Não era segredo que a chinesa Lenovo, a segunda maior fabricante de computadores do mundo, havia anos pretendia comprar uma empresa no Brasil. Seu sonho de consumo sempre foi a curitibana Positivo Informática, a líder do mercado brasileiro de PCs. O negócio com a companhia do empresário Oriovisto Guimarães não foi para a frente, mas isso não fez os asiáticos desistir de incorporar uma competidora local. Com o malogro da primeira opção, eles olharam para a paisagem em busca de outro alvo. E ele foi identificado: a veterana CCE, uma das mais tradicionais marcas de eletroeletrônicos do País. A empresa brasileira, que pertencia à Digibras, foi arrematada por R$ 300 milhões. 

 

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Negociação suada: a fabricante chinesa, presidida por Yang Yuanqing, levou um ano e meio

para concretizar a compra da companhia brasileira

 

O montante pago à família do empresário Isaac Sverner, fundador da CCE, foi dividida da seguinte forma: um quarto em ações e três quartos em dinheiro. A negociação levou um ano e meio até ser concretizada, o que demonstra a importância dessa aquisição para os planos da Lenovo. Mas, afinal, por que a busca incessante por um ativo no Brasil? Mais: por que a escolhida foi a CCE, uma companhia que não está entre as estrelas do mercado? O ponto de partida para entender a opção dos chineses é observar que esse é um caminho mais curto para turbinar a atuação da Lenovo. “Vamos diminuir nosso custo de produtividade no Brasil”, diz o CEO da Lenovo, Yang Yuanqing. 

 

Com a soma de sua participação com a da CCE, agora a Lenovo chega ao terceiro lugar no Brasil, com 7% de participação, ainda atrás de Positivo e HP, que fecharam 2011, respectivamente, com 15,6% e 9%. Além de melhorar sua posição no País, a compra da CCE deve colocar a Lenovo na liderança do mercado mundial de computadores. De acordo com a Gartner, a companhia, no segundo trimestre de 2012, havia vendido apenas 200 mil unidades a menos que a líder HP, o que é pouco menos que a produção da atual da CCE. É evidente que, para a liderança se consolidar, ainda é preciso que o negócio seja aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e que a Lenovo continue a crescer. Como se vê, a Lenovo tem se esforçado para chegar ao topo. 

 

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A questão é: vale a pena tanto empenho? A dúvida surge porque se trata do movimento oposto aos de seus principais concorrentes, a HP e a Dell. Ambas já se afastam desse segmento, que trabalha com margens apertadas. Além disso, os desktops e notebooks não encantam mais os usuários. O reflexo disso é que o mercado de PCs no mundo registrou uma retração de 0,1% no segundo trimestre de 2012, em comparação ao mesmo período de 2011, de acordo com a Gartner. Já o segmento de tablets, por sua vez, saltou 66,2%, segundo a IDC. A avaliação da Lenovo, no entanto, é que o PC ainda tem lenha para queimar. “Vamos fazer a escala trabalhar a nosso favor”, diz Milko Van Duijl, vice-presidente da Lenovo para a América Latina. Outro ponto a favor, segundo Duijl, é que os concorrentes se voltaram para os serviços, enquanto a Lenovo prioriza o hardware. 

 

Essa cultura poderá animar a CCE, que pecou na década de 1990 por ter um processo vagaroso – verticalizada, ela fazia desde embalagens até pesquisa tecnológica, o que a deixou lenta. Para Roberto Sverner, CEO da CCE, a influência da Lenovo será benéfica. “Estamos aumentando nossa família”, afirmou Sverner. Ele continuará responsável gestão da marca CCE. Aos poucos, porém, a filosofia “PC+” da Lenovo deve se impor, com aparelhos híbridos, como o Yoga, um laptop que, ao ser dobrado, opera como tablet. “O PC vai sempre existir, mas talvez não da mesma forma”, disse o CFO da Lenovo, Wong Wai Ming, que, durante o evento que selou a compra da CCE, andava tranquilamente com duas mochilas negras, uma em cada ombro. “São PCs”, disse, sorrindo. “É o meu negócio.”

 

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