Série de incursões em espaços aéreos protegidos em toda a Europa expõe vulnerabilidade das defesas do continente, com aeroportos em posição particularmente vulnerável. Mas, o que pode ser feito para resolver o problema?O fechamento do aeroporto de Aalborg, no norte da Dinamarca, após a incursão de drones em seu espaço aéreo nesta semana, é o mais recente de uma série de paralisações causadas por essas aeronaves não tripuladas.

Drones também foram avistados nos aeroportos dinamarqueses de Esbjerg, Sonderborg e Skrydstrup – este último, juntamente com o de Aalborg, também é utilizado pela Força Aérea Real Dinamarquesa. No início desta semana, avistamentos também causaram a suspensão temporária de voos no aeroporto de Copenhague, a capital do país.

O ministro dinamarquês da Defesa, Troels Lund Poulsen, disse em coletiva de imprensa que “tudo indica que este seja o trabalho de um agente profissional”. “Certamente, não parece uma coincidência. Parece sistemático. Isso é o que eu definiria como um ataque híbrido”, afirmou.

Enquanto a polícia investiga o caso, o ministro da Justiça, Peter Hummelgaard, afirmou que “não descarta nada em termos de quem está por trás disso”.

Embora não haja confirmação de que a Rússia esteja envolvida nos incidentes na Dinamarca, incursões recentes de aeronaves não tripuladas no leste da Europa levaram a Otan a agir.

Em resposta à entrada de drones russos no espaço aéreo polonês no início de setembro, o secretário-geral da aliança militar do Atlântico Norte, Mark Rutte, anunciou uma nova operação chamada Sentinela Oriental, para proteger seu flanco leste.

As autoridades dinamarquesas são apenas as últimas a encontrar drones difíceis de identificar e conter, e lidar com eles em um ambiente aeroportuário representa um conjunto de desafios muito diferente daqueles normalmente enfrentados pela Otan ou pela União Europeia (UE).

Aeroportos não conseguem impedir incursões

Os drones, ou algum tipo de veículo aéreo de combate não tripulado, têm sido amplamente utilizado por militares desde a década de 1970. Hoje em dia, se tornaram um elemento da guerra moderna, particularmente no conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Mas a tecnologia também tem avançado rapidamente no mercado comercial, de acordo com Richard Gill, fundador e CEO da empresa de segurança Drone Defence.

“Drones são mais fáceis de obter e usar”, disse Gil à DW. “Os preços estão caindo drasticamente. As pessoas agora podem fazer coisas a partir de seus galpões de jardim para as quais seriam necessárias capacidades militares avançadas há apenas 10 ou 15 anos.”

Isso representa um problema real para os aeroportos, que precisam manter controles rígidos sobre seu espaço aéreo. “Foi demonstrado mais uma vez, no caso da Dinamarca, que voar com drones sobre aeroportos resultará na suspensão do tráfego aéreo”, disse Jukka Savolainen, do Centro Europeu de Excelência para Combater Ameaças Híbridas (Hybrid CoE), à DW. “Nenhum risco à segurança da aviação é tolerado.”

Este precedente, que já levou ao fechamento de aeroportos em todo o mundo – de Nova York e Londres a Dubai e Frankfurt – significa que pessoas mal intencionadas podem causar graves interrupções. A facilidade de acesso, portanto, significa que amadores também podem facilmente fechar um aeroporto se perderem o controle da navegação.

Por que aeroportos não podem abater drones?

Na guerra, drones são abatidos o tempo todo. Mas, embora as agências de segurança possam ter suas suspeitas, muitas vezes é impossível determinar à distância se um drone é militar ou recreativo antes que ele desapareça de vista. Mesmo quando isso é possível, existem preocupações significativas com a segurança.

“Não é fácil atingir um drone com projéteis cinéticos, então é preciso disparar muitos deles para se ter uma probabilidade satisfatória de acerto”, disse Savolainen, da Hybrid CoE, que trabalha para combater ameaças híbridas em conjunto com os Estados-membros da UE e da Otan. “Mas, mesmo que atinjam, a grande maioria dos projéteis funciona de tal forma que os drones caem após o disparo. Portanto, eu não recomendaria atirar em áreas densamente povoadas, a menos que o drone seja visto como uma fonte de ameaça imediata e perigosa.”

Considerando que é difícil avaliar uma ameaça à distância e que os aeroportos geralmente estão próximos de áreas urbanas, os perigos de danos colaterais, somados ao custo de abater um drone, tornam isso praticamente impossível. Segundo Gill, dada a velocidade do desenvolvimento dos drones, há atrasos na legislação que deixam os aeroportos vulneráveis.

“Nem todos os aeroportos possuem um sistema de detecção capaz de compreender o que está acontecendo. Portanto, normalmente dependemos de pessoas em terra, membros das equipes de segurança, que relatam os avistamentos. Então, como você responde a isso? Se você fosse abater os drones, quem atiraria?”, questionou. Atualmente, os aeroportos comerciais não têm base legal para abater drones.

Há outras defesas contra drones?

Ao contrário das bases aéreas militares ou civis-militares, os aeroportos estritamente comerciais, especialmente os que não são hubs internacionais com muitos recursos, não têm muitas ferramentas à disposição. Identificar drones por radiofrequência, transmissões de vídeo, radar ou câmeras de segurança está entre as medidas preventivas que os aeroportos podem lançar mão, embora detê-los, mesmo depois de identificados, continue sendo um desafio.

Como resultado, suspender as atividades – geralmente uma medida extrema – costuma ser a primeira reação quando drones são avistados em uma área não autorizada.

Há um número cada vez maior de produtos voltados para o combate aos drones, tanto para o mercado comercial quanto militar. Mas a atualização dos sistemas de defesa aeroportuária é um negócio de alto custo e provavelmente exigiria atualizações constantes.

O CEO da companhia aérea Ryanair, Michael O’Leary, sugeriu que os governos deveriam arcar com a conta de um problema que ele descreve como “irritante”. “Esta é uma questão de segurança para os governos nacionais. Não é algo a se exigir dos aeroportos”, disse.

A UE parece, até certo ponto, concordar com essa análise. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse no início do mês que a Europa deve “construir um muro contra drones” na tentativa de conter a ameaça de novas incursões desses objetos no espaço aéreo europeu.

Apelidado de Eastern Flank Watch (“Vigia do Flanco Oriental”), o “muro” será um projeto de cooperação que envolverá Polônia, Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia com o objetivo de fortalecer as defesas nas fronteiras orientais da UE.

O projeto utilizará medidas semelhantes às disponíveis para os aeroportos, mas, fundamentalmente, também poderá ser capaz de derrubar drones que representem ameaça, embora os detalhes sobre isso ainda sejam escassos. Também terá, segundo as informações, um custo por uso significativamente menor do que os atuais sistemas de defesa aérea, projetados para aeronaves tripuladas e mísseis tradicionais.

“Esta não é uma ambição abstrata”, disse von der Leyen. “É o alicerce de uma defesa confiável.”