Sobrevoar Ulsan, no sudeste da Coréia do Sul, impressiona. Principalmente quando se tem a informação de que, há 40 anos, aquele local abrigava uma vila de pescadores, onde viviam só 500 pessoas. Hoje, o que se vê de cima é o maior complexo industrial do mundo, numa metrópole que já tem mais de um milhão de habitantes. Numa das pontas do litoral fica o estaleiro da Hyundai Heavy Industries, que é líder global na fabricação de grandes navios. Em outra reentrância costeira está a principal fábrica de automóveis da Hyundai ? também, a maior do mundo. Com capacidade para produzir 1,6 milhão de veículos por ano, a planta ocupa uma área de cinco milhões de metros quadrados e emprega cerca de 34 mil pessoas. DINHEIRO esteve em Ulsan, a mesma cidade onde a seleção brasileira treinou durante a Copa do Mundo de 2002, para entender as razões do sucesso do modelo asiático de desenvolvimento. E a fábrica de automóveis da Hyundai fornece a resposta exata para o enigma. ?Temos um padrão mundial de qualidade, escala global de produção e um custo logístico que é quase imbatível?, disse à DINHEIRO o vice-presidente da montadora, Seok-San Jang.

Para se ter uma idéia do gigantismo da planta de Ulsan, basta dizer que a sua capacidade instalada representa quase 65% da produção de veículos no Brasil ? e por aqui existem nada menos que 34 fábricas de 15 montadoras diferentes. Só que tamanho não é tudo. Nas linhas de produção de Ulsan, onde são produzidos 12 modelos diferentes, incluindo o Tucson, o Santa Fé, o Accent e o Elantra, cada veículo percorre as linhas de montagem com uma pequena folha de papel diante de si. Como a produção é feita praticamente sob demanda, num modelo just-in-time, essa folha aponta destino final do produto e as características especiais de cada automóvel. Assim, os operários terminam os veículos de acordo com a encomenda. Depois de prontos, eles passam pela inspeção e seguem para o pátio do porto. Só que o trajeto não dura mais do que dois ou três minutos. Isso mesmo. O terminal está logo ali, bem ao lado da fábrica. Com um cais de 8,3 mil metros, ele permite a atracação de três navios de grandes porte. E por lá são embarcados nada menos que 4,2 mil carros por dia útil, o que gera um volume anual de 1,1 milhão de veículos exportados. A viagem ao Japão dura dois dias e o trajeto até a costa leste dos Estados Unidos leva duas semanas.

Com uma logística tão afiada, a Hyundai, quecontrola a também coreana Kia, é a montadora que mais cresce no mundo. Ela já ocupa a sexta posição no ranking mundial e sua taxa de expansão anual vem sendo próxima a 20% desde 1998. Embora a meta de chegar ao grupo das cinco maiores esteja prevista apenas para 2010, isso pode acontecer dentro de semanas. ?Se a Daimler vier mesmo a vender a Chrysler, seremos a quinta maior?, diz o diretor Oles Gandacz, um canadense que se transferiu para Seul há vários anos. O foco da Hyundai, no entanto, é bem definido. A meta é superar a Toyota. Se não em quantidade de veículos, ao menos em qualidade. ?Esse é o nosso benchmark?, admite o executivo Jake Jang. E isso, na Coréia, um país que foi ocupado durante quase cinco décadas pelo Japão, gera motivações especiais. ?Nossos custos de produção representam 70% dos da Toyota, mas a nossa produtividade ainda é um pouco menor?, diz Jang. Alcançá-los, segundo dizem seus executivos, é apenas questão de tempo. O que dá tanta certeza aos coreanos é a própria história de perseverança da montadora, que foi fundada há apenas 40 anos, por Ju-Yung Chung. Em 1967, ele era apenas dono de uma oficina mecânica e começou produzindo, sob licença, alguns modelos da Ford. Em 1976, desenvolveu seu primeiro modelo próprio, o Pony, que era talhado para mercados de baixa renda. Cinco depois, depois de um acordo operacional com a Mitsubishi, na área de motores, a empresa começou a produzir carros mais elaborados.

E um dos principais motivos de orgulho ocorreu em 1991, quando a Hyundai começou a exportar motores para a própria Mitsubishi. ?Foi como se o aluno tivesse superado o professor?, diz o diretor Oles Gadacz. Hoje, exportando para mais de 60 países, a Hyundai é um símbolo do novo modelo de desenvolvimento da Coréia, que vem conquistando o mundo também em outras áreas com marcas globais como a Samsung e a LG. E uma prova da autoconfiança dos coreanos é o acordo de livre comércio que acaba de ser fechado com os Estados Unidos. As tarifas de importação de veículos, que são de 8% na Coréia e 2,5% nos Estados Unidos, serão eliminadas. ?Apesar disso, é uma situação ganha-ganha?, diz o vice-presidente Seok-San Jang. ?Teremos mais acesso ao maior mercado do mundo?. Mas se os coreanos estão tendo sucesso, por queos chineses ou os indianos, que hoje produzem modelos mais baratos, não podem repetir a fórmula? ?Nós não os subestimamos de maneira alguma?, diz o gerente Jake Jang. Mas ele lembra que o ambiente econômico de hoje não é o mesmo de quarenta anos atrás. Hoje, as pressões ambientais são muito maiores e a Hyundai trabalha com a meta de zerar suas emissões. Além disso, a empresa tem presença global e vem reforçando sua marca. Parceira da Fifa, a montadora patrocinará as Copas do Mundo de 2010, na África do Sul, e 2014, no Brasil. Além disso, a Hyundai irá inaugurar na sexta-feira 20, em Anápolis (GO), a sua nova fábrica, em parceria com o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, para produzir o caminhão leve HR. ?O Brasil é uma das nossas prioridades?, garante Jang, que se prepara para desembarcar por aqui nos próximos dias.

US$ 27 bilhões foi o faturamento anual da coreana Hyundai em 2006