02/10/2014 - 15:45
Neste domingo 5, cerca de 142 milhões de brasileiros irão às urnas para escolher quem ocupará o Palácio do Planalto nos próximos quatro anos. Três candidatos chegam à reta final em uma disputa ferrenha para passar para o segundo turno: a presidenta Dilma Rousseff, que concorre à reeleição pelo PT; a ex-senadora acreana Marina Silva, candidata pelo PSB; e o senador mineiro Aécio Neves, do PSDB. Com as intenções de votos dos três oscilando como uma montanha-russa, poucos arriscam prever o resultado da apuração. “Esta é a eleição mais disputada desde 1989”, afirma o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
Em 1989, quando o País realizou o primeiro pleito presidencial pós-redemocratização, a cadeira foi cobiçada por 25 pretendentes no primeiro turno, mas a briga concentrou-se em quatro candidatos. Com Fernando Collor de Mello, lançado pelo PRN, captando cerca de 30% das intenções de voto, a disputa para passar para o segundo turno ficou embolada entre Luís Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola (PDT), e Mário Covas (PSDB). Na apuração, Collor obteve 28,52% dos votos. Lula bateu Brizola por uma diferença de menos de um ponto percentual: 16,08% a 15,45%.
Cabeça a cabeça
Assim como naquele ano, as eleições de 2014 chegam às vésperas do primeiro turno sem uma definição clara de quem enfrentará Dilma, líder nas pesquisas, na etapa seguinte. De um lado, Marina vê sua candidatura perder votos a cada rodada de pesquisas. Entre 17 e 18 de setembro, segundo o Datafolha, a candidata do PSB detinha 30% de preferência. Na última sondagem, de 29 e 30 de setembro, havia caído para 25%. Já Aécio inverteu a tendência de queda e passou de 17% para 20%, no mesmo período. A dúvida, segundo os especialistas, é se isso será suficiente para inverter as posições até domingo.
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Tamanha indefinição não foi vista nas outras eleições presidenciais. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi eleito no primeiro turno, com 54% dos votos, tendo como maior trunfo o Plano Real, que estabilizou a economia. Em 1998, FHC foi reeleito, também em primeiro turno, com 53% de apoio. Em 2002, Lula e o tucano José Serra passaram para o segundo turno, mas em condições mais previsíveis. Em 2006, Lula e Geraldo Alckmin, do PSDB, polarizaram a disputa desde o começo, não deixando chances para um terceiro concorrente. Mesmo em 2010, com Marina chegando a 19% dos votos na etapa inicial e chamando a atenção, o confronto girou em torno de dois candidatos claros: Dilma e Serra.
Fla-Flu político
Mas a semelhança em 2014 e 1989 para por aí. Os outros fatores que tornam esta a “eleição das eleições” não ocorreram há 25 anos. O principal deles é que o País, hoje, vive um clima de Fla-Flu político. “Esta eleição é quase um plebiscito”, afirma o professor Moisés da Silva Marques, coordenador de pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). “Vota-se, hoje, contra ou a favor do governo”, diz, acrescentando que o País está dividido entre quem apoia e quem se opõe ao PT.
Nos outros embates, o que estava em jogo era um modelo de País, segundo Marques: um mais alinhado ao mercado e outro que reivindicava a inclusão social. Mas, quando Lula optou pela ortodoxia econômica entre seu primeiro mandato e a metade do segundo, as diferenças ideológicas em torno da economia ruíram. A estabilidade econômica e as políticas de inclusão foram incorporadas como valores dos brasileiros e, por isso, são relativamente intocáveis pelos candidatos, o que embaralha as posições.
Dilma procura assegurar que nunca mexeu, nem mexerá, nos fundamentos da economia. Marina e Aécio se esforçam para garantir que não mudarão os programas sociais, como o Bolsa Família. Para o eleitor, a situação fica ainda mais confusa, quando olha para as alianças estaduais dos presidenciáveis. Candidatos a governador em diversos estados se atacam mortalmente, enquanto apoiam o mesmo nome para o Planalto.
Jabuticaba eleitoral
Em outra área sensível, a da ética na política, a briga está acirrada. Após 12 anos no poder, o PT foi chamuscado pelo mensalão e pelas denúncias de corrupção na Petrobras. O partido contra-ataca com o mensalão mineiro e as investigações do cartel de trens no governo paulista. “Os candidatos estão mais preocupados em mostrar os malfeitos uns dos outros nesta disputa”, afirma a cientista política Christiane Romeo, do Ibmec/RJ. Tudo isso leva a uma pasteurização de Dilma, Marina e Aécio, o que embola ainda mais o confronto.
Outro ingrediente que apimenta a briga são os indecisos. Há dois fenômenos que os cientistas políticos conhecem há bastante tempo, e que podem selar a eleição. O primeiro é o que leva uma parcela dos eleitores a votar no candidato que lidera o pleito, simplesmente para “não perderem o voto”. Isso tende a beneficiar Dilma, que aparece com cerca de 40% das intenções. Essa tendência, porém, é amenizada por outra: o do voto útil antipetista, que pode favorecer o candidato de oposição com maiores chances de chegar ao segundo turno. Por isso, Marina e Aécio se esforçam, nestes últimos dias, para convencer os indecisos de que são os mais viáveis.
A conversão de indecisos, seja para o líder, seja para o voto útil, também nutre uma jabuticaba eleitoral: muitos brasileiros só se decidem em cima da hora. “Isso é uma peculiaridade do País”, afirma o cientista político italiano Adriano Gianturco, do Ibmec/MG. Com um cenário de tanta incerteza, o que quer que saia das urnas, neste domingo, será lembrado, debatido, apoiado ou renegado por muito tempo – mas, com certeza, não deixará ninguém indiferente.