida, porém, com aparatos que, embora modernos, estão próximos de sumirem do mapa. ?Logo logo, comunicação sem imagem será algo do século passado?, diz o consultor Steinmaier. Ele conta os dias para que ocorra o que chama de massificação da mobilidade, quando a tecnologia não será mais sinônimo de fios e cabos e tudo (ou quase tudo) caberá no bolso da calça. Isso inclui palms, celulares com acesso à Web e computadores cada vez menores. ?Esperamos o momento em que tudo isso será tão popular quanto a televisão?, diz ele. Marcos Peano, da Deloitte Consulting, prevê que vai chegar o momento em que tanta informação e tecnologia force as pessoas a limitar seus interesses. Ou então, corre-se o risco de ter tudo e nada nas mãos, ao mesmo tempo. Talvez seja esse o grande desafio do executivo nos próximos anos: usar informação de forma correta, sem se perder no fio do plug.