Um país tropical, com abundantes recursos naturais, um imenso mercado interno, mas às voltas com sérios problemas de infraestrutura e de corrupção no poder público, com uma vida política atribulada e com um passado de ditaduras sanguinárias. Diante dessa descrição, qualquer um diria que estamos falando do Brasil. Mas esse é o retrato atual do arquipélago da Indonésia, conjunto de 17 ilhas, situado no Sudeste Asiático, que superou o País no ranking das nações mais atraentes para investimentos diretos, segundo relatório da Confe­rência das Nações Unidas para o Comércio e Desen­volvimento (Unctad), divulgado na quinta-feira 5. A Indonésia passou para quarto lugar da lista, atrás da China, dos Estados Unidos e da Índia, enquanto o Brasil caiu para o quinto. 

 

64.jpg

 

Não por acaso, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, esteve na semana passada, na capital, Jacarta, em sua primeira visita oficial à Indonésia, um país de 238 milhões de habitantes que só recentemente, em 2004, teve seu primeiro governo democrático eleito pelo voto. Em pauta, novos acordos comerciais. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, também visitou o país na semana passada para passar o chapéu, depois que o governo indonésio acenou com US$ 1 bilhão para o fundo. O bom momento da Indonésia, cujo PIB deve crescer 6,1% neste ano, praticamente o mesmo nível de expansão de 2011, não aconteceu do dia para a noite. Desde sua independência, em 1945, o país, colonizado pela Holanda, que é hoje a 18ª economia do mundo, trabalha para ampliar seu parque industrial. 

 

Com forte produção de produtos básicos, como petróleo, gás e minério – a Vale, por exemplo, mantém uma unidade fabril de exploração de níquel –, o Estado indonésio investe numa legislação mais amigável para atrair o capital privado, principalmente para atividades ligadas a produtos de maior valor agregado. Na terça-feira 10, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, esteve no país para debater com o governo a adaptação às novas regras do setor de mineração, que estabelecem, por exemplo, a criação de unidades de venda e transporte de minério locais, de modo a aumentar a cadeia produtiva das empresas que exploram produtos básicos. A Vale Indonésia já anunciou que investirá entre US$ 2 e 3 bilhões na operação. 

 

Um dos diferenciais da Indonésia, que deveria inspirar o Brasil, é a obstinação para desenvolver uma legislação consistente que desse suporte às parcerias público-privadas. Com portos e aeroportos saturados, o arquipélago não tinha tempo a perder. Trata-se de um gargalo assustadoramente similar ao brasileiro. Mas os indonésios conseguiram administrar suas diferenças para assegurar o ritmo do desenvolvimento econômico. O Brasil, infelizmente, ainda se perde comprando brigas políticas a favor ou contra a privatização, como se o cidadão comum se importasse com isso. 

 

É um despropósito que o Brasil tenha bilhões de reais disponíveis para saneamento, mas que as verbas não sejam desembolsadas por falta de projetos das prefeituras, que por sua vez não entendem patavina da legislação exigida pelo governo federal. O mundo já mudou muito nos últimos anos e a sociedade brasileira não pode mais ignorar esse fato. A falta de investimentos em vias públicas ou de tratamento de água e esgoto nos afeta diariamente. O momento de tratar a população de maneira mais respeitosa diante da expansão econômica que o País vive há duas décadas é agora. Estudar (e tentar colocar em prática) os ensinamentos da experiência da Indonésia é um bom caminho.