19/01/2022 - 10:09
A polícia israelense destruiu nesta quarta-feira (19) a casa de uma família palestina no bairro Sheikh Jarrah, que se tornou um símbolo da luta contra a colonização israelense em Jerusalém Oriental e palco de fortes tensões.
Policiais israelenses foram à casa dessa família ameaçada de expulsão desde 2017 e objeto de uma campanha de apoio nos Territórios Palestinos e no exterior ao amanhecer, e retiraram as pessoas que ali estavam, segundo um vídeo publicado pela polícia, que fez cerca de vinte detenções durante a operação.
Um fotógrafo da AFP presenciou a demolição da casa neste bairro palestino de Jerusalém Oriental, a parte da Cidade Santa ocupada desde 1967 e posteriormente anexada por Israel. Foi destruído por uma escavadeira, disseram testemunhas.
“Durante a noite, a polícia israelense executou a ordem de despejo de prédios ilegais em um terreno destinado a uma escola para crianças com necessidades especiais em Jerusalém Oriental”, informou a polícia israelense em comunicado.
A polícia afirmou que a família Salhiya se recusou repetidamente a “entregar o terreno”.
Na segunda-feira, logo após a chegada da polícia para realizar o despejo, membros da família Salhiya se barricaram com um barril de gasolina no telhado da casa, ameaçando explodir tudo caso fossem obrigados a deixar o local. Foram realizadas negociações para evitar a violência.
Em maio, manifestações em apoio a famílias palestinas ameaçadas de expulsão em Sheikh Jarrah degeneraram em confrontos com colonos e a polícia israelense, antes de uma onda de violência sangrenta entre Israel e o movimento palestino Hamas em Gaza, o enclave palestino sob bloqueio de Israel.
– Detenções –
A polícia israelense anunciou 18 prisões na operação.
Segundo o advogado Walid Abu Tayeh, 20 pessoas foram presas, entre elas o pai da família, Mahmud Salhiya, e outros membros do grupo – que ele defende – e ativistas que vieram apoiá-los.
“A decisão de despejo diz respeito apenas a Mahmud Salhiya e sua esposa”, que é judia israelense, acrescentou o advogado, especificando que a Suprema Corte examinará o caso em 23 de janeiro.
Cerca de 20 pessoas viviam na casa de 120 m2: Mahmud Salhiya, sua esposa e filhos, além de sua mãe e sua irmã e seus filhos, segundo o advogado.
Após a demolição, vários membros da família se mudaram para casas vizinhas e outros ficaram próximos às ruínas.
Segundo a prefeitura israelense, o terreno foi destinado à construção de uma escola. Grupos que defendem a família consideram que ela poderia ter sido construída em outro lugar.
Centenas de palestinos enfrentam ordens de expulsão de suas casas em Sheikh Jarrah e outros bairros de Jerusalém Oriental. Mais de 300.000 palestinos e 210.000 israelenses vivem agora em Jerusalém Oriental.
Israel considera toda a cidade de Jerusalém como sua capital, enquanto os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental a capital de seu Estado.
Sob a lei israelense, se os judeus puderem provar que sua família vivia em Jerusalém Oriental antes da guerra de 1948 e da criação do Estado de Israel, podem pedir seus “direitos de propriedade”.
Mas não existe tal lei para palestinos que perderam suas propriedades. Os palestinos dizem que suas casas foram compradas legalmente das autoridades jordanianas que controlaram Jerusalém Oriental entre 1948 e 1967.
Israel tomou Jerusalém Oriental na guerra dos seis dias em 1967 e depois anexou-a, em um movimento não reconhecido pela comunidade internacional.