Além de Carlos Wizard Martins, não se conhece outro exemplo de empresário que se identificou tanto com o negócio que criou, que mudou de nome para incorporá-lo à sua pessoa. Como já é sabido, ?Wizard? é a marca de uma de suas redes de idiomas, adotada como sobrenome há mais de 20 anos e inspirado no filme ?O Mágico de Oz? (The Wonderful Wizard of Oz, no original em inglês).

 

Poucos arriscariam, por isso, afirmar que Martins seria capaz de vender totalmente o Grupo Multi, que dava sinais de se preparar para abrir o capital no próximo ano. Nesta terça-feira 3, a gigante Pearson, dona do Financial Times e da Penguin Random House, anunciou a compra do Multi por R$ 1,7 bilhão, mais R$ 250 milhões em dívidas. É a maior transação já feita no setor brasileiro de ensino.

 

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Carlos Wizard Martins: “não tínhamos capital nem conhecimento para incorporar novas tecnologias”

 

Em entrevista à DINHEIRO, o empresário explica por que aceitou a ideia. ?Vendi para perpetuar o negócio que fundei?, afirmou. Leia os principais trechos.

 

DINHEIRO – Esperava-se o IPO do Grupo Multi em 2014. Em vez disso, o sr. decidiu vendê-lo. Por quê?

CARLOS WIZARD MARTINS – Por três fatores. O primeiro é o meu compromisso de perpetuar o negócio que fundei. A educação está em uma fase de profunda transformação, com a adoção de plataformas tecnológicas em sala de aula. Eu criei meu negócio com base em duas competências: desenvolver um sistema de franquias e elaborar material didático próprio, mas impresso. Quando pesquisei essa tendência mundial da tecnologia em educação, percebi que precisava de um parceiro forte para continuar. Não tínhamos nem o domínio dessas tecnologias, nem o capital necessário para nos desenvolvermos. Foi quando ocorreu a aproximação com a Pearson.

 

O segundo fator é que eu sempre costumo dizer que o sucesso acontece quando o preparo encontra a oportunidade. Começamos a preparar o grupo para o IPO em 2012, com vistas a 2013, mas o mercado mudou. Então, havia uma interrogação sobre como estaria o mercado em 2014. Ele estaria aberto a IPOs? Foi quando recebemos essa proposta bastante atrativa e percebemos que era melhor vender o controle.

 

DINHEIRO – E o terceiro fator?

MARTINS – O terceiro é o seguinte: qualquer banco poderia assinar um cheque e nos comprar, mas isso não perpetuaria o nosso legado, que é transformar o Brasil em uma grande nação bilíngüe. Não gostaria de abrir mão disso.

 

DINHEIRO – Quando começaram as conversas com a Pearson?

MARTINS – Elas começaram em junho. Eu iniciei este ano decidido a encontrar um parceiro. Viajei para vários lugares. Fui para o Vale do Silício, para outras cidades dos Estados Unidos, até que encontramos a Pearson. Ao contrário do que se disse, a aproximação e a negociação ocorreram sem nenhuma intermediação de bancos [há dois meses, circulou a informação de que Grupo Multi teria contratado o BTG Pactual para encontrar um comprador].

 

DINHEIRO – Ontem, os principais executivos da Pearson afirmaram que a conclusão da venda está condicionada a uma mudança regulatória. Do que se trata?

MARTINS – Eles não foram muito precisos na resposta. A transação, na verdade, precisa passar pelo Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]. O prazo estimado é de 60 dias para que eles aprovem a transação.

 

DINHEIRO – Foi difícil tomar a decisão de vender seu grupo?

MARTINS – Todo empreendedor é um sonhador. Eu descobri, na prática, que, quando realizamos um sonho, temos sonhos ainda maiores para buscar. É por isso que batizei um dos meus livros de ?Sonhos não têm limites?. Eu vou tirar um ano sabático em 2014, mas sei que novos projetos vão surgir.

 

DINHEIRO – Na área de educação?

MARTINS – Eu construí minha carreira sobre duas vertentes: franquias e educação. Eu fui um dos fundadores da Associação Brasileira de Franchising, por exemplo. Então, é provável que qualquer projeto venha dessas áreas.

 

DINHEIRO – Amigos contam que o sr. costuma dizer que, se não ensinasse inglês, seria professor de chinês. Há espaço para projetos assim?

MARTINS – (risos) Neste exato momento, estou em casa, com a minha professora de chinês. O que posso dizer é que o setor de educação é muito atraente no Brasil, não apenas na área de idiomas, mas também no de ensino superior. Sempre somos procurados para investir em universidades, não como Grupo Multi, mas como família mesmo. O mercado universitário é muito forte, e tem gerado grandes negócios.

 

DINHEIRO – O sr. já disse que se inspirou no Mágico de Oz para batizar a Wizard, e que o filme é um exemplo de superação. Que inspiração ele lhe traz, neste momento?

MARTINS – Como você sabe, cada personagem tinha um sonho para realizar. Quando encontraram o Mágico de Oz, descobriram que a força de realização estava dentro de cada um. Para se ter uma visão empreendedora, é preciso acreditar muito em si mesmo. Muitos dos meus franqueados começaram com uma ?mão-na-frente-e-outra-atrás? e hoje progrediram. Quando comecei a dar aulas de inglês, nunca imaginei que eu participaria da maior transação do setor de ensino no País [a venda do Grupo Multi para a Pearson por R$ 1,7 bilhão, mais R$ 250 milhões em dívidas, é a maior já feita aqui]. Nós somos muito maiores do que pensamos.

 

DINHEIRO – O sr. não enxerga uma bolha no mercado de idiomas? Após a Copa e as Olimpíadas, a demanda não vai arrefecer?

MARTINS – Os eventos esportivos serão mais sentidos pelos setores de turismo, transporte e alimentação. Mas, nos demais setores, temos as demandas geradas por uma economia cada vez mais aberta. As empresas que negociam com parceiros do exterior precisam de gente que fala inglês. Além disso, temos 40 milhões de brasileiros que estão com mais dinheiro no bolso e farão ou já fizeram sua primeira viagem ao Exterior. Ao chegar lá e perceberem que não falam inglês, voltarão  ou já voltaram com muita vontade de aprender.

 

DINHEIRO – Alguns franqueados já se queixaram do Grupo Multi, e a mudança de controle pode descontentá-los. O que o sr. lhes disse?

MARTINS – Preparei um material para todos, em que afirmo que os contratos serão 100% mantidos. Não haverá mudanças drásticas. Os franqueados terão acesso a mais serviços e mais produtos trazidos pela Pearson. Eles poderão escolher entre as opções que lhes serão mais vantajosas.

 

DINHEIRO – O sr. afirma que ajudou a formar mais de 100 milionários nos últimos três anos. Como avalia este momento do País?

MARTINS – O Brasil vive um momento de prosperidade e estabilidade. Este é uma boa hora para empreender.

 

DINHEIRO – O sr. pretende escrever novos livros e dar palestras?

MARTINS – As palestras e os livros são algumas paixões que tenho. É uma forma também de dar um retorno ao País. Ainda não tenho ideia para um novo livro, mas ela vai surgir.