21/08/2014 - 0:00
São Paulo e Pequim tem similitudes. A frota de carros em circulação, na casa dos seis milhões, e os índices alarmantes de poluição talvez sejam as mais significativas. As diferenças são ainda mais marcantes. Embora o uso da bicicleta como meio de transporte urbano aumente exponencialmente em São Paulo e seja hoje uma diretriz das políticas públicas, o contraste com Pequim é grande: 600 mil versus 12 milhões, segundo dados publicados na revista seLecT, em julho de 2013.
Os relatórios do mercado de arte também mostram uma imensa discrepância. Desde 2010, a China figura como a maior venda mundial de obras de arte em leilões e responde por 41% do mercado mundial de arte, enquanto o Brasil nem aparece no ranking. Essa voracidade de consumo sempre auto-alimentou o próprio mercado, já que, tradicionalmente, o colecionador chinês pouco se interessou pelo que acontece para além de suas muralhas. Segundo um estudo da Artprice em parceria com a AMMA (Art Market Monitor of Artron, líder de informação sobre o mercado de arte da China e da Ásia), até 2012 os colecionadores chineses basicamente não compravam arte ocidental por considera-la distante de seus códigos culturais.
Mas o cenário dá sinais de mudança. Especialmente quando vemos uma galeria de arte contemporânea paulistana começar a representar um artista chinês. Ou quando um grupo de vinte colecionadores de Pequim desembarca no Brasil em uma “Art trip”.
Nascido e residente em Pequim, o artista Song Dong esteve em São Paulo pela primeira vez em 2004, para participar da 26ª Bienal e está de volta para realizar sua primeira exposição individual no País, na Baró Galeria. “Agora é diferente. Tenho oportunidade de viver a cidade e transportar um pouco do meu bairro para cá”, disse ele durante um almoço-performance realizado para convidados, na terça-feira 19, durante a montagem da exposição.
Song Dong está produzindo uma instalação em grande escala composta por móveis, portas e janelas de demolição de imóveis locais. Mas a porta de entrada da instalação é a porta de sua casa, transportada de Pequim a São Paulo.
“Ainda não sei dizer qual o nível real de interesse de colecionadores brasileiros em arte contemporânea chinesa. Mas acredito que o trabalho de Song Dong tem uma forte conexão com o Brasil”, afirma a galerista Maria Baró, catalã radicada em São Paulo. “Sua origem humilde em Pequim tem relação direta com a vida de privações de milhares de moradores da cidade de São Paulo”.
A ideia da exposição é promover um paralelo entre Brasil e China e faz parte de um projeto maior de intercâmbio, desenvolvido pela curadora chinesa Sarina Tang. No ano passado, ela levou oito artistas contemporâneos brasileiros para vivencias e residências na China, entre eles Caio Reisewitz, Leda Catunda, Rodrigo Bivar e Marcelo Moschetta.
A exposição de Song Dong coincide com a passagem de um grupo de colecionadores chineses que visita o país pela primeira vez. Em viagem organizada pelo Ullens Center for Contemporary Art (UCCA), espaço localizado no Art District de Pequim, o grupo passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Inhotim, MG. Visitou museus, galerias, coleções particulares e ateliês de artistas, como Ernesto Neto, Tunga, Miguel Rio Branco e Vik Muniz. O intuito era fazer uma panorâmica rasante no contexto local. Mas muitos já voltaram para casa levando alguns exemplares dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira.
A exposição “Regenerar”, de Song Dong, fica em cartaz na Baró Galeria, São Paulo, de 2/9 a 11/10/2014.