A cena era corriqueira no desembarque internacional no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, naquela manhã de novembro. Filas na Polícia Federal, uma confusão nas esteiras transportadoras de bagagens e rostos que exibiam o cansaço das longas horas de voo noturno. O Brasil é um destino longínquo para quem vem da Europa, da Ásia ou dos Estados Unidos, e mesmo cidades razoavelmente próximas, como Nova York ou Miami, estão a oito ou dez horas de viagem. Nesse momento, o sistema de som dos alto-falantes se fez ouvir. “Informamos aos passageiros procedentes de Londres que, por um poblema (sic) operacional, suas bagagens devem ser retiradas pela esteira de número cinco em vez da esteira de número sete.” O aviso se repetiu por três vezes, mantendo a agressão ao vernáculo. Não foi possível, porém, detectar um erro que fosse no comunicado em inglês – pois não existiu. Presume-se que, em um voo internacional operado por uma companhia aérea britânica procedente de Londres, haja pelo menos um passageiro que não seja fluente em português.

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Esse eventual turista ou homem de negócios teria de contar com o tradicional acolhimento e cortesia brasileiros para indicar-lhe a esteira onde retirar sua bagagem. Vencida essa etapa, ele teria outros “poblemas” para enfrentar. O “poblema” das longas filas na Polícia Federal para que ele pudesse ser autorizado a entrar no Brasil. O “poblema” de ter de recorrer ao monopólio da única empresa autorizada a operar uma loja no aeroporto internacional, se quisesse eventualmente comprar um presente para alguém por aqui. Ou o “poblema” de ter de pagar as tarifas salgadas da empresa de táxi que opera o monopólio do transporte de passageiros entre o Aeroporto Internacional e os municípios da Grande São Paulo. A gravidade desses “poblemas”, porém, empalidece diante de questões mais sérias. Em julho, a Infraero contratou a construção do terceiro terminal de Cumbica em regime de urgência, de modo a evitar o caos aéreo no fim de 2011. O terminal será desconectado da estrutura do aeroporto e ganhou o simpático apelido de “puxadinho”, sendo construído a jato. 

 

No entanto, com a pressa, a casa – literalmente – caiu. A estrutura em construção desabou no início de dezembro e a inauguração ficou para janeiro. “Aconteceu um incidente. O que podemos fazer? Paciência”, disse Gustavo Vale, presidente da Infraero.  É uma recomendação sábia. Paciência é um requisito indispensável aos usuários de Cumbica, que devem chegar a 31,5 milhões até o fim de 2011, um crescimento de mais de 20% em relação ao fluxo de 2010. A urgência em resolver essas dificuldades torna-se mais e mais premente à medida que se aproximam as datas de abertura da Copa do Mundo e da Olimpíada de 2016. Apenas na quinta-feira 15 as autoridades divulgaram as regras para a concessão de Cumbica, Viracopos e do aeroporto de Brasília à iniciativa privada, e o leilão está previsto para o dia 6 de fevereiro. O preço subiu para R$ 3,4 bilhões, e acrescentou-se a exigência de que os consórcios participantes tenham um sócio estrangeiro com experiência de cinco anos na administração de aeroportos. Uma garantia adicional contra “poblemas” operacionais e de gestão.