A Organização das Nações Unidas (ONU) acusa a polícia brasileira de  ser a responsável por cinco mortes a cada dia no País, totalizando  apenas em 2015 cerca de 2 mil incidentes. O alerta foi feito nesta  quinta-feira, 10, pelo Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos,  Zeid Bin Hussein. Essa é a segunda denúncia que as Nações Unidas  apresentam sobre a violência policial no Brasil em apenas uma semana.

Zeid,  nesta quinta-feira, fez seu balanço anual sobre a situação dos direitos  humanos no mundo. Entre os cerca de 30 países citados pelo alto  comissário, a situação brasileira teve seu destaque ao tratar do racismo  contra pessoas afrodescendentes.

“No Brasil, o governo  tomou ações para lidar com os direitos sociais de pessoas  afrodescendentes, especialmente no campo da educação”, reconheceu Zeid.  ”Apesar disso, foi amplamente informado sobre a insegurança que muitos  jovens afro-brasileiros sentem diante da violência policial e da  impunidade”, disse.

“Mais de 2 mil pessoas foram mortas  pela polícia no Brasil no ano passado e eles eram, de forma  desproporcional, de afrodescendência”, acusou Zeid.

Segundo  o relator, outra constatação preocupante também a morte de jovens  afro-americanos nos Estados Unidos, com 300 casos em 2015. “Mais ações  são necessárias em países onde esses casos são registrados, incluindo  medidas para levar os autores à Justiça e garantir um remédio para a  vítimas”, defendeu Zeid.

Na última terça-feira, 8, o  relator da ONU para a prevenção da Tortura, Juan Mendez, também atacou o  Brasil por não dar respostas à violência policial. Para ele, os  homicídios cometidos por policiais não são a exceção, mas, sim, “a  regra”.

Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos,  viajou até Genebra, na Suíça, nesta semana para dar uma resposta ao  informe. “Existe um problema de impunidade muito grave no País”,  admitiu. “Há tortura no Brasil. Somos um País formado por violações de  direitos humanos. Temos uma cultura de violência. Como mudar? Com um  novo processo histórico com formação em direitos humanos”, disse.

Para  ele, parte da explicação é a construção histórica do Brasil. “É  evidente que não mudaremos uma cultura de violência de pelo menos 500  anos de uma hora para outra. Mas tenho a convicção de que recentemente  começamos a transformar essa cultura de discriminação e de violência em  favor de uma cultura de direitos”, disse.

Como tem feito  nos últimos dez anos em reuniões da ONU, o governo listou os diversos  programas e iniciativas que adotou, “indicando o caminho para a ruptura  do ciclo de impunidade e violência no País”. Entre os programas e  instituições citadas estão o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à  Tortura e a criação de um Mecanismo Nacional de Combate à Tortura.