22/08/2007 - 7:00
Nos últimos dez anos, o varejo de eletrodomésticos passou por uma gigantesca transformação. Nomes que dominavam a cena ? como Arapuã, G. Aronson e Casas Centro ? foram substituídos por bandeiras emergentes. Elas possuem alguns traços peculiares. Em geral, surgem do empenho de jovens empreendedores, que souberam entender melhor o mercado do que seus antecessores.
Boa parte também tem seu berço em cidades de médio porte, uma forma de fugir do mercado congestionado em grandes centros urbanos.
FORÇA JOVEM R$ 2 BILHÕES é quanto devem atingir as receitas da rede neste ano
Por fim, repentinamente rompem suas fronteiras geográficas e, com uma grande aquisição, multiplicam seu tamanho e partem para enfrentar os grandalhões do setor. Na semana passada, a Ricardo Eletro ingressou nessa terceira fase. Erguida a partir de uma lojinha de 20 metros quadrados no centro de Divinópolis (MG), a empresa dos irmãos Ricardo e Rodrigo Nunes acaba de arrematar a conterrânea Lojas Mig. Agora, com uma rede de 221 lojas, suas receitas somarão R$ 2 bilhões no final do ano, o que significa o dobro do registrado em 2006. Assim, já figura no quarto lugar no ranking liderado pela Casas Bahia.
A transação, estimada pelo mercado em R$ 80 milhões, fortaleceu sobremaneira a musculatura da Ricardo Eletro. A Mig trouxe 86 novos pontos-de-venda, no Sudeste e no Centro-Oeste, e uma carteira de 1,5 milhão de clientes, que garantem faturamento anual de R$ 300 milhões. Mais: o negócio finalmente coloca os irmãos Ricardo e Rodrigo Nunes no epicentro de uma das regiões mais concorridas do País: o rico interior de São Paulo. Uma área onde quem dá as cartas são o Magazine Luiza e a Casas Bahia. Ricardo diz que não tem a intenção de ?bater de frente? com a Magazine Luiza, cuja sede fica em Franca (SP). ?Tem espaço para todo mundo?, desconversa o empresário. Apesar do discurso diplomático, ele deixa claro que tem disposição para a briga. ?O varejo não tem dono. É um segmento movido por ciclos e quem está por cima hoje pode desaparecer amanhã?, filosofa.
Foi em meio a um desses ciclos, aliás, que ele construiu seu pequeno império. A derrocada de empresas tradicionais, no final da década de 90, deixou espaços vazios em boa parte das cidades. Ricardo, que vendia ursos de pelúcia e uns poucos eletrodomésticos, viu aí a chance de crescer. Assumiu pontos abandonados por antigas potências, como a Casa do Rádio. Aliou-se à financeira Losango, do banco HSBC, e aos fornecedores para bancar sua política de preços agressivos. Ricardo soube aproveitar o temor que bancos e fabricantes tinham da excessiva concentração no varejo. Deu certo.
Hoje, a Ricardo Eletro manda em Minas Gerais. O empresário repetiu a dose no Espírito Santo e na Bahia, onde arrematou a Rede Romelsa, em 2004, por R$ 20 milhões. Essa bandeira lhe abriu as portas do Nordeste, região que responde por 30% de suas vendas totais. Essa política, baseada em aquisições pontuais tendo como foco as cidades do interior e as capitais fora do eixo Rio-São Paulo- Minas Gerais, é vista como positiva por analistas. ?É uma fórmula interessante porque gera ganhos imediatos. Isso porque, junto com a bandeira leva-se também a carteira de clientes?, avalia João Paulo Lara de Siqueira, professor de marketing da Trevisan Escola de Negócios.
“O varejo vive de ciclos. Quem está no topo hoje, pode desaparecer amanhã“
, filosofa Ricardo Nunes
A incorporação das Lojas Mig, na verdade, representa muito mais. É o ponto de inflexão na trajetória dos irmãos nascidos na pequena Divinópolis.
Além de catapultar a Ricardo Eletro para uma posição de destaque no cenário nacional, a transação marca uma mudança na filosofia da dupla. Foi a primeira compra na qual eles recorreram a uma consultoria, a Fir Capital. Até então, a prospecção, a negociação e a definição do preço era feita por eles. Outra novidade é a utilização de aportes de terceiros (no caso da Losango) para cobrir parte dos custos. O contrato com a Fir Capital inclui, ainda, a elaboração de um amplo estudo para preparar a Ricardo Eletro para o futuro. ?Estamos crescendo de forma acelerada e para seguir nesse ritmo, em bases sustentáveis e sem comprometer a rentabilidade, temos de pensar em opções como abertura de capital, entrada de um sócio- capitalista e até mesmo a profissionalização da gestão?, explica Ricardo.
Hoje, vigora a centralização. ?Negocio com fornecedores, assino os cheques, descarrego caminhão e vou para as lojas vender?, conta Ricardo.