30/03/2014 - 11:11
A polícia do Rio de Janeiro e o exército brasileiro ocuparam na manhã deste domingo, em quinze minutos e sem encontrar resistência, o complexo de favelas da Maré.
A operação faz parte do processo de pacificação da Maré, na zona norte do Rio, onde vivem cerca de 130.000 pessoas. A região é considerada um dos maiores redutos do tráfico de drogas da cidade, assim como uma área de grande violência urbana.
Para a ocupação, foi necessária a mobilização de 1.180 policiais militares de diversas unidades, apoiados por 15 blindados, 132 policiais civis e quatro helicópteros – informou a Secretaria de Estado de Segurança Pública.
O Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar abriu o caminho, segundo constataram repórteres da AFP no local, seguido de um grupo de fuzileiros navais estrategicamente posicionados nas interseções.
No início da manhã, algumas barracas de comida já abriam e as pessoas começavam a ser vistas nas ruas. A maior parte dos moradores encontrados pela equipe da AFP parecia estar incomodada com o barulho ensurdecedor dos helicópteros que sobrevoavam de perto as comunidades que fazem parte da Maré.
“É muito bom o Estado estar presente em todos os lugares do Rio”, disse à AFP um morador que identificou apenas como Jorge. “Agora tudo vai depender dos policiais que vão ficar aqui. Porque tem aqueles que cometem abusos. Se eles começarem a entrar nas casas das pessoas, se enfiarem o pé na minha porta, não vai dar certo”.
Inúmeros jornalistas estavam presentes na ocupação, amplamente midiatizada, que foi anunciada há uma semana e iniciada por operações policiais isoladas.
“A retomada do território pelas forças do governo é uma coisa boa, mas a maneira, sem respeitar os direitos das pessoas, é algo mais delicado”, avalia Alberto Aleixo, 46 anos, morador que faz parte de uma associação de desenvolvimento local. “A militarização do processo tem um grande apoio da população. Isso dá votos durante as eleições”, diz.
Alguns enxergam nas operações de pacificação a carta na manga do governador do Rio, Sérgio Cabral. Futuro candidato ao senado nas eleições de outubro deste ano, ele deve anunciar sua saída do cargo nesta segunda-feira.
Iniciadas em 2008, as pacificações já culminaram com a instalação de 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em 174 favelas. Segundo o governo, o objetivo dessas operações é combater o tráfico de drogas nas comunidades.
Durante as operações anteriores à ocupação deste domingo, a Polícia Militar prendeu 60 pessoas, entre eles o traficante Marcelo Santos das Dores. Conhecido como “Menor P”, ele controlava o tráfico em pelo menos 11 favelas.
A ocupação da Maré se equipara, em tamanho, à do Complexo do Alemão. Realizada no final de 2010, a operação mobilizou 2.600 membros das forças de ordem.
Os militares devem ocupar a Maré até o próximo 31 de julho, antes que a polícia do Rio instale a 39ª unidade da UPP, com 1.500 policiais.
A operação militar ocorre num período de retomada na violência no Rio. Desde janeiro deste ano, oito policiais foram mortos, quatro deles membros das UPP.
O governador Sérgio Cabral fez um apelo às autoridades federais e conseguiu a autorização da presidente Dilma Rousseff para que os militares reforçassem a segurança pública ao lado da polícia do Rio.
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