20/06/2018 - 12:38
Rodrigo Correia Martins de Piedade, conhecido como Lorinho, foi preso por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) nesta terça-feira, 19, no Morro do Fogueteiro, região central do Rio, sob a acusação de liderar a quadrilha que vem explodindo agências bancárias e caixas eletrônicos na capital. Havia um mandado de prisão preventiva contra ele. O último caso de banco explodido aconteceu na madrugada desta quarta-feira, 20, em Benfica, na zona norte da cidade.
A operação para prender Piedade teve o apoio de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE). Ele – que foi detido pelo crime de roubo duplamente qualificado – estava em casa e foi encontrado com um veículo roubado e uma pistola calibre .40. A arma havia sido adulterada com a instalação de um “kit rajada”, que faz com que dispare como uma metralhadora. Foram apreendidas fotos em que o suspeito aparece com armamento pesado. De acordo com a polícia, Piedade já tinha ficha por roubo. Outros integrantes da quadrilha já foram identificados.
Entre maio e junho, houve pelo menos oito casos de explosões nas zonas oeste, sul e norte do Rio. Por volta das 2h desta quarta-feira, uma agência do Banco do Brasil que fica na Rua Capitão Félix, em frente à Central de Abastecimento do Estado Guanabara (Cadeg), foi alvo dos bandidos. Dois funcionários que chegavam num caminhão para abastecer na Cadeg foram rendidos. Houve confronto com a polícia e um criminoso ficou ferido. Os moradores acordaram em pânico com os tiros. A agência ficou destruída.
O número de caixas eletrônicos desativados no Rio é o maior do Brasil, pelos números divulgados pelo Banco Central. Em junho de 2016, quando o levantamento foi criado, o país tinha 33,1 mil unidades de autoatendimento. O dado de abril deste ano revela uma queda de 6,1% no total. No Rio, no entanto, a redução foi de 10,4%. Em São Paulo, foi de 8,6%.
O método de explodir caixas eletrônicos foi ensinado a criminosos do Rio por grupos especializados de São Paulo, sobretudo ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com informações do Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MP). O promotor Fabiano Oliveira, que participou da operação TNT no ano passado, disse que o intercâmbio é frequente.
Os caixas eletrônicos possuem um dispositivo sensível ao calor que inutiliza as notas em caso de explosão. Por isso, é preciso saber exatamente o quanto de explosivo utilizar: se for muito, há o risco de inutilizar as notas expondo-as ao calor da explosão; se for pouco, há o risco de não se abrir a parte externa do caixa.
“Eles aprenderam com os grupos de São Paulo a ajustar a quantidade e posicionar os explosivos de modo que, no momento da detonação, conseguem preservar intacta a caixa onde fica guardado o dinheiro para ser aberta posteriormente”, explicou Oliveira.
A atuação dos assaltantes é semelhante. Eles chegam no meio da madrugada, em dois ou três carros, em grupos armados com fuzis e explosivos. Quebram a porta da unidade com uma marreta e explodem o caixa. A ação, em geral, não dura mais de 15 minutos. As quadrilhas usam C-4, um explosivo voltado a grandes demolições e que só pode ser usado com autorização do Ministério da Defesa.
“Um dos motivos para o aumento dos crimes com o uso de explosivos é justamente a falta de tipificação própria, que muitas vezes impede uma punição mais severa ao autor do delito, o que estimula a sua prática”, explicou a Federação Nacional dos Bancos, em nota. “Ao analisar o risco da conduta e a pena aplicada, o criminoso vislumbra ser a mesma proveitosa, uma vez que, ainda que seja capturado, sua pena será reduzida.”
O volume total de dinheiro num caixa pode variar muito, dependendo da região em que se encontra. Mas a operação é altamente rentável. Um único caixa pode ter até R$ 600 mil. “As ações são rentáveis e muito menos arriscadas do que o tráfico de drogas, por exemplo, em que há confrontos com a polícia e com facções rivais, além do risco de perder a mercadoria”, esclareceu Oliveira.