10/03/2023 - 17:46
Segundo os anúncios de balanços e resultados sobre o 4º trimestre do último ano, Centauro, Via Varejo, Arezzo e outras varejistas brasileiras amargaram prejuízos no fim de 2022. A Magazine Luiza (MGLU3) registrou prejuízo líquido de R$35,9 milhões; Via (VIIA3) teve queda de R$163 milhões; a loja esportiva Centauro chegou a R$140 milhões, além de acumular dívida de mais R$715 milhões.
Qual será o destino dessas empresas, que tiveram resultados negativos inclusive no período de maior comércio no país, com Natal e Ano Novo?
+ Endividamento e escândalos: o que acontece com o varejo brasileiro?
“A Copa do Mundo no fim do ano, logo depois da Black Friday, interferiu [nas vendas], antecipando o movimento do Natal. Em termos macroeconômicos, a inflação elevada, o endividamento das famílias e os juros muito elevados dificultam o consumo da classe média e de menor poder aquisitivo”, explica Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec RJ.
A queda das vendas se dá acentuadamente por essa questão macro, onde os brasileiros viram também o crédito mais escasso. “O patamar de endividamento alto, com quase 60 milhões de pessoas com nome comprometido, somado a eventos do fim do ano, como a Copa do Mundo, desviaram também esse momento de consumo”, acrescenta Wilson Victorio Rodrigues, Diretor da FAC-SP. Ele também alerta que as varejistas passaram a recompor a margem de lucro diante da inflação, resultando em aumento de preço dos produtos.
Possível crise
Conforme analisado anteriormente pela Istoé Dinheiro, as varejistas passaram por queda de investimento de seus papéis, principalmente as de moda, como a Westing, C&A, Via, Renner, Magalu e Arezzo, que somam prejuízos na Bolsa, com ações despencando nos últimos 12 meses.
“Existe sim um risco de escalonamento da crise no varejo. Essa crise advém de dois fatores: juros da economia elevados, que desestimulam a demanda e encarecem o crédito, combinadas com a crise da Americanas SA. Esta afeta a percepção de risco sistêmico do varejo que, por consequência, acaba encarecendo ainda mais o crédito”, avalia Rafael Zuanazzi, sócio e advogado da Russell Bedford Brasil.
Apesar dos índices inflacionários estarem demonstrando retração, existe risco de aumento preço, segundo Zuanazzi. O especialista explica que as empresas não estão conseguindo contornar estas dificuldades de acesso de crédito mais barato (resultado da crise da Americanas) e o governo mantendo a taxa Selic elevada, tem a tendência de que ocorra um aumento do custo destas empresas e, consequentemente, aumento o valor dos bens vendidos.
“Chama atenção que as varejistas que comercializam produtos discricionários (bens de consumo que são considerados eventuais, como vestuário, por exemplo) tendem a enfrentar ainda maior dificuldade. Ações de empresas com maior endividamento, expostas ao segmento de menor renda e que realizam vendas utilizando produtos de crédito devem encontrar ainda mais desafios”, defende Gustavo Moreira, coordenador dos MBAs em Finanças do Ibmec RJ.
Para ele, os preços não vão subir neste momento. “Ainda não há razão para esperar preços mais caros (causados pela crise). Eventuais reajustes de preços estarão mais relacionados ao repasse de maior custo de matéria prima maior. O câmbio impacta em especial os eletrônicos e vestuários (importados)”, finaliza.