28/09/2001 - 7:00
Na favela da Rocinha, zona sul carioca, 307 pessoas se revezam durante a semana para usar oito computadores em uma pequena sala. São lojistas, estudantes e donas de casa que fazem cursos mensais de informática na Estação Futuro, inaugurada em julho pela organização Viva Rio. De início, a procura elevada surpreendeu os organizadores, que começaram a abrir a sala duas horas mais cedo, às 7 horas. Mesmo assim, a estrutura não foi insuficiente. ?Queremos abrir uma outra sala com 10 micros. As aulas estão superlotadas?, diz Luciano Carvalho, gerente do projeto. Na comunidade, o acesso pela Estação é a única forma de participar do mundo digitalizado. E a regra é a mesma para diversos lugares do País. Hoje, de cada 10 usuários de Internet, quatro estão na classe A e cinco estão na B. Com isso, mais do que uma questão social, a exclusão digital é hoje um empecilho para o crescimento de empresas nacionais. E muitas delas estão cada vez mais convencidas de que, alterando essa realidade, poderão vitaminar suas receitas.
?Qualquer empresa de Internet sabe que o maior limitador das suas atividades é a estreiteza do mercado?, diz Rubem César Fernandes, coordenador do Viva Rio. ?E qualquer empresário de varejo sabe a importância de chegar às classes C e D.? Atualmente, existem 3 milhões de computadores em domicílios no Brasil. É pouco. ?Se conseguíssemos incluir toda a classe B, seria possível dobrar esse número?, afirma Ivair Rodrigues, analista do instituto de pesquisas IDC. E a conta pode ir além. De acordo com ele, com a classe C, esse volume simplesmente quintuplicaria para 15 milhões. ?A inclusão certamente traria um impacto econômico fabuloso?, diz Julio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial. ?A massificação do computador criaria espaço para que toda uma indústria se desenvolvesse.?
Compras on-line. Companhias que fazem transações de comércio eletrônico estariam entre as maiores beneficiadas. Na mesma favela da Rocinha, um projeto desenvolvido pelo Viva Rio e pelo site de compras Mercado Eletrônico está oferecendo mais do que o simples acesso à Internet. O programa está colocando pequenos comerciantes para comprar na rede. Em unidades computadorizadas, os proprietários de bares e de restaurantes poderão comprar bebidas e outros produtos no portal virtual. ?Eles irão adquirir em conjunto, o que reduzirá o preço?, diz Marcos Nader, diretor de marketing do Mercado Eletrônico. ?Quero mostrar para as empresas que até um bar de favela consegue fazer comércio eletrônico e também aumentar o volume de negócios do site?, diz Nader.
Outras que poderiam ganhar com a inclusão são as que vendem componentes ou oferecem serviços na rede. Uma das mais comentadas ações foi a do Computador do Milhão, uma parceria entre a Microsoft, o SBT e fabricantes de micros. Na mesma linha, a Globo.com e Caixa Econômica lançaram o seu financiamento. ?Estamos caminhando para aumentar o número de internautas, e isso graças em grande parte ao setor privado?, diz Alexandre Magalhães, analista de Internet do Ibope eRatings. Desde 1998, o Instituto Microsiga dá cursos gratuitos de informática com duração de cinco meses para menores carentes de 14 anos em 11 creches. Quase 4 mil alunos foram formados. Com a ajuda de empresas como Microsoft, Xerox, Globo.com e Esso, o Comitê para a Democratização da Informática (CDI) formou 94 mil menores de baixa renda. ?Estamos criando um segmento consumidor com um potencial muito grande?, diz o coordenador do CDI Rodrigo Baggio. ?E isso trará benefícios para todos.?