07/02/2023 - 8:22
O setor de Tecnologia segue com cortes na força de trabalho: em 10 dias, pelo menos 4 grandes empresas anunciaram demissões em massa. Só em 2023, a onda de demissões das big techs chegou à casa de 55 mil profissionais.
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- A gigante americana IBM vai cortar cerca de 3.900 empregos, pouco mais de 1% de sua força de trabalho;
- O BuzzFeed anunciou que cortará cerca de 12% de sua força de trabalho para conter custos;
- A Dell anunciou nesta segunda-feira que vai cortar cerca de 6.650 trabalhadores, ou 5% de seus funcionários;
- A PayPal deve demitir 2 mil funcionários, cerca de 7% da sua força de trabalho.
Na primeira semana de janeiro, uma carta assinada por Sundar Pichai, CEO da Google e da Alphabet, anunciava a demissão de 12 mil pessoas. Na mensagem, falava-se em “Uma decisão difícil para nos preparar para o futuro”. Na mesma linha, a demissão da Dell também falou em ‘futuro’, mas com tom ainda maior que mira na situação de países da Europa e nos EUA: o mercado e a companhia “continuam a corroer com um futuro incerto”.
Mas afinal, qual seriam os motivos desse ‘futuro incerto’? Analistas avaliam que o movimento de retração no setor de Tecnologia chegou nas big techs e nos pequenos empreendedores: falta capital, a inflação cresce e os sonhos tecnológicos estagnaram no pós-pandemia.
O que faz o futuro do setor de tecnologia ser tão incerto?
Para Samuel Barros, pró-reitor de pós graduação do Ibmec RJ, essa incerteza já é ‘do jogo’. “Existem alguns motivos para o setor de Tecnologia considerar o futuro incerto. Podemos destacar como principal as crises econômicas, a potencial recessão mundial, fora as ações de segurança e defesa de dados. Neste momento, a descontinuidade de projetos em Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Metaverso ou com tecnologias que não terão aplicações também acaba por acelerar as demissões”, avalia.
Projetos foram colocados à prova desde 2020 para cá, e muitas inovações acabaram por não acontecer, avalia o professor do Ibmec. “Inovação e aceitação de inovação não é um evento linear. É natural haver momentos de ajuste e de arranjo. Não foi erro de avaliação nas expectativas, mas certamente, o mercado agora será bem mais cauteloso nas projeções”, justifica.
A recessão, fase de contração no ciclo econômico com altos preços, desemprego e queda da renda familiar, entre outras características, aparece em algumas justificativas das demissões. “É um momento inflacionário. O período de capital barato, quando as empresas puderam se expandir rapidamente, se encerrou. Há uma perspectiva de menor crescimento econômico e a possibilidade de recessão nos EUA. Assim, o futuro incerto é no sentido de que a economia pode crescer menos, e crescer menos gerará menos demanda por serviços de certas empresas”, explica Renan Pieri, professor de Economia da FGV EAESP.
A mudança de demanda ainda é sustentada pelos analistas. “A pandemia gerou outros serviços em soluções digitais. Passaram a comprar mais pela internet; vender, comercializar serviço digitais… isso gerou demanda extra e forte para essas empresas, que contrataram bastante. A Amazon é um exemplo, pois dobrou o número de funcionários” recorda Pieri.
“Esse ajuste agora faz parte do processo de redução da demanda pós pandemia. Toda a demanda adicional, embora tenha ficado, não existe mais. “Não se trata de grande crise setorial, mas já era esperada”, acrescenta o professor da FGV.
Walmir Torrente, CEO da desenvolvedora de softwares bancários Bit One, também defende a tese de que o futuro incerto mencionado já é esperado. “As empresas o citam porque já acontece: se trabalha com previsão, então se olha para frente e pensa se vale a pena. São projetos de software, que demandam tempo. O que fazemos para agora não é para agora; e sim daqui 6 meses, pelo menos ou até 3 anos, a depender do tamanho. Precisa investir muito dinheiro imediatamente e esperar o caixa lá na frente. Sempre foi incerto”, explana.
Investimentos estão no fim?
Outra pergunta que se faz é: o mundo digital está abarrotado de empresas? Segundo Barros, pode-se dizer que existem empresas com focos muito similares buscando se posicionar primeiro em diversas áreas da economia, inclusive no digital. “Não vejo o setor superpopuloso e sim, um conjunto de empresas buscando rentabilizar seus investimentos”, defende.
A geração de receita também é um elemento que está em dificuldade nas empresas de tecnologia. “A dificuldade de monetização pode ser apontada também como um dos motivos de demissão. Contudo, apontar essa causa em empresas lucrativas e que já estão consolidadas não é válido. Quando falamos de startups ou projetos ainda em busca de encontrar o ponto de equilíbrio, essa dificuldade pode ser, sim, uma causa válida”, finaliza Barros.
Para Torrente, as empresas também dependem do investimento. “Você vai investir dinheiro em projetos de tecnologia que podem dar lucro daqui alguns anos? Ou aplicar esse dinheiro em títulos de renda fixa, dando lucro já no próximo ano? O investidor gosta de tecnologia, mas ele precisa de dinheiro; portanto, procura mais o que dá mais garantia de entrega”, conclui.
Nessa retração, diz o CEO, os investidores tiram dinheiro, sai o capital de investimento em pessoas e equipamentos, resultando em demissão.