17/04/2002 - 7:00
Se existe um lugar onde os nobres ganham e perdem a pose num piscar de olhos, esse lugar é um campo de pólo. Klabin, Diniz, Mansur, Junqueira Novaes, Souza Aranha, Kalil, não importa o peso do sobrenome. Em cima de um cavalo, galopando furiosamente a 70 quilômetros por hora, com um taco na mão, os membros desses clãs ? cuja paixão pelo pólo passa de geração para geração ? são tão aguerridos quanto um zagueiro argentino em decisão de campeonato. E se existe um lugar onde as disputas chegam a ser antológicas, esse lugar é o Helvetia, em Indaiatuba, interior de São Paulo, um dos mais exclusivos e sofisticados condomínios do País.
Desde 1975, quando foi construído, o Helvetia Polo Country Club, cercado por mansões de campo que chegam a valer alguns milhões de dólares, tornou-se a capital nacional do esporte. É lá que as famílias cujos nomes são sinônimo de riqueza e tradição se enfrentam em disputas quase semanais. Foi após um jogo no Helvetia que Ricardo Mansur, então um competitivo jogador de pólo, teria dado uma garrafada de água Perrier na cabeça de Arnaldo Diniz ? irmão de Abílio, do Pão de Açúcar ?, que era do time adversário. Isso ocorreu no início da década de 90. De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje, a rivalidade entre os clãs chega a ser elegante. A geração seguinte dos Mansur e dos Diniz não perpetuou a prática da briga fora de campo. Ao contrário. Os filhos de Arnaldo, André e Fábio Diniz (considerado um dos melhores jogadores brasileiro de pólo do momento), e Ricardinho Mansur, um dos maiores handicaps do País, primogênito do ex-dono do Mappin, são amigos e até já jogaram no mesmo time.
O clima de camaradagem faz encher as mansões do Helvetia, quando os campeonatos reúnem equipes vindas de outros locais. O empresário carioca Armando Klabin, um dos herdeiros da Klabin, uma das maiores empresas de papel do País, cujos filhos José e Wolff jogam pelos Tigres, time da família há mais de 40 anos, por exemplo, já ficou hospedado na casa de Carlos Alberto Martins Bastos, do Maragata. ?As disputas só existem no campo?, garante Claudemir Siquini, presidente do Helvetia Polo Country Club. Nas confortáveis cocheiras, sempre se encontra espaço também para as montarias dos rivais. Para um torneio no Helvetia, os Tigres chegam a trazer do Rio 36 cavalos, carga preciosa que exige três viagens do caminhão especialmente preparado pela família.
Quando a bola rola no gramado do Helvetia o esporte secular, praticado por sultões, califas e imperadores, desperta fortes emoções em seus praticantes. Há duas semanas, na final da Copa Pólo Ralph Lauren, o time dos Tigres, com José e Wolff Klabin, além dos irmãos Pedro Henrique e João Paulo Ganon, perdeu por apenas um gol do Sapezal, do empresário José Carlos Kalil, numa partida disputadíssima. Ao final do jogo, os integrantes dos Tigres discutiram entre eles, vociferaram contra o juiz ? como em qualquer outro esporte. Na hora da entrega dos prêmios, porém, recuperaram a pose e a calma e ainda tiraram fotos ao lado dos vencedores. Tudo muito civilizado. ?A vontade de vencer é tão hereditária quanto o amor pelo pólo, por isso é fundamental encerrar a disputa dentro do campo?, diz José Klabin. O jovem polista sabe do que está falando. Afinal, integra uma das exclusivas famílias cuja história se mistura com o desenvolvimento do esporte no Brasil.
Trazido pelos ingleses que vieram construir a estrada de ferro Santos-Jundiaí, na década de 20, o elegante jogo logo caiu nas graças das abastadas famílias de fazendeiros, como os Junqueira, da região de Orlândia e de Colina, no interior de São Paulo, onde surgiu o primeiro clube de pólo do País. Alguns anos depois, o pólo chegou a São Paulo pelas mãos da família Souza Aranha. O banqueiro Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha foi lutar por São Paulo na Revolução Constitucionalista de 1932 e acabou conhecendo, no regimento da cavalaria, membros da família Junqueira. Começava ali a formação dos clãs de polistas. Clãs que hoje brilham no cenário internacional do pólo. Em 1995, Olavo Junqueira Novaes, aos 23 anos ? integrante da quinta geração dos Junqueira no esporte ? foi campeão mundial de pólo, na Suíça, tendo o próprio pai, Sylvio Junqueira Novaes, como técnico.