Manaus - Sepultura de Gezildo Nunes da Silva, um dos mortos durante a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Sepultura de detentos mortos durante a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio JobimMarcelo Camargo/Agência Brasil

Depois de oito meses de investigações, a Polícia Civil do Amazonas concluiu nesta semana o inquérito que apurou as mortes de 56 de detentos em janeiro no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), localizado no km 8 da BR-174. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (1°), a corporação anunciou que 210 presos foram indiciados por envolvimento no massacre.

A rebelião começou por volta de 16h, no primeiro dia do ano, quando alguns detentos do pavilhão 3, entre eles membros da facção criminosa Família do Norte (FDN), renderam agentes e trocaram tiros com policiais militares em uma área da unidade prisional, chamada de “Seguro”. Lá ficavam os presos considerados vulneráveis e alguns membros de outra facção, o Primeiro Comando da Capital (PCC). A conclusão do inquérito é de que as mortes no Compaj ocorreram por rivalidade entre a FDN e o PCC.

“Nós temos nos autos temos relatos de testemunhas oculares informando que foi lida uma carta em reunião, dentro de uma das celas, determinando, de forma bem orquestrada, como se daria o massacre. A partir da última visita daquele dia, eles entrariam em campo, invadiriam a portaria e fariam reféns para que não houvesse o controle estatal e começariam a chacina propriamente dita”, explicou a delegada Emília Ferraz.

Investigação

Manaus - Portão principal do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), na capital amazonense (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Portão principal do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj)Marcelo Camargo/Agência Brasil

A equipe de investigação realizou perícias no local e exames de necropsia e de DNA nos corpos. Imagens captadas pelas câmeras do circuito interno do presídio também foram analisadas. Além disso, de acordo com o delegado-geral adjunto da instituição, Ivo Martins, 350 pessoas foram ouvidas.

“O conjunto fático de inquéritos trabalha com várias situações, 210 foram indiciados, mas a gente ouviu vítimas de constrangimento, tortura e outros tipos de procedimentos. Ouvimos agentes de ressocialização que trabalharam naquela situação e autoridades em relação a isso. Enfim, uma gama muito grande de informações que obtivemos, testemunhais, de detentos, até dos indiciados, informações sigilosas e confidências de algumas pessoas, inclusive de outros estados, que nos fez compreender como esse evento fatídico ocorreu naquele dia”, contou Martins.

A investigação apontou que, além da rivalidade entre as duas facções, havia provocações em relação aos familiares dos detentos. “É bom ressaltar que outra motivação era o comportamento dos presos do PCC dentro do sistema prisional. Em várias oitivas, inclusive de agentes de ressocialização e de autoridades, ficou bem claro que eles faziam chacotas com os presos da FDN. Não obstante a rivalidade, uma motivação muito forte que todos eles apresentaram era essa, o comportamento dos internos do PCC em relação aos familiares e presos da FDN”, completou Emília Ferraz.

A rebelião no presídio foi coordenada por dois detentos conhecidos como “Maguila” e “Caroço”, que foram transferidos no dia 11 de janeiro para presídios federais juntamente com outros 15 presos. A ordem do massacre partiu do líder da FDN, José Roberto Fernandes Barbosa, o “Zé Roberto da Compensa”, que cumpre pena em um presídio federal em Campo Grande.

O inquérito da Polícia Civil sobre o massacre tem 2.600 páginas e será enviado à Justiça na próxima segunda-feira (4).