15/12/2010 - 8:00
DINHEIRO ? Quais são os principais desafios para a Basf no Brasil?
HACKENBERGER ? O maior desafio será desenvolver a empresa em um ambiente de crescimento. O Brasil deve crescer 7,5% neste ano e a previsão para o ano que vem é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça entre 5,2% e 5,3%. Temos de detectar as chances que esse aquecimento econômico pode trazer para a empresa. O fato de eu ter trabalhado na subsidiária da China contou muito para a minha vinda ao Brasil. São mercados que passam por momentos econômicos parecidos. A China também está crescendo muito e atrai muitos concorrentes. Todo mundo quer descobrir oportunidades em mercados assim.
DINHEIRO ? A Basf extrai petróleo em outros países. No Brasil, a empresa não atua nesse segmento. O pré-sal seria uma oportunidade de entrar no setor de extração por aqui?
HACKENBERGER ? Se houver chances, poderemos extrair sim. É uma maneira de ficar independente das oscilações do preço do petróleo, de onde sai o nafta, a nossa principal matéria-prima. Mas, por enquanto, não há nada concreto. A nossa empresa, que se chama Wintershall Energia, não é especializada em águas profundas, o que é necessário para chegar à camada pré-sal. Eles atuam na terra e nas águas rasas do mar Nórdico. Não há, portanto, a tecnologia necessária, que, inclusive, ainda precisa ser desenvolvida no País. Mas estamos de olho em todas as oportunidades.
DINHEIRO ? Que oportunidades?
HACKENBERGER ? Para uma indústria química, a produção de petróleo é importante por dois aspectos: nos fornece a matéria-prima e é um grande mercado consumidor de produtos químicos. Dessa forma, outro interesse para nós em relação ao pré-sal é ampliar o leque de tecnologias fornecidas para quem extrai. Os produtos aumentam a capacidade de exploração das reservas dos poços e, consequentemente, a vida útil deles. A extração não é um procedimento simples em que você faz um buraco e retira o petróleo debaixo da terra.
DINHEIRO ? Todos os executivos de multinacionais que desembarcam no Brasil dizem que o Brasil é prioridade. Qual é, de fato, a importância do País para os negócios da Basf?
HACKENBERGER ? Vou te dar um exemplo do que o Brasil significa para a Basf. No ano passado, a Basf faturou 2,9 bilhões de euros na América do Sul. Desse total, 1,9 bilhão de euros vieram do Brasil. Aqui, a nossa meta é crescer 2% acima do mercado químico a cada ano. E acreditamos que o segmento tenha crescimento anual médio de 7% nos próximos dez anos. Então, no País, esperamos crescer em média 9% ao ano.
DINHEIRO ? O sr. acredita que esse mercado continuará a crescer no mesmo ritmo que tem crescido?
HACKENBERGER ? Sim, a região apresenta sinais de estabilidade econômica. É preciso, entretanto, estar sempre atento aos riscos de uma possível desaceleração econômica ou forte variação cambial. Nós estamos atentos e temos aproveitado o bom momento da economia.
DINHEIRO ? De que forma?
HACKENBERGER ? Anunciamos investimentos de 250 milhões de euros, entre 2010 e 2014, que fazem parte de um plano estratégico da Basf, a Estratégia 2020. Esse plano visa ampliar a base de negócios em agronegócios e tintas, além de identificar novas oportunidades nas áreas de insumos químicos. Além das estratégias globais, sempre desenvolvemos uma para cada região onde atuamos. Na América do Sul, pretendemos crescer 2% acima do mercado mundial. Para isso, estamos apostando em inovações. Uma fatia importante disso são os nossos princípios ativos para o agronegócio. A Basf hoje é uma das empresas que mais investe em pesquisa e, em paralelo, em novas plantas transgênicas. A linha de tintas Suvinil também é um alvo importante. Há lançamentos constantes. Alguns recentes foram os produtos sem cheiro. Inovação é a chave para nós. Por isso gastamos 1,4 bilhão de euros todos os anos, globalmente, em pesquisa e desenvolvimento. É a fonte que vai fornecer uma parte desse crescimento.
Plataforma de petróleo na costa brasileira
DINHEIRO ? O sr. anunciou neste ano que há interesse da empresa em aumentar a produção de tintas no Brasil. Como está o projeto?
HACKENBERGER ? Nós pretendemos fazer duas coisas para aumentar nossa participação nesse segmento. De um lado, queremos ampliar as capacidades das unidades já existentes em São Bernardo do Campo (SP) e Jaboatão (PE). Elas vão receber R$ 50 milhões em aportes nos próximos quatro anos. Mas, além disso, o próximo passo vai ser a construção de uma fábrica em Guaratinguetá (SP), onde já temos um polo produtivo que fabrica, entre outros itens, defensivos agrícolas e insumos para tintas, adesivos e papéis. Mas a nova unidade está em fase de estudo. O investimento será de R$ 50 milhões, mas ainda é cedo para anunciar detalhes. No mesmo polo também teremos a nova fábrica de metilato de sódio, um catalisador para a produção de biodiesel, cuja capacidade será de 60 mil toneladas por ano. Nesse nicho já atendemos os maiores fabricantes e, atualmente, trazemoss o produto da Alemanha.
DINHEIRO ? Quais são os segmentos mais promissores para as tintas da Basf no Brasil?
HACKENBERGER ? A indústria de construção civil e a automobilística, para as quais fornecemos tintas e insumos, estão crescendo bastante. Provavelmente, a construção vai continuar crescendo muito nos próximos três ou quatro anos até a Olimpíada e a Copa do Mundo. Depois disso, vai crescer a taxas um pouco menores. Na indústria automobilística deve acontecer de forma mais homogênea. Mas é difícil prever médias de crescimento para esses setores. Além do setor de tintas, vamos fortalecer nossa presença onde ainda não somos muito fortes.
DINHEIRO ? Em quais áreas a Basf ainda não tem força no Brasil?
HACKENBERGER ? Um exemplo é a mineração, indústria que demanda produtos químicos, e uma área que chamamos de produtos intermediários, que são ácidos, aminas e solventes, utilizados por todas as indústrias. Nessa área, o Brasil tem um déficit de US$ 30 bilhões.
DINHEIRO ? Por quê?
HACKENBERGER ? No curto prazo, a razão do gargalo está atrelada à taxa de câmbio. No longo prazo, às plantas produtivas e também à falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento no País.
DINHEIRO ? O que está sendo feito para resolver a questão?
HACKENBERGER ? A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) lançou este ano o Pacto Nacional, cujo objetivo estratégico é posicionar a indústria química brasileira entre as cinco maiores do mundo. A meta é tornar o País superavitário em produtos químicos, identificando oportunidades de crescimento econômico que impulsionem a demanda. Vejo a iniciativa com otimismo. Acredito que, com o lançamento do pacto, haverá muitas oportunidades para o setor nos próximos anos.
Presidente eleita Dilma Rousseff
DINHEIRO ? Como o sr. vê a maneira como é conduzida a política econômica no Brasil?
HACKENBERGER ? Nos últimos meses, as expectativas da forte retomada do crescimento econômico, após a crise, se confirmaram e a América do Sul apresentou um expressivo crescimento em 2010. O PIB brasileiro, por exemplo, cresceu 8,9% no primeiro semestre, o que levou o País a atingir o 8º lugar no ranking das maiores economias do mundo. Um ponto interessante tem sido a redução da desigualdade social.
DINHEIRO ? Quais são suas expectativas em relação à condução da política econômica no próximo governo?
HACKENBERGER ? Acre-dito que o Brasil continuará trilhando a sua política de desenvolvimento econômico por meio dos programas preestabelecidos, como a fomentação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
DINHEIRO ? O que poderia ser melhorado em sua opinião?
HACKENBERGER ? Sem dúvida, o grande desafio são às questões de logística, infraestrutura e a realização de reformas essenciais, como a tributária.
DINHEIRO ? O que o sr. espera do relacionamento entre a presidente eleita Dilma Rousseff e a classe empresarial?
HACKENBERGER ? Acredito que o novo governo dará continuidade à política econômica estabelecida no País.