Antes de desembarcar no aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, é melhor checar cada detalhe de sua bagagem, o logotipo da mala, a cor do couro e a origem de fabricação do objeto. Não se trata de preciosismo ou questão de etiqueta afeita ao ambiente chique da capital francesa, berço das grifes de luxo. Carregar produtos falsificados, com o rótulo de celebradas marcas, dará cadeia e uma multa gorda, que pode alcançar 300 mil euros. Detalhe: a punição atinge o consumidor. A idéia partiu do Comitê Colbert, entidade que reúne mais de 60 empresas francesas de classe A, como Louis Vuitton, Cartier e outras gigantes, em parceria com a Receita Federal da França. O objetivo é proteger a indústria francesa destinada aos ricos, que movimenta 100 bilhões de euros por ano. ?A pirataria, principalmente na Ásia, atingiu um patamar de falsificação difícil de ser identificado?, diz Carlos Ferreirinha, consultor do segmento de luxo. Isso explica os US$ 500 bilhões que a indústria da contrafação fatura por ano em todo o mundo. Relógios, roupas, jóias, canetas e até os vinhos de Bordeaux tornaram-se alvo dos criminosos.

As técnicas de cópia ilegal são tão apuradas que até mesmo quem tem um alto poder aquisitivo compra produtos de imitação barata. Por isso, as autoridades, de certa forma, mudaram o foco e passaram a combater a demanda. Peças piratas causam danos irreversíveis à economia. Dados do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais revelam que o prejuízo no Brasil chega a R$ 27,8 bilhões. As empresas copiadas, por sua vez, perdem somas milionárias e têm a imagens arranhada. A Louis Vuitton, tradicional grife de bolsas, é uma das mais prejudicadas. Os modelos da marca são vistos em qualquer canto. A grande maioria, contudo, é réplica. O maior efeito sobre a empresa é o da banalização. Como se trata de um objeto de luxo, para poucos, ele se torna muito comum e perde a imagem do desejo. A Cartier, célebre marca de alta joalheria, é outra que perde com o crime.

Estima-se que esses grandes conglomerados empresariais gastem milhões no combate à pirataria. ?As companhias contratam uma equipe de investigadores e advogados especializados no assunto para atacar a falsificação?, diz Elisa Santucci, advogada do Clarke & Modet, escritório especializado em propriedade intelectual. O difícil é convencer alguém a não comprar um relógio que custe R$ 10 no camelô enquanto o original sai por R$ 10 mil na loja ao lado. Possivelmente, a iniciativa do Comitê Colbert ajude a moldar o comportamento do consumidor. Somente assim enxergarão que o barato pode sair caro, muito caro.

500 bilhões de dólares é quanto movimenta a indústria da falsificação anualmente em todo o mundo