Um dos efeitos causados pelo aquecimento global é o resfriamento mais exacerbado – tornando alguns invernos mais rigorosos – em determinados locais. No Brasil mesmo, experimentamos um inverno bastante rigoroso em 2022, em comparação ao frio que geralmente ocorre por aqui. Alguns países mais frios também enfrentaram esse mesmo efeito.

As ondas de frio ocorrem porque o aquecimento global bagunça o clima do planeta. Mas esses fatores não são indícios que provam que o aquecimento global não existe – pelo contrário. A temperatura média da Terra tem subido, e uma elevação de poucos graus já causa um grande transtorno, entre derretimento de geleiras, desestabilização de habitats marinhos, dificuldade de sobrevivência das algas marinhas (as maiores responsáveis pela produção de oxigênio no planeta).

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Alguns planos já em andamento visam diminuir a emissão de gases de efeito estufa, a fim de não piorarmos o que já estamos causando. No entanto, ainda assim estamos emitindo mais gases do que podemos. Além disso, os efeitos deles são, muitas vezes, de longo prazo, e mesmo que parássemos de emiti-los em escala, os efeitos se alastrariam por algum tempo.

Uma maneira de trazer uma normalidade momentânea à temperatura Terra – até que saibamos como conciliar a indústria com a conservação do meio ambiente, é resfriar levemente a Terra, falando em termos de temperatura média global.

Poeira lunar
No início de fevereiro, uma equipe de pesquisadores publicou uma ideia inusitada em um artigo no periódico PLOS Climate. A ideia trata, basicamente, da possibilidade de resfriarmos a Terra utilizando nada menos do que a poeira lunar.

Fique tranquilo. Ninguém vai morrer sufocado com a poeira. Nem as pessoas morrerão de frio com a diminuição na temperatura da Terra. A ideia pretende apenas refletir, a partir do espaço, uma pequena fração da luz solar que atinge a Terra – entre 1 e 2% dessa radiação. Isso já seria o suficiente para mitigar os efeitos do aquecimento global.

Não há alguma propriedade mágica na poeira lunar. A sugestão dela, na verdade, é apenas para a redução de custos, já que a poeira da Terra também serviria. A questão é o custo de transporte, já que tirá-la da Terra exige muito combustível para vencer o atrito com a atmosfera. Na Lua, a atmosfera é praticamente inexistente, e a gravidade é muito menor. Então, poderíamos enviar uma nave vazia para a Lua, onde recolheria a poeira e levaria ao espaço, economizando grandes montantes de dinheiro, em relação a levar a poeira da Terra. Isso demandaria quantidades enormes de poeira em um imenso projeto, já que é muito mais poeira do que retiramos na mineração em toda a Terra.

A ideia é levar a poeira até o ponto de Lagrange 1 – um dos vários pontos em que há um equilíbrio gravitacional entre a Terra e a Lua, mantendo algum corpo no local com a posição estabilizada. Esse ponto seria o local ideal para uma nuvem de poeira lunar se manter estável por algum tempo.

O plano ocorreu com uma inspiração sobre alguns planetas rochosos em formação. Quando estão se formando, eles liberam grandes quantidades de poeira, formando uma grande nuvem entre o planeta e a estrela hospedeira.

“Essa foi a semente da ideia; se pegássemos uma pequena quantidade de material e o colocássemos em uma órbita especial entre a Terra e o Sol e o quebrássemos, poderíamos bloquear muita luz solar com uma pequena quantidade de massa”, disse em um comunicado Ben Bromley, autor principal do estudo.

“É interessante contemplar como a poeira lunar – que levou mais de quatro bilhões de anos para ser gerada – pode ajudar a resolver a mudança climática, um problema que levou menos de 300 anos para ocorrer”, disse Scott Kenyon, coautor do estudo.

Com a “sombra” dessa nuvem de poeira, a Terra deveria sofrer um leve resfriamento. E isso traz uma vantagem em relação a outros planos: os planos geralmente partem de realizarmos alguma atividade semelhante na Terra – e não no espaço. Isso pode trazer inúmeros efeitos colaterais no complexo clima planetário que mal compreendemos. Mas se mantermos essa poeira apenas no espaço – não devemos ter grandes efeitos colaterais.

“Nossa estratégia pode ser uma opção para enfrentar a mudança climática se o que precisamos é de mais tempo”, diz Bromley.