13/11/2019 - 17:35
A Polícia Civil de Mato Grosso em Cocalinho, a 850 km da capital Cuiabá, e o Instituto Chico Mendes de Conservação e da Biodiversidade (ICMBio) tentam identificar quem são as pessoas que aparecem em vídeo que mostra três onças-pintadas, dois filhotes e a mãe, mortas de maneira violenta. A Polícia Civil de Cocalinho iniciou as diligências desde a última terça-feira, 12, assim que recebeu as imagens.
O vídeo circula na internet e mostra os três animais aparecem abatidos, dentro da carroceria de uma caminhonete. A pessoa que filmou, uma mulher, parabeniza um dos suspeitos de ter matado os animais. O homem é chamado pelo apelido de “Carrapicho”. No vídeo, ele conta que os três animais estavam em uma árvore e que chegou a sentir “medo”.
O delegado de Cocalinho, Valmon Pereira da Silva, disse à reportagem que, assim que tomou conhecimento do vídeo, determinou a realização de diligências. Segundo ele, pelas imagens, não haveria como identificar o local onde o vídeo foi gravado. “As primeiras providências para apuração dos fatos já foram tomadas”, afirmou.
Douglas Trent, da ONG Bichos do Pantanal, em Cáceres, disse que recebeu o vídeo pelo aplicativo Whatsapp e que, imediatamente, encaminhou o material para o ICMBio local. Nesta quarta-feira, 13, ele recebeu a informação do Instituto de que o caso está sob investigações e as imagens foram divulgadas para todos os escritórios do ICMBio.
O vídeo foi publicado na página do Facebook do Instituto Onça-Pintada/Jaguar Conservation Fund. Os administradores fazem o seguinte comentário: “o conflito entre onças e seres humanos tem sido uma tragédia para nosso símbolo da biodiversidade”. Até às 13 horas, o vídeo tinha mais de 3,8 mil visualizações e 2,2 mil comentários.
No Instagram, o projeto Onças do Iguaçu também reagiu ao vídeo. “As onças-pintadas estão ameaçadas. Nossa espécie está pouco a pouco invadindo seus habitats, tomando para si seus espaços e deixando esses animais cada vez mais encurralados em áreas pequenas, que geralmente não são adequadas para sua sobrevivência. Acabamos com suas presas e muitas vezes isso acaba levando as onças a se alimentarem de animais domésticos, e aí são abatidas em retaliação”, escreveu. “Estamos cansados do argumento preguiçoso de que ‘caça é cultural’. Muita coisa errada já foi considerada ‘cultural’, inclusive escravidão. Caça é crime.”
O projeto Onçafari, que atua na região do Pantanal, defendeu um trabalho mais efetivo de integração das populações locais e ribeirinhas aos projetos de conservação a fim de promover um processo de desenvolvimento baseado no turismo e na conservação desses animais. “Quando trazemos para nosso lado os moradores que vivem em locais onde as onças existem, mostramos que a onça vale muito mais viva do que morta (em todos os aspectos), começamos a ver uma mudança real no comportamento da comunidade toda e eles próprios passam a proteger a fauna”, defendeu a organização.
Onça-pintada é símbolo brasileiro
Símbolo da biodiversidade brasileira, a onça-pintada ganhou data em calendário nacional, o dia 29 de novembro. A portaria nº 8 é do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e foi assinada em 16 de outubro de 2018.
De acordo com dados oficiais, a onça é o maior felino das Américas e, segundo especialistas do ICMBio, por ser topo de cadeia alimentar e necessitar de grandes áreas conservadas para sobreviver, permanece somente em áreas preservadas. No Brasil, ela vive em diversos biomas: Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga, mas é nesta que ela é mais ameaçada, sendo considerada criticamente em perigo de extinção.