DINHEIRO ? Por que o sr. trocou a Ford pela Suzano Papel e Celulose?
MACIEL NETO
? Eu fiquei na Ford praticamente sete anos, quatro como presidente da Ford no Brasil e três como presidente para a América do Sul. A Ford saiu de um prejuízo de US$ 600 milhões, em 1999, para fechar 2005 com lucro de US$ 389 milhões. De uma montadora com risco de ser fechada, ela passou para a condição de empresa mais lucrativa da região. Meu ciclo foi fechado.

DINHEIRO ? Qual o trabalho a ser feito na Suzano?
MACIEL
? A companhia tem um projeto grande de crescimento. Trabalhei muito, nos últimos 15 anos, na reestruturação de empresas. O trabalho na Suzano será uma coisa diferente. Trata-se de uma empresa boa, arrumada, lucrativa, e que vai dobrar de tamanho. Outra motivação é participar de forma mais efetiva do mercado de capitais brasileiro, já que a Suzano tem planos de ser um importante player. E para crescer vamos precisar acessar o mercado de capitais. Além disso, o setor de papel e celulose é um dos poucos em que o Brasil pode ter a pretensão de ser o melhor do mundo. Não me lembro de outro ramo em que o País possa, rapidamente, ser referência mundial. Outra motivação é que o crescimento da Suzano vai precisar de uma internacionalização grande. Minha amizade com a família Feffer me deu mais tranqüilidade para fazer essa mudança radical. Eu conhecia bem os acionistas e, mais importante, eles me conheciam.

DINHEIRO ? Como o sr. tem se preparado para a nova função?
MACIEL
? Estou estudando bastante sobre o setor. Existe uma crença de que presidentes executivos não precisam ser especialistas, mas não pertenço a esta escola. Quero entender do negócio e por isso estou visitando clientes no Brasil e no Exterior com freqüência, ouvindo funcionários e consultando quem entende do assunto. Na minha agenda, por exemplo, de 15 em 15 dias tenho encontro marcado com Boris Tabacof (conselheiro), talvez um dos maiores especialistas do País.

DINHEIRO ? Quais desafios foram propostos ao sr. pelos controladores?
MACIEL
? A empresa tem três pilares para a sua gestão: continuidade do controle familiar combinada com uma gestão profissional e atuação firme no mercado de capitais. Esse pontos foram acertados antes de eu vir para cá. No curto prazo, vamos manter a eficiência das operações, completar o processo de aquisição da Ripasa, adquirida em sociedade com a Votorantim Celulose e Papel (VCP), implementar o projeto Mucuri (na Bahia), um megaempreendimento de US$ 1,3 bilhão de investimento, além de cuidar da comercialização dessa produção, pois vamos colocar um milhão de toneladas a mais de celulose no mercado. Vamos também fazer um planejamento estratégico para os próximos dez anos e organizar melhor o time da Suzano.

DINHEIRO ? Na Suzano Petroquímica foi adotada, recentemente, uma gestão compartilhada, com a presença de dois presidentes. Há chances de que isso ocorra na empresa de papel e celulose também?
MACIEL
? Isso você vai ter de perguntar ao David (Feffer, presidente do conselho).

DINHEIRO ? Como a Suzano estará nos próximos dez anos?
MACIEL
? A Suzano é, hoje, líder da América Latina em diversos segmentos de papel. Mas a nossa estratégia é atuar de forma integrada. Com a expansão do projeto Mucuri, a empresa vai ter uma posição de destaque também na produção de celulose. A nova fábrica começa a operar em outubro de 2007 e, em 2009, estará a pleno vapor. Sairemos de uma produção anual de 550 mil toneladas para 1,7 milhão. Até 2015, nossa meta é sermos a segunda maior produtora de celulose no mundo.

DINHEIRO ? Existem mais projetos pela frente?
MACIEL
? Acabamos de montar duas empresas, uma nos Estados Unidos e outra na Europa, para auxiliar na parte de comercialização e logística. Antes, operávamos lá fora com agentes terceirizados. Estamos trabalhando também na criação de uma outra empresa na Ásia, que deverá estar pronta no primeiro trimestre do ano que vem. Existem outras novidades, mas não posso falar antes de serem oficialmente aprovadas, pois a Suzano é uma empresa de capital aberto e isso pode afetar o preço das ações.

DINHEIRO ? Os lucros da Suzano caíram 60% no segundo trimestre. Quais as perspectivas para este semestre?
MACIEL
? O resultado do segundo trimestre foi totalmente contábil. Do ponto de vista operacional, estamos melhor do que no ano passado. O que acontece é que quase 50% do nosso faturamento tem origem nas exportações, e o câmbio sofreu uma variação, no período, de mais de 20%. A empresa está bem, tanto que as nossas ações estão subindo e os analistas de mercado recomendando compra.

DINHEIRO ? A relativa estabilidade do real tem apontado para o fim de uma fase de ganhos cambiais. Como a Suzano vai se adaptar a este novo momento?
MACIEL
? Com a nova realidade cambial, as empresas terão de aumentar a eficiência. O nome do jogo é produtividade. No setor de papel e celulose, existe mais um agravante: nos próximos dez anos, a oferta será maior que a demanda. Por isso, os esforços de melhoria operacional e redução de custos não têm fim. Estamos aperfeiçoando nossos processos logísticos e adotamos, inclusive, um novo programa de eficiência, baseado em estatísticas, chamado 6 Sigma (o mesmo usado por Jack Welch na GE).

DINHEIRO ? O sr. engrossa a fila dos empresários que reclamam do câmbio?
MACIEL
? Se o dólar a R$ 3,60 favorecia os exportadores, a R$ 2,15 gera uma dificuldade tremenda, porque os custos no Brasil são altos. Produzir soja em Mato Grosso é mais caro, hoje, que nos Estados Unidos. Nossos custos aumentaram violentamente.

DINHEIRO ? Mas o Brasil é bastante competitivo no setor de papel e celulose. O eucalipto cresce muito mais rápido aqui que o pinus no hemisfério norte.
MACIEL
? A natureza contribui bastante, sem dúvida. Só que o nosso setor não é competitivo só por conta disso. Nós fizemos um investimento em tecnologia que ninguém no mundo fez. Mas existem, por outro lado, vários fatores negativos. O segundo maior custo da Suzano é frete. Os problemas de infra-estrutura tornam a logística de levar a madeira para a fábrica e, em seguida, o produto para o porto muito cara. Outro problema são os impostos. Na implementação de Mucuri, por exemplo, os tributos representam entre 15% e 20% do custo do empreendimento. Uma parte pode ser recuperada, mas no final gastaremos cerca de US$ 130 milhões com impostos, 10% do investimento total. Lá fora, não existe imposto quando se está montando uma fábrica. Há incentivos para novos projetos porque, depois, eles gerarão impostos.

DINHEIRO ? Qual a posição do setor de papel no País diante do mercado global?
MACIEL
? Nossas empresas são muito pequenas em relação às concorrentes internacionais. Representamos menos de 3% do mercado mundial de papel. O que mostra, ao mesmo tempo, que temos muito espaço para crescer. O consumo per capita de papel está estreitamente ligado à renda. No Brasil, temos uma média anual de 39 quilos de papel por habitante. Nos Estados Unidos, são mais de 300.

DINHEIRO ? O setor está passando por um processo de consolidação. A Suzano, por exemplo, comprou a Ripasa junto com VCP. Existem mais aquisições por vir?
MACIEL
? As empresas brasileiras vão, certamente, crescer. E as empresas estrangeiras também estão vindo para cá. A sueco-filandesa Stora Enso acaba de comprar a Inpacel. A International Paper (IP) também vai fazer uma fábrica nova. Não sei como vai se dar essa consolidação, mas todo o mundo está olhando para cá.

DINHEIRO ? A Ripasa foi adquirida por um preço alto, segundo o mercado. A empresa já mostra resultados?
MACIEL
? Nós vamos começar a operar com a Ripasa, efetivamente, em 1º de outubro. Ela ainda funciona como se fosse independente. Vamos capturar as sinergias. A Ripasa não vai mais precisar de equipe de vendas, marketing, entre outras áreas. Além disso, metade de sua produção agora virá para nós. Vendemos, em 2005, 850 mil toneladas de papel e 550 mil de celulose. Com a Ripasa, estamos somando à produção de papel cerca de 180 mil toneladas e, à de celulose, mais 150 mil toneladas.

DINHEIRO ? O governo recomendou, recentemente, a redução da taxa de importação de papéis para imprimir e escrever, alegando concentração de mercado por conta da Ripasa. Qual a sua avaliação?
MACIEL
? Isso ainda está sendo discutido. Existem três grandes produtores de papel, atualmente, no Brasil: Suzano, VCP e IP, cada uma com praticamente um terço de participação. É uma briga de foice. A IP é a maior empresa de papel do mundo. Tivemos, no ano passado, um faturamento de US$ 1,1 bilhão, enquanto a IP teve uma receita de US$ 27 bilhões. A Votorantim é um dos maiores grupos brasileiros e, apesar da troca de ativos com a IP, já declarou que continuará firme no mercado de papel. Além disso, o segmento de papel couché bateu 35% do mercado de importados. Por isso, vamos aguardar a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

DINHEIRO ? Para crescer, a Suzano pretende acessar mais o mercado de capitais. O que a empresa tem feito para pulverizar as ações e aumentar a liquidez dos papéis?
MACIEL
? A Suzano já fez vários movimentos importantes no mercado. Foi, por exemplo, a primeira empresa do setor a lançar ação em bolsa. Nossos esforços nos últimos tempos têm sido voltados, principalmente, para o aumento da governança corporativa. A separação das empresas de papel e petroquímica e a profissionalização da gestão da empresa, com a vinda de vários conselheiros externos, foram os principais movimentos.

DINHEIRO ? Seu nome foi cogitado para ocupar o Ministério da Fazenda logo após as eleições de 1999. Aceitaria um possível convite caso o Lula seja reeleito?
MACIEL
? Eu trabalhei no governo federal e durante dez anos na Petrobras, meu primeiro emprego e minha escola. Já dei minha contribuição ao setor público.