Ganharam notas de rodapé na imprensa brasileira duas pesquisas importantes sobre o aumento da desigualdade no mundo. O primeiro estudo, patrocinado pela ONG britânica Oxfam, mostra que os integrantes do grupo que compõe o 1% mais rico da população mundial terá mais dinheiro do que os demais 99% somados em 2016. Dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) trouxeram também más notícias para quem estuda o tema. Segundo o relatório, a pobreza parou de cair na América Latina.

No Brasil, a despeito da queda do índice de pobreza, que passou de 18,6% da população em 2012 para 18% em 2013, o número de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza aumentou de 5,4% para 5,9%. É preciso reconhecer que nos últimos 12 anos importantes políticas de transferência de renda foram promovidas pelo governo brasileiro. O Bolsa Família e o aumento do salário mínimo foram fundamentais para melhorar a vida da população mais pobre e ajudaram a inserir um contingente estimado em 40 milhões de pessoas no mercado de consumo.

Esse esforço não é pouco, mas é ainda insuficiente para eliminar o abismo distributivo que envergonha nossa sociedade. O pior é que, em seu segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff parece ter optado por interromper essa trajetória de inclusão, adotando medidas de austeridade fiscal para aumentar a arrecadação, que penalizam o bolso dos trabalhadores, em particular dos que vivem de salário. Se quisesse atacar realmente a desigualdade, o Brasil deveria adotar uma ampla reforma tributária, que instituísse a tributação progressiva de impostos e taxas maiores sobre herança e propriedade, medidas defendidas pelo economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller O capital no século XXI, em entrevista recente à DINHEIRO.

Essas medidas não são apoiadas, diga-se, por comunistas, nem por esquerdistas do século passado. Em países como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, símbolos do capitalismo, onde são praticadas, o imposto sobre herança é de cerca de 40%. No Brasil, é de 4%. Até mesmo o presidente americano Barack Obama, em seu discurso de abertura dos trabalhos parlamentares de 2015, defendeu aumentar as taxas das grandes fortunas. O investidor Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, diz repetidamente que seus compatriotas mais abastados pagam parcelas menores de suas rendas em relação à classe média, porque os ganhos em investimentos são taxados em proporções mais reduzidas.

O livro A revolução dos bichos, do escritor inglês George Orwell, lançado em 1945, um verdadeiro libelo ao stalinismo que dominava a então União Soviética, conta a história de animais que expulsaram o dono de uma fazenda e construíram uma sociedade igualitária com base em sete mandamentos que resumiam a filosofia do “animalismo”. O sétimo desses princípios dizia que “todos os animais são iguais”. Com o passar do tempo, surgiu uma casta burocrática que passou a comandar a propriedade e mudou as regras sorrateiramente. O sétimo mandamento, por exemplo, alterou-se para “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”. A julgar pela renda que alguns poucos ainda detêm, lá fora como aqui, nada mais verdadeiro.