14/06/2013 - 21:00
O americano Mark Mobius anda um pouco bravo com o Brasil. Não a ponto de reduzir sua expectativa de investir aqui, onde tem cerca de US$ 5 bilhões aplicados em papéis de diferentes empresas, como Petrobras, Vale, além dos bancos Bradesco e Itaú Unibanco. O presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group tem uma certa ansiedade em ver o mercado brasileiro mais dinâmico para os negócios. “Somos tremendamente entusiasmados com o Brasil, pois há muitas oportunidades”, disse Mobius, por telefone, à DINHEIRO. “Mas o governo precisa criar um ambiente mais amigável para os investidores.”
Especialista em mercados emergentes há quatro décadas, Mobius, 77 anos, que é filho de pai alemão e mãe porto-riquenha, acredita que o setor de consumo, beneficiado pelo crescimento da classe média, é o melhor ramo para se investir no Brasil atualmente. “E continuará sendo no futuro”, afirma o executivo da Templeton, que tem um total de US$ 51,8 bilhões aplicados em ativos de 17 países em desenvolvimento. “Este não é o melhor momento da economia brasileira, mas, no longo prazo, é claro que ela voltará a ter um bom desempenho.” A corrida para as ações americanas da última semana, movimento que teria levado investidores a vender papéis de empresas emergentes, incluindo o Brasil, é minimizada por Mobius. “os EUA não competem diretamente com os mercados emergentes”, diz ele. Confira a seguir o que ele pensa sobre os principais temas em debate no País:
Perspectiva de rebaixamento da nota brasileira pela agência S&P
Nós vínhamos dizendo que era preciso mudar a política econômica do Brasil. Ela foi responsável pelo crescimento baixo do PIB, que ficou aquém das expectativas. As intervenções do governo na economia impactaram no crescimento e na alta da inflação. Estamos mais cautelosos com o modo como o governo está agindo. Isso tem de mudar, com uma reorientação da política econômica para o mercado.
Recuperação dos Estados Unidos e mercados emergentes
Sim, os Estados Unidos podem voltar a crescer, há indicadores mostrando uma recuperação, mas nada tão significativo. E nada que chegue a ponto de afetar os negócios das nações emergentes. Elas não competem diretamente.
Melhor setor para investir no Brasil atualmente
O setor de consumo é o melhor ramo para se investir no Brasil, sem dúvida, e continuará sendo no futuro. Agora pode não ser o melhor momento da economia brasileiro, mas, no longo prazo, é claro que ela voltará a ter um bom desempenho e isso é atraente para o investidor.
Leilões de petróleo
É bem possível que os próximos leilões (que acontecem em setembro) tenham tanto sucesso como o que foi realizado no mês passado. Vai depender dos preços mínimos oferecidos. Será uma oportunidade tanto para a Petrobras como para outras companhias.
Concessões públicas
As concessões que o governo está promovendo são muito importantes para ter uma infraestrutura adequada durante a Copa do Mundo do ano que vem e a Olimpíada de 2016. Mas requerem uma taxa de retorno de investimentos maior, e um ambiente estável. O governo propõe 7% de taxa de retorno para os projetos de concessões, mas esse não é um bom número para projetos de tão longo prazo. Teria de ser algo na casa de 10%. Isso sim criaria uma oportunidade muito boa para atrair investidores.
“Os Estados Unidos podem voltar a crescer, mas nada que chegue a ponto
de afetar os negócios das nações emergentes”
Apoio do setor privado à maior abertura comercial do Brasil
Quanto mais aberto o mercado no Brasil, melhor. Quanto mais acordos, mais o País cresce. Investir no comércio internacional é o melhor que pode existir para o Brasil. Deixar o mercado livre ajuda a acelerar os ganhos em produtividade. Ajuda, por exemplo, a importar máquinas e incentiva a formação de uma mão de obra mais produtiva. A abertura é o melhor caminho. Muito mais do que aumentar as taxas de juros. Manter o País fechado não favorece a competição.
PIB baixo e taxas de juros altas
Aumentar as taxas de juros diante de um crescimento fraco não é a melhor solução. O governo não entende como os negócios funcionam. Nós estamos esperando que esse quadro melhore, reduzindo os juros novamente, e que diminuam as intervenções no mercado, como aconteceu entre as empresas de energia elétrica, por exemplo.
Principais queixas dos investidores sobre o Brasil
Intervenções demais, falta de produtividade, burocracia. O governo tem condições de fazer melhor os rituais burocráticos. O Brasil pode se mirar em exemplos de outros países emergentes que modernizaram suas estruturas para melhorar o fluxo de investimentos. Caso de Cingapura, Hong Kong ou da Colômbia e da China, que eliminaram regras e cresceram adaptando-se às práticas do mundo dos negócios.
Mudanças no setor elétrico
Isso é e será um rótulo negativo para o governo da presidenta Dilma, uma grande cobrança que existe hoje sobre o País. É preciso mudar rapidamente o modo de trabalhar. É fácil melhorar essa imagem. Basta trabalhar de forma mais amigavel os negócios. No final do dia, todo investidor é um executivo, que precisa fazer escolhas.
Ex-presidente Lula
As lições do ex-presidente Lula são muito claras para o mercado. Ele era muito amigável aos negócios. Ele incentivava os investimentos, fez isso muito bem. Essa é a chave para o Brasil. A presidenta Dilma Rousseff não é tão amigável aos investidores quanto seu antecessor. Esse é o sentimento geral que o mercado tem a seu respeito. Nós somos tremendamente entusiasmados com o Brasil, pois há muitas oportunidades de negócios. Mas o governo federal precisa criar um ambiente mais convidativo.