09/11/2020 - 11:53
A polícia austríaca realizou operações de buscas em mais de 60 lugares supostamente ligados a radicais islâmicos nesta segunda-feira, onde milhões de euros em dinheiro foram apreendidos, e ordenou que 30 suspeitos se apresentassem à polícia, anunciaram as autoridades.
A operação aconteceu uma semana depois que um simpatizante do grupo jihadista do Estado Islâmico (EI) matou quatro pessoas em um tiroteio no centro de Viena, mas os procuradores indicaram que as buscas não estavam relacionadas ao ataque.
O ministro do Interior, Karl Nehammer, afirmou que, com a intervenção, a polícia busca “atacar as raízes do Islã político”.
A investigação está focada em “mais de 70 suspeitos e várias associações suspeitas de pertencer e apoiar as organizações terroristas da Irmandade Muçulmana e do Hamas”, informou o gabinete do procurador da região da Styria.
Além disso, “30 dos suspeitos” foram ordenados “a comparecer imediatamente para interrogatório” pela polícia, acrescentou.
“A operação não tem relação com o ataque terrorista de 2 de novembro em Viena”, afirmou a Procuradoria, mas é resultado de “investigações extensas e intensas realizadas por mais de um ano”.
Entre os supostos crimes estão formação de associação terrorista, financiamento do terrorismo e lavagem de dinheiro.
As incursões começaram no início da manhã e aconteceram nas regiões da Estíria, Caríntia, Baixa Áustria e Viena.
Na operação, apelidada de “Luxor”, participaram mais de 930 agentes, que apreenderam milhões de euros em dinheiro, conforme explicou em coletiva de imprensa o diretor de Segurança Pública, Franz Ruf.
– “Ideologia hostil” –
“Agimos com todas as nossas forças contra essas organizações criminosas, extremistas e desumanas”, disse Nehammer em um comunicado.
A Procuradoria ressaltou que a operação não tinha como alvo “os muçulmanos ou o Islã como comunidade religiosa”. “Ao contrário, essas medidas também buscam proteger os muçulmanos, cuja religião é abusada para fins de uma ideologia hostil à Constituição”, afirmou.
O tiroteio da última segunda-feira foi o primeiro grande ataque desse tipo na Áustria em décadas e o primeiro a ser atribuído a um jihadista.
O agressor foi identificado como Kujtim Fejzulai, um austríaco-macedônio de 20 anos que em 2019 havia sido condenado pela tentativa de viajar à Síria para lutar ao lado do grupo Estado Islâmico.
A Áustria reconheceu ter cometido erros de segurança antes do ataque, como omissão de ação em relação aos alertas emitidos por Alemanha e Eslováquia sobre Fejzulai e seus contatos.
O diretor da Luta Antiterrorista em Viena (LVT) foi afastado na semana passada, depois que vários relatórios sobre falhas de inteligência vieram à tona.
“Temos que desenvolver um conhecimento amplo, na Áustria não temos [conhecimento] de tal envergadura”, lembrou Ruf, referindo-se aos serviços de inteligência nacionais.
Ruf confirmou que Fejzulai se encontrou com islâmicos alemães e suíços em Viena em julho passado. Entre eles estavam alguns dos contatos de Fejzulai que foram presos após o ataque.
Apesar dessa reunião e de Fejzulai tentar comprar munição na Eslováquia, ele foi autorizado a permanecer em liberdade condicional porque informações relevantes nunca chegaram ao sistema judicial.
Na semana passada, o governo também ordenou o fechamento de duas mesquitas em Viena que o agressor costumava visitar.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus, Clement Beaune, deverão se reunir nesta segunda-feira em Viena com o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, com quem vão abordar a cooperação transfronteiriça na luta contra o terrorismo.
Na terça-feira, Kurz viajará a Paris, onde se encontrará com o presidente Emmanuel Macron, antes de participar de uma teleconferência com a chanceler alemã Angela Merkel; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e Charles Michel.
Uma minicúpula que será dedicada à resposta do bloco europeu à ameaça terrorista, segundo a presidência francesa.