30/07/2009 - 7:00
R$ 15 mil é quanto os pilotos pagam por prova para ter o carro preparado e toda a assistência da equipe da montadora. É o único rali do mundo com picapes movidas a etanol
“Sou um executivo em busca de qualidade de vida.” É assim que Amaury Olsen define o seu modo de encarar os desafios que surgem pela frente. Ele, que presidiu por 15 anos a Tubos Tigre e hoje faz parte do conselho da multinacional e de mais outras seis empresas, persegue essa tão sonhada qualidade de vida há muitos anos.
E parece ter encontrado a fórmula ideal para equilibrar o trabalho e o lazer. Foi entre a lama, a poeira e a graxa que Olsen achou a válvula de escape que necessitava. Na verdade, ele é mais um entre tantos outros executivos que pilotam uma portentosa picape na categoria Triton RS, nos ralis de velocidade da Mitsubishi Cup, a única prova do mundo cujos carros usam etanol. Mesmo estreando este ano na competição, Olsen já carrega bastante experiência nas pistas de terra.
Antes de pilotar carros, participava de provas off-road de moto e quadriciclo. Só que dessa vez ele não precisa se preocupar com a manutenção do carro, a logística da equipe e com tantos outros detalhes. Basta pagar R$ 15 mil por corrida e a empresa providencia tudo. Apesar de ter o visual da L200 Triton, os veículos são protótipos com motor a etanol de 246 cavalos de potência desenvolvidos especificamente para o rali de velocidade. Todos eles são idênticos e sorteados no início da temporada. De acordo com Guilherme Spinelli, coordenador da Tritron RS, “no valor do aluguel já está incluído tudo, o piloto só tem que se preocupar mesmo em acelerar”.
O participante só gasta mais se bater ou quebrar o carro por mau uso. Por conta dessa comodidade, que a categoria oferece a seus participantes, a maioria dos competidores é formada por empresários e executivos que nem sempre têm tempo para se dedicar totalmente a uma competição. Mesmo assim, são pilotos experientes, pois a modalidade é uma das mais competitivas e velozes do Brasil. Reinaldo Varela, por exemplo, reúne as duas características. É um dos pilotos de rali mais experientes do País e também é dono da rede de restaurantes Divino Fogão, que atualmente conta com 64 filiais. Varela costuma até brincar dizendo que para ele rali é trabalho e administrar a empresa um hobby. “Só faço o que gosto, e adoro fazer rali e cuidar dos restaurantes”, diz o piloto, que afirma não haver melhor maneira de recarregar as energias do que um bom final de semana de competição.
“É ótimo pegar o avião na quinta à noite, treinar na sexta, correr no sábado e voltar no domingo pronto para mais uma semana de trabalho”, diz. Além de muita adrenalina e competição, a Mitsubishi Cup proporciona muitos contatos profissionais. Até no meio dos carros e da poeira é possível fazer negócio. O navegador Beco Andreotti é prova disso. Como corretor na bolsa de valores, Andreotti tem alguns clientes que conheceu no evento. Um deles é o piloto para quem dá as coordenadas, o empresário Christian Baumgart, do grupo Vedacit. Baumgart confia para Andreotti não só as direções que deve tomar nas provas da Mitsubishi Cup como também o curso de suas ações na bolsa de valores.
Mas, para o navegador administrar os caminhos do piloto é muito mais arriscado do que seus investimentos. “Na pista, se eu der uma direção errada, podemos sofrer um acidente, já nas ações o prejuízo seria apenas material”, diz Andreotti. Levando em consideração os resultados, a parceria vai de vento em popa. Afinal, a dupla é a atual líder do campeonato. Christian é piloto de rali há dez anos e, junto com Andreotti, participa do Rally dos Sertões desde que começou a correr. A dupla passa o ano todo desenvolvendo o carro para participar do Sertões, por isso considera muito vantajoso o esquema de aluguel da Triton RS.
“Não precisar me preocupar com o carro e com a estrutura de equipe é muito bom. Assim, posso me focar mais no veículo que uso para participar de competições Cross Country”, diz o piloto, que encara o esporte como um hobby levado muito a sério, bem como seu navegador. Andreotti prioriza tanto o hobby que antes de aceitar o emprego na corretora Um Investimentos, onde trabalha, exigiu que pudesse faltar alguns dias, inclusive os dez em que são realizados o Rally dos Sertões. Nem todos, entretanto, conciliam a competição com o trabalho. Adriano Leão, sócio do grupo Leão e Leão, prefere se dedicar totalmente ao esporte. “Considero o rali uma profissão. Cuido muito do meu condicionamento físico e treino durante a semana”, conta o piloto.
Com três anos e meio de carreira como competidor, ele diz estar muito satisfeito em participar da categoria Triton RS. “O custo- benefício da modalidade é muito bom. Correndo com estrutura própria o valor ia ser bem maior”, afirma. A Triton RS possui sete etapas ao longo do ano e premia em dinheiro os três primeiros colocados de cada prova (R$ 5,5 mil para o primeiro, R$ 4,3 mil para o segundo e R$ 3,2 mil para o terceiro). É uma categoria não muito indicada para quem está começando, porém, tentadora para os que procuram adrenalina e divertimento sem ter que se preocupar com estrutura. É só chegar, sentar e acelerar.